«Temos que ter outra visão»
O 3º Encontro da Comunidade Juvenil Macaense é visto por Duarte Alves como uma forma de dar a conhecer às novas gerações da diáspora as suas raízes. A’O CLARIM, o presidente da Associação dos Jovens Macaenses referiu que a comunidade macaense não está em risco, mas precisa olhar para o futuro com outra visão.O CLARIM – A Associação dos Jovens Macaenses realiza, entre amanhã [quarta-feira] e a próxima terça-feira, o 3º Encontro da Comunidade Juvenil Macaense, que reúne no território representantes das doze Casas de Macau espalhadas pelo mundo. Quais os objectivos?
DUARTE ALVES – É um evento bastante importante para a nossa comunidade e para os jovens, porque não só nos aproxima da comunidade macaense da diáspora, como dá a oportunidade a quem está em Macau para trabalhar [por um ideal] e ficarmos a conhecer–nos melhor uns ao outros. Serve também para reflectirmos e discutirmos sobre a nossa comunidade, e sobre o que fazer para dar continuidade a este trabalho de modo a estarmos mais envolvidos no desenvolvimento e no dia-a-dia da RAEM.
CL – E para quem vem de fora?
D.A. – Passa por dar-lhes a conhecer Macau. A maioria é da segunda ou terceira geração de famílias macaenses a viver há muitos anos noutros países, e que sempre ouviu falar de Macau, mas do seu lado antigo. Mesmo assim, [são pessoas que] sentem uma grande ligação a Macau e consideram que as suas raízes também estão nesta terra. Por isso, aproveitam esta oportunidade para conhecer não só a cidade, como também a nossa comunidade jovem, partilhando o mesmo objectivo de manter viva esta ligação entre Macau e a comunidade macaense da diáspora.
CL – Que diferenças nota entre os jovens e os mais velhos da comunidade local?
D.A. – No meu ponto de vista, ao longo da História de Macau a comunidade macaense tem vindo a desenvolver-se, bem como o território. A geração anterior à nossa esteve muito activa no período da transição. A comunidade jovem, hoje em dia, está envolvida e inserida na RAEM. Os objectivos e a maneira de trabalhar têm que ser diferentes. Podemos olhar para o passado como referência, aprender e conhecer melhor o que foi feito, mas também temos que olhar para o futuro com outra visão para realmente podermos dar o nosso contributo para o desenvolvimento da RAEM.
CL – Que importância atribui às Casas de Macau?
D.A. – São bastante importantes para internacionalizar, ou dinamizar, o nome de Macau pelo mundo fora. Macau é bastante conhecida, em especial pela área económica e pelo Jogo. Macau não é só o Jogo. A nossa função é mostrar a estes amigos que vêm de fora a nossa comunidade e o que Macau tem para além do Jogo.
CL – Em determinados nichos da diáspora fala-se o Cantonense e o Inglês, mas não o Português. É preocupante?
D.A. – É engraçado porque todos os membros da comunidade macaense da diáspora também mantêm uma ligação à cultura portuguesa. Infelizmente, o Português pode não ser a língua mais falada, mas sente-se que é de grande importância para caracterizar a nossa comunidade. Podem não falar muito o Português, mas têm sempre o objectivo de conseguir dizer umas palavrinhas ou de pelo menos tentar entender o que se diz na língua portuguesa. Acredito também que, para quem vive nos Estados Unidos ou na Austrália, seja difícil manter vivo o Português, mas penso que o importante é saber que faz parte da história da comunidade.
CL – Nos países de acolhimento, por via de uma forte aculturação, a terceira geração é algo desprendida da comunidade macaense. É também preocupante?
D.A. – São eventos como este que fazem os jovens estar mais envolvidos e ter uma forte ligação. Se não for assim será muito difícil manter esta relação entre os jovens da diáspora e os que estão em Macau.
CL – Terá Macau capacidade para ser o núcleo que congrega as comunidades espalhadas pela diáspora? Será que cada Casa de Macau faz esse papel? Ou haverá aqui um complemento?
D.A. – Acredito mais no complemento. Obviamente, Macau é o berço da comunidade. É um trabalho que já tem vindo a ser feito pelo Conselho das Comunidades Macaenses. O sentimento que temos em comum com a diáspora é o de pertença a Macau e das raízes estarem no território. É o trabalho entre o Conselho das Comunidade Macaenses e as comunidades da diáspora que vem reforçar a relação entre Macau e as Casas de Macau no sentido de sabermos como todos juntos conseguimos dar um contributo à comunidade e à RAEM.
CL – Além dos portugueses, também os macaenses têm cada vez menos preponderância na política em Macau. Actualmente, há apenas dois deputados macaenses, um dos quais o seu pai. Sente que a comunidade está em perigo?
D.A. – Não. Não sinto que esteja em perigo. Há realmente um fosso entre gerações, talvez um vazio um bocado grande, mas também temos vários jovens muito activos na sociedade que devagarinho vão entrando na vida política. Claro que cada um entra na área em que está mais confortável e acha que pode dar o seu contributo. Acredito que o contributo não está em perigo.
CL – Sente-se com capacidade para liderar a comunidade no futuro?
D.A. – Um líder tem que ser escolhido pela comunidade. Não é algo que uma pessoa se auto-intitule. Estou concentrado em trabalhar e dar o meu contributo para a comunidade. Se no futuro a comunidade vir que posso ajudar de outra maneira, e eu sentir que sou capaz de concretizar esses objectivos, estarei então disponível para ajudar em tudo a comunidade e também a RAEM.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA