Ajuda aos mais necessitados
O Quirguistão terá em breve a sua primeira catedral católica e ela será erguida bem no centro da capital Bishkek. A empreitada deverá estar concluída dentro de três anos e será um marco significativo para a comunidade católica daquele país da Ásia Central. A até agora única igreja católica de Bishkek encontra-se localizada numa área extremamente periférica e (até porque estamos a falar de um país de maioria muçulmana) há quem nem saiba sequer da sua existência. A sua construção deve-se a uma licença concedida em 1969 pelas autoridades soviéticas a alguns católicos alemães, uma comunidade formada por gente deportada para aquela região durante a Segunda Guerra Mundial, os designados “alemães do Volga”.
«Os espaços que temos agora são muito limitados e não nos permitem realizar todas as actividades que gostaríamos. Graças às novas instalações contíguas à catedral, que teremos à disposição, poderemos propor uma série de iniciativas culturais, encontros de oração e leitura da Bíblia, dirigidos a diferentes faixas etárias», disse à Agência FIDES Damian Wojciechowski, SJ, irmão jesuíta, ecónomo da Administração Apostólica do Quirguistão.
O projecto de construção da catedral católica faz parte do notável desenvolvimento urbano que caracterizou a capital Bishkek nos últimos anos. Valerij Dil, assessor do Presidente da República do Quirguistão e também da Administração Apostólica, referiu o «significado internacional» na apresentação do projecto e lembrou os «princípios democráticos e a liberdade de professar a sua própria fé» bem expressos na Constituição do País.
Não obstante, de tempos a tempos, alguns episódios demonstram que essa matéria, a da liberdade religiosa, permanece ainda uma área cinzenta. No passado dia 26, durante a celebração eucarística, alguns polícias e membros do Comité Estadual de Segurança Nacional entraram na igreja católica de Talas (paróquia de São Nicolau) e multaram uma freira eslovaca, acusando-a de “estar a divulgar o catolicismo romano” entre os residentes de Talas sem autorização da Comissão Estatal para os Assuntos Religiosos. A decisão de multar a irmã deve-se certamente à ignorância do pessoal envolvido na operação, já que a religiosa não violou as normas vigentes no Quirguistão. Com efeito, ela estava apenas a ler do ambão um dos textos previstos no Calendário Litúrgico, ou seja, não estava a pregar nem a presidir à celebração da Eucaristia, acções que um cidadão estrangeiro só pode realizar se tiver uma certidão especial emitida pelos órgãos governamentais competentes.
Durante a conferência de Imprensa para a apresentação do projecto da nova catedral, o administrador apostólico, padre Anthony James Corcoran, disse que o Papa Francisco abençoou a primeira pedra da futura catedral enquanto esteve em Nur Sultan, durante a sua recente viagem apostólica ao Cazaquistão. Naquela ocasião o Pontífice recordou a todos os presentes a importância da missão confiada à presença católica na sociedade quirguize: ajudar os numerosos necessitados. O administrador apostólico destacou também que os católicos do Quirguistão compartilham com os seus concidadãos muçulmanos o objectivo de «tornar melhor o mundo ao nosso redor».
Nos oito anos em que a paróquia de Bishkek esteve sujeita à jurisdição da Administração Apostólica em Karaganda (Cazaquistão), em 1999 João Paulo II erigiu uma missão sui iurisno Quirguistão, e Bento XVI instituiu a Administração Apostólica em 2006, que ainda está em funcionamento. Recentemente chegaram também a Bishkek algumas Irmãs Missionárias da Caridade, a ordem fundada por Madre Teresa de Calcutá, que abrirá seu próprio convento na capital.
Congregados em nove paróquias, vivem actualmente no Quirguistão vários milhares de católicos, dos quais cerca de quinhentos frequentam assiduamente as três principais igrejas existentes no País. A saber, em Bishkek, Jalal-Abad e Talas. Esta última, reconsagrada em 2019, foi a primeira a ser reaberta após o fim da União Soviética como igreja propriamente dita. Muitos católicos locais vivem longe das paróquias e reúnem-se para rezar em casas particulares, recebendo visitas periódicas dos missionários estrangeiros (da Eslovénia, Vietname, Estados Unidos, Cazaquistão e Polónia) que trabalham no Quirguistão.
Num país onde a pobreza e a corrupção são endémicos, a Igreja Católica sempre demonstrou a sua disponibilidade para trabalhar ao serviço de toda a população. As suas actividades no âmbito social nunca pararam, nem mesmo durante a guerra civil de 2010 ou durante a recente pandemia, e actualmente, entre uma panóplia de actividades no País, gerem um abrigo para mães solteiras e outro para crianças e jovens deficientes. «Anunciar o Evangelho significa também ajudar as novas gerações a orientar a sua vida para a construção de uma sociedade mais justa e acolhedora para todos», concluiu o padre Damian Wojciechowski.
Joaquim Magalhães de Castro