Vela içada, roupa lavada e o Natal à porta

Se na semana passada falava da chuva e da sua utilidade para algumas tarefas a bordo que necessitam de água doce, como, por exemplo, lavar a roupa, esta semana nem uma gota caiu que desse para guardar. A água entretanto armazenada foi utilizada para lavar a roupa, tarefa que nos ocupou (a mim e à Maria) quase toda a semana. A roupa era muita e como o estendal não é muito grande, nem a capacidade da máquina de lavar é grande (dois baldes de vinte litros, que são centrifugados pela força manual), tivemos de reparti-la por vários dias, separando-a por cores, adulto, criança, etc. Uns dias serviram para a deixar de molho e outros para a lavar, enxaguar e secar.

Tempos houve em que pendurávamos a roupa na borda do veleiro, mas como muitas vezes demorava a secar decidimos montar um sistema, com um pequeno cordel, entre os estais do mastro. O nosso mastro tem seis estais centrais (mais um de popa e outro de proa), pelo que fazendo passar uma pequena corda por eles, de forma a perfazer um quadrado, permite criar cerca de dez metros de estendal ao sabor do vento e do Sol, sem que a roupa esteja apoiada em nada, o que facilita a secagem (cerca de uma hora, se se tratar de peças mais leves).

Depois de lavada a roupa com cem litros de água – em termos de consumo num veleiro é uma enormidade – decidi lavar o vasilhame que já estava a precisar de ser limpo, pois cria sempre alguma sujidade no seu interior. Para lavar e desinfectar os tanques recorremos a lixívia e água. Deixamos os jerricans de “molho” de um dia para o outro, agitando-os frequentemente para que toda a sujidade saia e fiquem bem limpos. Depois é só enxaguar com água limpa e deixar secar para que o odor a cloro desapareça e fiquem prontos para armazenar mais água, seja ela recolhida da chuva ou da torneira. Em breve, como nota adicional, irei fazer o mesmo aos dois tanques laterais do veleiro. Cada um tem capacidade para duzentos litros, mas não são utilizados há vários meses – estão vazios e com alguma sujidade. Assim que chover também os irei limpar com água e lixívia. Temos instalado um sistema de filtragem de água bem eficiente no veleiro, mas uma limpeza de tempos a tempos é essencial. Ultimamente temos utilizado apenas o tanque central (60 litros) para uso diário, uma vez que a água passa pelo dessalinizador, sendo produzida à medida que vamos necessitando. São cerca de vinte a quarenta litros de água por dia, o que é suficiente para beber, cozinhar, tomar banho e lavar a louça.

A tarefa de lavar a roupa foi possível porque, finalmente, o problema da rosca do encaixe que partiu no enrolador da vela foi resolvido e fui capaz de colocar todo o sistema no lugar. Para tal tive de subir ao mastro (durante a última chuvada!), com a ajuda de uns amigos de um veleiro norueguês, para colocar o encaixe do estai no devido lugar. Para mal dos meus pecados, recusei a ajuda que me ofereceram na tarefa de colocar o pino que liga o cabo de aço ao convés do veleiro. Não imaginava, claro está, a aventura que me esperava.

O enrolador comporta um sistema de ajuste do estai, que se encontra dentro do tambor do enrolador, sendo que este não sai por estar um parafuso partido no seu interior. Por isso, todo o estai (com enrolador e tambor incluído) teve de ser colocado no lugar sob tensão, o que me obrigou a folgar todos os estais e a inclinar o mastro ligeiramente para a proa. Passei uma tarde inteira para resolver o problema. Ao ver tudo no lugar, com a vela enrolada, senti que me tinha saído um peso dos ombros. Assim que tiver oportunidade, antes da NaE chegar no Domingo, irei içar a âncora e experimentar a vela para ver se o encaixe aguenta a pressão. Marquei-o com um pouco de tinta plástica para ver se a rosca move com a vela aberta. Caso não mova, é bom sinal e significa que está tudo em ordem e pronto para as próximas etapas. Se mexer… bom, será melhor pensar em mudar o enrolador porque este vai directamente para o lixo.

Estou a fazer figas para que tudo corra bem porque, sinceramente, nesta altura não vinha nada a calhar uma despesa extra. É que o Pai Natal este ano está pobrezinho.

Iremos ficar em Martinica até depois do Natal. Não faz sentido atravessarmos as Antilhas Holandesas, arriscando-nos a passar a quadra natalícia em alto mar ou em local desconhecido. Como inicialmente planeado, o próximo destino será Curacao, para retomarmos a viagem rumo ao Pacífico. Para já, há bacalhau a bordo e também haverá bolo-rei.

A terminar, desejo a todos os leitores um excelente Natal e boas entradas em 2016. Obrigado pelo apoio e carinho que nos vão transmitindo e pelo modo como receberam a NaE em Macau. A todos, bem-haja!

JOÃO SANTOS GOMES

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