Um solitário apaixonado pela Ásia

Esta semana conhecemos um velejador solitário americano que já deu a volta ao mundo por uma vez e que está agora a preparar-se para voltar à Ásia, de onde, segundo as suas palavras, «nunca deveria ter saído». E onde, depois de uma tarde a beber cerveja e a conversar, confessou querer passar o resto dos seus dias. Talvez na Malásia ou Tailândia, onde viveu alguns anos durante a sua primeira volta ao mundo.

Jeff, do veleiro Selah, um belíssimo “double ender”, é um verdadeiro apaixonado pela Ásia, mas confesso cidadão do mundo, apesar de ter nascido no Novo México (Estados Unidos) e nunca ter tido qualquer experiência de vela. Um dia, quando falava no rádio de onda curta – testando um equipamento de antenas que tinha acabado de instalar para uma das grandes empresas de telecomunicações norte-americanas numa montanha do seu Estado – com alguém a bordo de um barco algures no Pacífico, decidiu comprar um veleiro, deixar o emprego e fazer-se ao mar. Até hoje e sem nunca se ter arrependido da vida que deixou para trás. E lembra-se ainda que nessa conversa a pessoa no barco lhe salientava a importância de saber Português, caso pensasse em velejar à volta do mundo.

Ainda hoje não fala Português, nem pretende aprender porque diz ser uma das línguas mais difíceis de dominar devido aos nossos ditongos e outros detalhes que «fazem a língua torcer»… Mas reconhece que falar Português ajudaria imenso porque seria mais fácil entender Espanhol e facilitaria aprender também Francês, algo que para os falantes de Inglês é muito complicado.

Foi interessante o modo como o conhecemos. Tínhamos acabado de chegar ao cais onde atracamos o bote sempre que vamos à marina, para irmos almoçar com a senhora suíça que passou alguns dias connosco. Foi o seu último dia em St. Lucia (ver foto). Ele estava a deixar o cais, pelo que esperámos que tirasse o seu bote para que pudéssemos prender o nosso, tendo a NaE explicado isso mesmo em Inglês. Ele, em resposta, cumprimentou-a em Tailandês. Surpresos, perguntámos como sabia que ela era tailandesa e ele, com um sorriso rasgado na cara de quem tinha saudades do antigo Sião, disse que tinha vivido lá os melhores anos da sua vida e que deduziu, pelo suave sotaque a falar Inglês, que só poderia ser tailandesa.

Como a conversa na doca tem sempre de ser curta devido ao constante vai-vem de botes, marcámos encontro para mais tarde num pequeno bar à beira-mar para nos conhecermos melhor e beber umas cervejas ao pôr-do-sol. Foi aí que ficámos a saber que já tinha dado a volta ao mundo e que tinha passado vários anos na Ásia e em África. Depois disso esteve connosco mais um par de vezes, inclusivamente no nosso veleiro. Aliás, numa visita trouxe-nos a melhor prenda que alguém nos podia dar. Uma colecção completa de manuais, mapas, etc., em formato digital, para todo o trajecto daqui até África. Algo que usou na sua primeira volta ao mundo e que continua a usar agora que está a tentar rumar ao Panamá para também atravessar o Pacífico rumo à Ásia no próximo ano. Ainda vai ficar por aqui mais umas semanas, como nós, pelo que, certamente, iremos ter a oportunidade de nos encontrarmos mais vezes.

Também esta semana tivemos a feliz notícia da confirmação dos primeiros amigos que nos vêm visitar. Um casal amigo, meus colegas de universidade, que vive no Porto e que virá, em breve, passar dez dias a bordo com a sua filha. Virão para Martinique, uma ilha francesa aqui mesmo ao lado de St. Lucia, e ficarão connosco a bordo para a sua primeira experiência de vela. Todos nós no Dee estamos ansiosos para que cheguem, visto gostarmos de ter amigos connosco e partilharmos esta nossa maravilhosa experiência.

João Santos Gomes

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