Verão sem festa

Verão sem festa

Com o aproximar dos meses de veraneio, em Portugal todos pensam, claro, nas férias! Não houvesse nada mais importante… as férias é que não podem faltar!(?)

Até o Primeiro-Ministro já fez questão de anunciar que vai mesmo haver Verão, com praia e tudo o resto. Mas, lá está, com regras e limitações…

Basta passar pelas redes sociais e ver que está em movimento uma extensa campanha de promoção de Portugal como destino turístico, tentando convencer os estrangeiros a não cancelarem as suas férias, porque agora, mais do que nunca, Portugal precisa dos turistas. Esperemos é que os que vierem deixem o vírus em suas casas…

E mesmo aqui, dentro de portas, se vai promovendo o turismo “cá dentro” e o comércio local, pois assim se pode ajudar as pequenas e micro empresas a ultrapassarem esta crise. Um “slogan” que cheira ao nostálgico “Vá para fora, cá dentro!” de há uns anos e que agora volta a estar em voga.

As praias, local de eleição dos veraneantes, vão contar com um conjunto de regras que devem ser anunciadas em breve. A coordenadora do Projecto Bandeira Azul, Catarina Gonçalves, dizia há dias, à rádio TSF, que um manual anti-Covid para as praias seria conhecido no início de Maio. «Estamos a planear ter este manual pronto no início de Maio. Como qualquer situação que se esteja a planear temos sempre de ter em conta que pode mudar de um dia para o outro. Temos de fazer um planeamento a curto prazo e não a longo prazo. Estamos a basear-nos na lei, que diz que a época balnear começa a 1 de Junho e termina a 30 de Setembro». No momento em que escrevo esta crónica já são conhecidas algumas das medidas, mas não se sabe muito bem como vão ser implementadas, um pouco à semelhança do muito que acontece por este país. Por isso, ninguém anda alarmado… ainda…

Parece que o uso de máscara vai ser obrigatório à entrada e saída das praias, assim como nas casas de banho e nos bares de apoio. Os estacionamentos também vão ter regras, sendo previsto terem mais espaço livre para evitar a aglomeração de pessoas. São pois medidas que visam reduzir o número de pessoas na praia e nas suas zonas circundantes.

Se tomarmos o exemplo da Praia de Mira, que tem um areal bastante extenso (são mais de três quilómetros, certamente), levantam-se dúvidas quanto à forma como se irá controlar o acesso do público. Sabendo-se de antemão que em toda a sua extensão do areal há acessos, será humanamente impossível controlar todos os que entram e saem. Se no caso das praias do Algarve, que se encontram na sua maioria na base das falésias, o facto do acesso de entrada e saída ser muitas vezes apenas um só – logo, mais fácil de controlar –, em praias com areais de perder de vista (como são a maioria em Portugal) monitorizar quem entra e quem sai vai ser um desafio hercúleo, pelo que tenho muitas dúvidas que tal seja possível.

Dado que a nossa actividade não está directamente ligada às praias, mas sim relacionada com o bom tempo que faz no Verão, começa a tornar-se um pouco complicado em termos de planos futuros. Tudo o que sejam festivais, festas e outros eventos que promovam a concentração de pessoas está a ser cancelado. Quase todos os dias temos conhecimento de mais um evento, a Norte ou a Sul, que foi cancelado, ainda que a sua data de realização estivesse marcada para Agosto. Já perdemos esperança de trabalhar em eventos de grande envergadura este ano, o que de forma exponencial vai afectar a nossa capacidade financeira e, consequentemente, outros projectos que estavam na calha. É que sem investimento nada pode andar para a frente, conforme havíamos previsto.

Curiosamente, o único evento de grande envergadura em que ainda estamos inscritos, o AfroNation, organizado pela Horizon – uma empresa do Reino Unido –, na Praia da Rocha, agendado para finais de Julho, ainda não foi cancelado, e os organizadores já nos fizeram saber que planeiam levar a iniciativa avante. Aliás, têm dois eventos planeados para o mesmo local em duas semanas seguidas. No ano passado levaram a Portimão mais de oitenta mil pessoas, sendo precisamente este número a que vêm recorrendo para justificar o seu não cancelamento. Não é difícil perceber que um influxo de oitenta mil consumidores, especialmente num período de crise como o actual, poderá muito bem ser o balão de oxigénio para muitos dos pequenos negócios daquela zona do País. Se o Verão, como época balnear, parece estar arruinado, já o evento (ou eventos) da Horizon poderá ajudar a economia nestes tempos conturbados.

Há também um outro evento em que estamos interessados. Trata-se da Expofacic, em Cantanhede, a maior feira profissional de Portugal, que se realiza em Agosto. Até ao momento a organização não se pronunciou, pelo que se deverá realizar. Se tal acontecer, para nós o Verão poderá não ser um completo desastre.

Entretanto, à semelhança de Macau, as aulas presenciais aí estão de novo, se bem que apenas para os últimos anos do Ensino Secundário. Fica de fora o ensino obrigatório, como medida de precaução, continuando o ensino à distância de que vos falei na edição anterior – uma espécie de telescola moderna. No entanto, esta é cada vez mais contestada nas redes sociais, pois a carga horária para as crianças é enorme.

No caso da Maria, entre as aulas das nove da manhã até às dez horas e 10 minutos na televisão, a aula em teleconferência com o seu professor e colegas do turno da manhã até à hora de almoço, e os trabalhos que diariamente o professor envia, mais as tarefas que os instrutores da telescola sugerem na aula da manhã, a criança pouco tempo tem para respirar. Isto já para não falar dos pais que passam o tempo a acompanhar as crianças nas aulas da televisão, na teleconferência, nos trabalhos durante a tarde, etc., sobrando umas pequenas pausas para as lides domésticas, o teletrabalho, entre outras tarefas que cabem aos adultos executar. Claro está que tempo para descansar ou lazer é mentira! Escreve-o pela experiência que estou a passar com a Maria, que frequenta o Primeiro Ano (a antiga Primeira Classe), e dificilmente imagino o que não se passará em casa dos alunos de anos mais avançados. A verdade é que não têm tempo para ser o que elas são: CRIANÇAS! Não têm tempo para brincar, o que tem levado muitos pais a deixarem de acompanhar o currículo, dando uma pausa de dois meses aos filhos. «Para o ano há mais escola e têm tempo para recuperar o tempo perdido», defendem muitos pais e encarregados de educação.

João Santos Gomes

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *