A vez da electrónica e das telecomunicações.
As relações da Universidade de Aveiro (UA) com a China remontam aos anos oitenta (1987-1988) do século passado, quando o então Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro (actualmente dominado Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica) acolheu vários investigadores da China, dando assim início a uma colaboração que nunca mais parou de crescer – «laços entre a Universidade de Aveiro e organizações de ensino superior chinesas que ainda hoje se podem verificar e que têm contribuído para uma aproximação em crescendo que continua a ser valorizada no presente e que reúne condições para um significativo aprofundamento no futuro», nas palavras do director do Mestrado de Estudos Chineses, o professor Carlos Rodrigues.
Este curso, pioneiro em Portugal, criado em 1998 e inserido no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, já deu origem a mais de cinquenta mestres, que contribuem agora, junto do tecido empresarial de Portugal, para um melhor entendimento da realidade da China. Um conhecimento aprofundado da cultura e maneira de ser chinesa que, na opinião de Carlos Rodrigues, «é essencial para as empresas portuguesas terem sucesso no mercado chinês».
A’O CLARIM, o actual director do curso de mestrado explicou um pouco da história por detrás deste sucesso da UA, salientando que nada teria acontecido se as relações com a China não tivessem contado com o Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro, assim como com o importante contributo do professor Lopes Baptista, pois, segundo Carlos Rodrigues, foi pela mão deste seu ex-colega que se iniciou a cooperação com a China. O pioneirismo de Lopes Baptista englobou-se no esforço de internacionalização da Universidade de Aveiro, logo após a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE). Para o actual director do Mestrado de Estudos Chineses, «neste movimento foi fundamental ter-se identificado o potencial de cooperação internacional inerente ao processo de transformação social e económica em curso na China na altura».
Neste contexto, a área dos materiais surgiu como um dos domínios privilegiados e a Universidade de Zhejiang, designadamente o seu Departamento de Ciências e Engenharia dos Materiais, como o parceiro ideal para a instituição de ensino de Aveiro.
Os contactos de Lopes Baptista com Yi Pan, prestigiado académico daquela universidade chinesa, resultaram na ida para Aveiro de Wenjian Weng, que leccionou no Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro. Este académico foi responsável por vários cursos de graduação e pós-graduação, sendo a cooperação com Zhejiang formalizada em 1992, com a assinatura de um protocolo que previa a troca de professores entre as duas instituições para participarem em vários projectos.
A dinâmica da UA tem dado inúmeros frutos, sendo o estreitar das relações com instituições de ensino e de pesquisa na China um bom exemplo. Hoje colabora com o Shanghai Institute of Technical Physics, a Eastern China Normal University e o Shanghai Solar Cell R&D Center, entre outras entidades. As iniciativas estendem-se também a investigadores portugueses, como prova o elevado número de publicações em co-autoria com cientistas de universidades chinesas (mais de 350) e a elaboração de propostas conjuntas de investigação, como a coordenada pelo professor Andrei Kholkine, que aguarda financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia e assenta numa base de cooperação com o Shanghai Institute of Ceramics of the Academy of Science.
No entanto, a colaboração iniciada nos anos oitenta não se limitou a uma área científica. Os frutos do sucesso dos contactos iniciais deram origem a parcerias em outros campos, como o ambiente e as telecomunicações, passando pelas ciências da terra. Na lista das entidades envolvidas em projectos comuns estão a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Macau, a Northeast Electric Power Group Corporation of China e, no âmbito do Joint European Master in Environmental Studies – Cities & Sustainability, a Beijing Normal University e a China Beijing University of Technology.
No campo da electrónica e das telecomunicações decorrem contactos com um grupo de investigação da Beijing University of Post and Telecommunications, que tem resultado em vários avanços na área das telecomunicações por fibra óptica. Na área das geociências, o professor Luís Menezes trabalha há vários anos com académicos chineses. Desta colaboração já resultou um conjunto de publicações, designadamente com o grupo coordenado por Song Haibin, do Instituto Geofísico da Academia de Ciências de Pequim, e com Shuhong Wang, do South China Sea Institute of Oceanology, Chinese Academy of Sciences (Guangzhou).
No âmbito da cooperação científica com a China nas actividades ligadas ao mar, inserida na iniciativa Campus do Mar (envolve as universidades de Aveiro, Vigo, Porto, Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, e Cabo Verde), uma delegação da Ocean University of China visitou Aveiro e manifestou a vontade de cimentar parcerias com a UA e o Campus do Mar.
Além de atrair anualmente muitos interessados no Mestrado de Estudos Chineses, todos estes projectos deram origem, em 1998, ao Centro de Estudos Asiáticos que, como o nome indica, tem uma abrangência mais alargada em termos da Ásia. Segundo Carlos Rodrigues, que também é coordenador do Centro, os objectivos da sua criação passam pela «promoção de actividades que contribuam para a aquisição e disseminação de conhecimento sobre a Ásia numa diversidade de domínios – da História e Cultura à Geografia e Economia – bem como fomentar a interacção entre a Universidade de Aveiro e as instituições de ensino superior dos países asiáticos».
JOÃO SANTOS GOMES