Governo deve incentivar o amor pelas pessoas com deficiência.
Cuidar de pessoas com necessidades especiais é a missão da irmã Elizabeth Palamattathil, responsável pelo Lar São Luís Gonzaga, que está sob a alçada da Cáritas de Macau. A’O CLARIM, a religiosa das Irmãs da Caridade de Santa Ana fala sem preconceitos dos utentes, das suas famílias e do estado da assistência social no território. E deixa a porta aberta para o estabelecimento de contactos, tendo em vista a empregabilidade de algumas dessas pessoas incapacitadas nas empresas privadas ou nos serviços públicos.
O CLARIM – Quais são os principais desafios que enfrentam no Lar São Luís Gonzaga?
IRMÃ ELIZABETH PALAMATTATHIL – O nosso trabalho está vocacionado para pessoas com doenças mentais, deficiência física e retardamento mental. Temos quase duzentos utentes do sexo masculino, entre os vinte e os 102 anos de idade. Por vezes enfrentamos dificuldades para que estejam em harmonia uns com os outros. As pessoas com deficiência física são completamente normais, dado que apenas estão condicionadas fisicamente. São muito sensíveis quando alguém as insulta ou magoa. Precisamos de cuidar delas de um modo especial para as proteger dos doentes mentais. Este é um dos desafios: separá-los e dar-lhes protecção.
CL – Que relação os utentes têm com os seus familiares? Recebem visitas com alguma regularidade?
I.E.P – Muitos deles não têm familiares. Alguns até têm, especialmente os que foram recentemente admitidos. Quase vinte por cento têm familiares que vêm visitá-los.
CL – O lar é afectado por escassez de recursos?
I.E.P – Não temos dificuldades em atender às necessidades básicas.
CL – Tendo em conta a sua experiência de vinte anos a trabalhar em Macau, considera que o ramo da assistência social está bem implementado no território? Ou será que ainda pode melhorar?
I.E.P – Noto haver uma grande diferença entre hoje e o tempo em que aqui cheguei pela primeira vez. Ao contrário de anteriormente, a nossa equipa tem agora assistentes sociais. São bastante prestáveis e o nosso trabalho tornou-se mais eficiente. Por outro lado, o Governo de Macau tem demonstrado grande preocupação para connosco, como por exemplo ao nível dos subsídios ou de qualquer apoio financeiro. No entanto, pode ajudar mais as famílias, educando-as e dando-lhes mais conhecimento – ensinando-as como cuidar das crianças que nasceram condicionadas, para que não as coloquem de lado [ao cuidado das instituições]. As famílias são importantes para a vida dessas pessoas. Temos assistentes sociais para cuidar delas, mas é um facto que sentem a falta dos familiares.
CL – Referiu que o Lar de São Luís Gonzaga tem quase duzentos utentes. Existem outras instituições locais que cuidam de muitas mais pessoas com necessidades especiais. Está surpreenda com esta realidade?
I.E.P – Às vezes fico surpreendida por Macau ser um território pequeno e haver tantos doentes mentais. Até pergunto: porquê tantos?
CL – Falar abertamente destas pessoas ainda é assunto tabu em Macau…
I.E.P – Diria que sobre isso não sei. Tudo o que posso dizer é que há quem procure servi-las. Temos quase cem funcionários. Cinco são assistentes sociais, quase quarenta fazem parte dos cuidados pessoais e três são fisioterapeutas. Os assistentes sociais e os fisioterapeutas têm os seus assistentes. Temos funcionários de Macau, da China continental e das Filipinas.
CL – Que actividades ocupacionais organizam para os utentes?
I.E.P – Abrimos uma panificadora há cerca de seis anos. Confeccionam o pequeno-almoço, bolos e pão para consumo do lar. Temos encomendas de fora. Basta telefonar para fazerem as encomendas. E confeccionam também bolos consoante a época do ano, tais como os bolos lunares. Há ainda as ocupações ocasionais, como lavar carros e limpar o jardim. Temos o “Projecto Arco-íris”, em que os nossos utentes participam em actividades fora do lar, desde desfiles de moda até eventos de dança. Organizamos ainda viagens à China continental, a Taiwan, ao Japão e à Coreia do Sul, entre outros países. Ficam maravilhados por contactar com outras pessoas e ver coisas novas.
CL – Já foram contactados por alguma companhia privada ou por entidades públicas com o intuito de empregarem alguns dos vossos utentes?
I.E.P – Não. As actividades que mencionei são organizada pelas nossas assistentes sociais.
CL – Está receptiva a receber algum desses responsável, caso haja uma aproximação nesse sentido?
I.E.P – Sim, se isso acontecer. Podemos tentar fazer o nosso melhor, se as empresas privadas ou as entidades públicas manifestarem esse interesse. Temos as portas abertas para recebê-las.
Seguir o exemplo de Cristo (Caixa)
A irmã Elizabeth Palamattathil é natural do Estado de Kerala, na Índia. Em 1980 juntou-se às Irmãs da Caridade de Santa Ana, porque «desde tenra idade gostava de servir e seguir Cristo». Encontra-se em Macau há vinte anos, divididos por dois períodos de dez anos. Inicialmente foi enviada para cuidar do Asilo de Betânia. Regressou ao território após sete anos de ausência, desta vez para assumir a direcção do Lar São Luís Gonzaga. «Sinto-me feliz por servir com humanidade. É um sentimento satisfatório quando penso em Jesus a tomar conta das pessoas que contavam pouco para a sociedade. Em Macau as pessoas têm a tendência para se preocupar com dinheiro ou com casinos, mas sinto-me muito feliz por cuidar das pessoas com necessidades especiais», vincou.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA