IRMÃ MARGARET WONG, LÍDER DAS OBLATAS DA EUCARISTIA PARA OS VULNERÁVEIS
A Eucaristia é o centro, a vida da Igreja Católica e a irmã Margaret Wong quer devolver à Adoração Eucarística o papel central que Cristo consagrado sempre teve. Pelo caminho, a religiosa, que lidera as Oblatas da Eucaristia para os Vulneráveis – um movimento eucarístico criado pelo cardeal D. Joseph Zen, em Hong Kong –, propõe-se, através da oração e da entrega incondicional a Deus, reconstituir os espiritualmente incompletos, os espiritualmente feridos. A irmã Margaret Wong em entrevista.
O CLARIM– Um dos aspectos mais remarcáveis das Oblatas da Eucaristia para os Vulneráveis é a atenção que colocam na espiritualidade e o trabalho feito entre os espiritualmente frágeis. Qual diria que é a principal missão das Oblatas?
IRMÃ MARGARET WONG– Na verdade, a nossa principal missão é a de propor às pessoas que dediquem a vida a responder ao amor de Deus com o seu amor, ou seja, a colocarem a Eucaristia no centro da sua existência. Jesus não quer apenas que proclamemos o Evangelho. Também deseja que confiemos nele e quer que aceitemos a dádiva da sua salvação. Ele ama-nos, mas também aspira pelo nosso amor. Já na altura do Velho Testamento, Deus delegou no povo de Israel o mandamento do amor. Rebeliões aconteceram sempre que as pessoas deixaram de amar a Deus. No Evangelho de São João (21:15-17), quando Jesus apareceu aos discípulos junto ao Mar de Tiberíades e depois de com eles ter tomado o pequeno-almoço, Jesus perguntou a Pedro por três vezes: «Amas-me?». A única coisa que Jesus nos pede é que o amemos. Tudo o que fazemos deve ser motivado pelo amor. Se assim não for, os nossos gestos são feitos em vão. Se agimos por vaidade corremos o risco de incorrer no pecado. A nossa missão é, por isso, convocar as pessoas a amarem e a imitarem Jesus na Eucaristia: um grande amor sacrifical escondido sob um véu de silêncio profundo.
CL– O movimento foi fundado pelo cardeal D. Joseph Zen e tem a sua principal base em Hong Kong. Que tipo de trabalho desenvolvem em Macau?
I.M.W.– Não desenvolvemos trabalho nenhum. Na verdade, não desenvolvemos trabalho nenhum em nenhum lado. Organizamos retiros, palestras, seminários, procissões eucarísticas, exposições e missas de cura e de libertação de uma forma muito regular, mas o propósito de todas estas iniciativas é um: adorar Jesus na Eucaristia. No Evangelho de São João (6:28-29) as pessoas perguntam a Jesus depois de ele ter feito o milagre da multiplicação do pão e do peixe «o que devemos fazer para realizar a obra de Deus?». E Jesus responde-lhes: «esta é a obra de Deus, o acreditarem Nele através de quem Ele vos enviou». Em que acreditamos? Acreditamos que é por causa do grande amor que Jesus tem por nós que ele está presente da Eucaristia. Ele está presente na Eucaristia para estar connosco até ao fim dos tempos. É desolador ver a Eucaristia tão abandonada. Como obras da criação, devemos adorar o nosso Deus, tal como ele nos foi anunciado por Cristo. E devemos estar gratos a Jesus. A nossa principal missão é amar o Senhor Jesus da Eucaristia e fazer com que seja amado por todos.
CL– Como é que o movimento das Oblatas reflecte as circunstâncias e as condições locais? Não há muitos movimentos eucarísticos com origem nesta zona do globo…
I.M.W.– Exacto. As pessoas ainda estão muito concentradas nos trabalhos do corpo e nas questões terrenas. E foi por isso que em 2018 impulsionámos um novo movimento: o Movimento de Adoração Eucarística Perpétua. Conta, graças a Deus, com o apoio do bispo D. Stephen Lee e desde a Festa de Nossa Senhora de Fátima desse ano que temos vindo a organizar seminários, retiros, palestras, cerimónias de adoração e missas de libertação em Macau. Todas estas iniciativas têm como foco a Eucaristia e exigem da parte das pessoas uma forte convicção e um grande sentido de compromisso. Infelizmente, o movimento está a crescer de forma muito lenta, o que acaba por não ser surpreendente. São João Paulo II advogou a Adoração Eucarística Perpétua durante o seu pontificado, mas foram poucos os que responderam ao apelo e menos ainda os que responderam de forma atempada. Tudo depende da nossa resposta ao amor de Deus. Não podemos ser forçados a amar. Só quem ama verdadeiramente a Deus está disposto a sacrificar o seu tempo, a sua energia e o seu empenho em prol do Deus da Eucaristia.
CL– O trabalho que desenvolvem em prol dos necessitados, dos doentes e dos deficientes – mas também dos que estão espiritualmente incompletos – tem sido remarcável. O quão desafiante é este esforço, tendo em conta que vivemos em sociedades cada vez mais materialísticas?
I.M.W.– Não é difícil ficar satisfeito quando se trabalha em prol dos necessitados, dos doentes e dos deficientes. É muito frequente ser-se elogiado e reconhecido. Mas trabalhar com os que estão espiritualmente incompletos, com os espiritualmente feridos é um grande desafio. Como referia, neste nosso mundo materialista e autocêntrico, é muito difícil que as pessoas se entreguem por completo, coloquem Jesus no centro das suas vidas e o adorem, escondido que está na Eucaristia. E ainda assim as pessoas hoje em dia estão mais combalidas e estilhaçadas do que alguma vez estiveram ao longo da história humana: famílias estilhaçadas, relações estilhaçadas, visões do mundo cada vez mais extremas, práticas marcadamente satânicas. Precisamos de nos curar através da Eucaristia, agora mais do que nunca.
CL– Quantas Oblatas há em Hong Kong? E em Macau? E há quanto tempo estão as Oblatas da Eucaristia presentes no nosso território?
I.M.W.– No total, temos trinta membros em Hong Kong. Entre eles estão 18 chineses e seis filipinos. Desde 2005 que fazemos visitas frequentes a Macau para iniciativas de Adoração Eucarística nas escolas. A 1 de Abril de 2008 abrimos o Centro de Formação São Pio, que está aberto 24 horas para que o Cristo da Eucaristia possa ser adorado e o espaço acolhe iniciativas frequentes sobre a Eucaristia. De forma a providenciar o serviço de Adoração Perpétua, uma das nossas Oblatas mudou-se de Hong Kong para Macau. Quando o Centro de Formação São Pio encerrou, a 23 de Setembro de 2015, a adoração foi transferida para a igreja de São Lourenço e essa Oblata continuou a prestar o serviço de Adoração Perpétua até ter regressado a Hong Kong em 2018. Outra Oblata – nascida em Taiwan – deixou Macau em Janeiro e regressou a Taiwan para promover a Adoração Eucarística na sua diocese de origem. Isto para lhe dizer que, neste momento, não há membros das Oblatas da Eucaristia para os Vulneráveis em Macau. Acredito, no entanto, que Macau não precisa de nós, porque o Movimento Perpétuo de Adoração Eucarística está muito bem organizado por pessoas em Macau que lhe deram continuidade.
Marco Carvalho