Unidos e movidos pelo Espírito Santo
No próximo Domingo, dia 9 de Junho, a Igreja celebra a Solenidade do Pentecostes. A Igreja instituída por Jesus de Nazaré e iniciada pelos Seus apóstolos, reunidos em oração no cenáculo, com Maria Santíssima, esperavam a promessa do Senhor depois da Sua ascensão aos céus, fortalecidos pela Sua presença depois do acontecimento que transformou a fé de todos: a Ressurreição do Senhor. Antes da Ascensão aos Céus, Jesus disse aos Apóstolos: «Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu. Entretanto, permanecei na cidade até serdes revestidos com a força do Alto» (Lucas 24:49).
Falar do Espírito Santo é ir ao encontro das Sagradas Escrituras, onde Ele está presente em todos os livros. Ele o autor, a inspiração divina, como dizemos no Credo: “Ele que falou pelos profetas”. O primeiro livro da Bíblia, chamado de Génesis é, curiosamente, do Pentateuco, nome grego que significa “cinco rolos” ou livros, considerados como a Lei de Moisés. Génesis é também um termo grego e significa “origem”, “nascimento”, e logo na abertura deste livro vemos a acção criadora do Espírito Santo: «No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas» (Génesis 1:1-2).
Interessante notarmos a familiaridade das palavras “Pentecostes” e “Pentateuco”. Pentecostes refere-se aos cinquenta dias depois da Ressurreição do Senhor e Pentateuco aos cinco livros da Lei de Moisés. Com Moisés, Deus formou uma aliança com os homens, o início da História da Salvação. E com a vinda do Senhor, pelos Apóstolos e pela Sua Igreja, Jesus estabelece uma Nova Aliança, também ela movida e guiada pelo Espírito Santo.
Jesus, ainda antes da Sua paixão, anunciava a vinda do Espírito Santo e da sua importância para a Igreja: «É melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei» (João 16:7).
No seguimento da narrativa bíblica, vemos no Livro dos Actos dos Apóstolos o cumprimento da promessa do Senhor: «Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem» (Actos dos Apóstolos 2:1-4).
Pouco depois de serem ungidos pelo Espírito Santo, (São) Pedro levantou-se e dirigiu-se a todos que estranharam o sucedido, dizendo estar profetizado pelo profeta Joel e que nos últimos dias o Senhor derramaria o Seu Espírito sobre toda a criatura (Actos dos Apóstolos 2:14-21).
Recordemos ainda as palavras proféticas de São João Baptista, que anunciou a todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo» (Lucas 3:16).
Jesus prometeu que o Espírito Santo seria nosso auxiliador e nos instruiria ao longo da História da Igreja: «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa» (João 16:12-13).
Em várias ocasiões vemos claramente nas Escrituras que os Apóstolos se deixaram guiar pelo Espírito Santo. Um desses casos interessantes – e que hoje faz todo o sentido, conhecendo nós a expansão do Cristianismo – é o momento em que os Apóstolos se preparam para iniciar o projecto de evangelização e anúncio da Boa-Nova a todos os Povos. Inclinados para se moverem para Oriente, são impedidos pelo Espírito Santo que os dirige para Ocidente, para ali lançarem as primeiras sementes da Igreja de Cristo e a Sua palavra. «Paulo e Silas atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o Espírito Santo impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia. Chegando à fronteira da Mísia, tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. Atravessaram, então, a Mísia e desceram para Tróade. Ora, durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé diante dele e fazia-lhe este pedido: “Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!”. Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa-Nova» (Actos dos Apóstolos 16:6-10).
Assim vemos como é fundamental a presença do Espírito Santo em cada membro do Corpo místico de Cristo, em cada cristão, para que movidos pelo Espírito cada membro cumpra a vontade de Deus.
Na oração eucarística da Missa de Pentecostes, a Igreja reza: “Para levar à plenitude os mistérios pascais, derramastes, hoje, o Espírito Santo prometido, em favor de vossos filhos e filhas. Desde o nascimento da Igreja, é ele quem dá a todos os povos o conhecimento do verdadeiro Deus; e une, numa só fé, a diversidade das raças e línguas”.
Na carta de São Paulo aos Efésios, é-nos oferecida a seguinte “ilustração”: «Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só baptismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos» (Efésios 4:4-6).
Quanto mais cada cristão for “repleto” do Espírito Santo, tanto mais a Igreja o será, e tanto mais ela será edificada. No livro dos Actos dos Apóstolos, é feita a narrativa das primeiras conversões pela acção do Espírito Santo: «Ouvindo estas palavras, ficaram emocionados até ao fundo do coração e perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: “Que havemos de fazer, irmãos?”». Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um o baptismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo» (Actos dos Apóstolos 2:37-38).
Deus Pai quer dar ao Homem o Seu Espírito, porque sem Ele não conseguiremos fazer a Sua vontade, nem seremos verdadeiramente cristãos. O próprio Senhor di-lo explicitamente: «Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!» (Lucas 11:13).
Pela Sagrada Escritura, o Espírito Santo ilumina a Igreja: «De facto, toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa» (2 Timótio 3:16-17).
Com o “Poder do Alto” os Apóstolos enfrentaram o mundo pagão para levá-lo a Cristo. São Paulo disse: «Pois o nosso Evangelho não se apresentou a vós apenas como uma simples palavra, mas também com poder e com muito êxito pela acção do Espírito Santo; vós sabeis como estivemos entre vós para vosso bem» (1Tessalonicenses 1:5). «Pois quem despreza estes preceitos não despreza um homem, mas o próprio Deus, que vos dá o seu Espírito Santo» (1Tessalonicenses 4:8).
Oração ao Espírito Santo
“Ó Espírito Santo, Amor do Pai e do Filho. Inspirai-me sempre o que devo pensar, o que devo dizer, como o devo dizer; o que devo calar, o que devo escrever como devo agir, o que devo fazer para obter a vossa glória, o bem das pessoas e da minha própria santificação! Amém!”
Miguel Augusto (*)
(*) com Felipe Aquino