DIÁCONO IAN RIO VICENTE M. DACAYANAN, CMF

DIÁCONO IAN RIO VICENTE M. DACAYANAN, CMF, EM ENTREVISTA A’O CLARIM, PARTILHA A SUA HISTÓRIA VOCACIONAL

Deus chama-nos e cabe-nos responder-Lhe

Vocação significa ser-se chamado por Deus, para ser e fazer. Para alguns, este é o chamamento específico para o Ministério. Para outros, pode significar servir a Deus por meio do discipulado fiel numa comunidade missionária religiosa, servindo a Igreja. A vocação para se fazer parte de uma congregação religiosa missionária na Igreja Católica é um chamamento interno e pessoal de Deus, que é recebido e discernido. Já ser claretiano é uma forma concreta de ser homem, cristão, religioso e apóstolo. É reviver em comunidade a preocupação espiritual e fundamental de Claret, de servir e edificar a Igreja com o ministério da Palavra, anunciando o Reino de Deus. Toda a vida é assim configurada por este carisma oferecido e partilhado em comunidade (cf. MCH 132). O reverendo Ian Rio Vicente M. Dacayanan CMF, claretiano filipino, foi recentemente ordenado diácono pelo bispo D. Stephen Lee. Com O CLARIMpartilhou a sua jornada vocacional e pensamentos missionários, tendo desafiado os jovens de hoje a estarem abertos ao chamamento do espírito para explorar o modo de tornar a própria vida receptiva a si mesmos e aos outros.

O CLARIM– Reverendo Ian, o facto de ser filipino e ser ordenado claretiano em Macau é resultado de uma história interessante. Pode partilhar com os leitores a sua história vocacional?

REV. IAN VICENTE DACAYANAN –Iniciei a minha jornada de formação na vida religiosa com os Missionários Claretianos em 1990, depois de concluir o Ensino Médio. Com a conclusão do meu estágio missionário, em 1999, decidi deixar o programa do Seminário.

CL– Porque deixou o Seminário?

R.I.V.D. –Saí porque poucos anos depois da minha amada mãe ter morrido, o meu pai perdeu o emprego, pois a empresa onde trabalhava estava em processo de encerramento. O meu pai perguntou-me então se eu poderia ajudá-lo a sustentar a família e as necessidades educacionais das minhas irmãs. Sendo o mais velho da família, senti a obrigação de ajudá-los. Mas, olhando para trás, essa não foi a questão principal, demorei para aceitar que também estava em profunda crise quando ocorreu este problema familiar. Perdi o meu sentido de direcção e saí do Seminário. Estava no 9.º ano do Seminário. Ao sair da instituição, imediatamente prometi a mim mesmo que iria – literalmente – afastar-me de qualquer trabalho e actividades relacionadas com a Igreja. Pior ainda foi ter decidido não participar na Missa, nem rezar. Foi como que mergulhar no mundo que mal se vislumbrava à minha frente, sem saber nadar. Com a ajuda de alguns amigos, candidatei-me e fui contratado para o meu primeiro emprego, numa empresa de telecomunicações. Eu gostava de lá trabalhar, mas também sofria com as horas excessivas de trabalho, o que colocava a minha saúde em risco. Após um ano saí da empresa e fiquei três meses desempregado, sem saber o que fazer, pois quase todos os dias me candidatava a um novo emprego e ninguém me ligava a fim me contratar. Até que um amigo meu, ex-colega do Seminário que saiu [do Seminário] nessa época, estava também de saída do cargo que ocupava nas Publicações Claretianas de Manila. Sugeriu então que me candidatasse ao cargo e o padre Alberto Rossa, CMF, aceitou de bom grado que trabalhasse na sua empresa. Trabalhei em diferentes departamentos das publicações – cerca de catorze anos, no total; seis anos em Manila e oito anos em Macau. Diria que ao longo desses anos andei a explorar o “mundo selvagem, selvagem”. Consegui ajudar financeiramente a minha família com o que ganhava e pude comprar o que precisava e o que queria. Até coloquei a hipótese de casar.

CL– Como ponderou voltar a ingressar na congregação? O quê ou quem o ajudou?

R.I.V.D. –Nos diferentes momentos de que vos falei, pedia lentamente a Deus que me mostrasse o caminho para a minha vida, já que me sentia tão vazio. Mesmo tendo tudo na vida, sentia que faltava alguma peça. Eu queria encontrar aquela “chave” que permitisse tornar a minha vida novamente completa. De facto, há coisas maiores que o dinheiro não pode comprar. Depois de muito explorar, finalmente encontrei o que procurava: a chave para mim estava na vida religiosa. Foi então, em 2014, depois de muito discernir, que finalmente decidi – uma vez mais – juntar-me à mesma Congregação para a nossa Missão na China e para o resto do mundo, como missionários sem fronteiras. Fiz a primeira profissão na Congregação a 4 de Outubro de 2016, aqui em Macau. Posteriormente, fui enviado para as Filipinas, onde prossegui a minha formação missionária religiosa. Estudei Teologia na Cidade de Quezon e actualmente estou a concluir uma especialização em Estudos Bíblicos, na Adamson University, em Manila. Em retrospectiva, hoje percebo que foi uma decisão difícil renunciar ao meu primeiro amor pela vida religiosa e missionária no estágio inicial da minha formação, mas na verdade foi uma bênção disfarçada. Considero que Deus tem o seu próprio modo de escrever direito por linhas tortas, como diria Santa Teresa de Ávila. E acredito firmemente que Deus continuará a escrever esse caminho na nossa vida, como se se tratasse de uma montanha-russa – então há que aproveitar o passeio!

CL– A sua ordenação foi uma celebração maravilhosa, um momento inspirador para os jovens de hoje. O que pode dizer aos nossos jovens?

R.I.V.D. –Com a juventude de hoje quero partilhar duas coisas que o Padre Eduardo sabe melhor do que eu. Primeiro, aproveitem a vossa vida com um propósito. Adoro partilhar a palavra japonesa “Ikigai” (significa, literalmente, “uma razão de ser”). Enquanto viajam nas vossas vidas, explorem também a razão pela qual nasceram aqui na Terra. Pois estou convencido de que cada um de nós foi criado por Deus com um propósito. Assim, encontrem aquele caminho próprio que Deus quer que percorram. Por favor, tentem encontrar um significado em tudo o que fazem. Em segundo lugar, Santo Antonio María Claret, o nosso Padre Fundador, sempre disse aos seus missionários para se apaixonarem por Jesus e realizarem grandes feitos. Do mesmo modo que amam as suas famílias, vós, jovens, devem ter tempo para amar Jesus. Tal fará diferença nas vossas vidas e nas vidas das outras pessoas. Aproveitem a vida com sentido, ela tem muitas coisas boas e outras não tão boas. Descubram a diferença entre elas com a ajuda de Deus.

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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