Momentos que me conduziram a Deus
No Hospital Conde de São Januário
No dia 10 de Novembro de 2021, senti-me muito mal em casa e desmaiei. Fui levado imediatamente ao Hospital Conde de São Januário. No dia 15, fiquei internado e, no dia 17, fui submetido a uma intervenção cirúrgica grave. No dia 3 de Dezembro, tive de iniciar uma sessão de quimioterapia. Passei dias dolorosos lá, mas tinha a possibilidade de ser visitado pela minha família e por muitos amigos. Isto fez-me muito bem. Às vezes, até esquecia o mal-estar. De vez em quando, tinha a possibilidade de passar o fim-de-semana em casa, mas tinha de voltar para o hospital.
Como tudo se encaminhou para eu mudar a minha vida?
Alguém, enviado por Deus que reencontrei na minha dor, veio visitar-me ao hospital no dia 7 de Dezembro de 2021, por pedido instante de uma vizinha minha, católica muito fiel. Eu, que já tinha sentido no coração o desejo inexplicável de receber o Baptismo, quando me vi diante de uma “madre”, sem hesitar, ergui as minhas mãos, como quem reza e agradece, e disse: «Madre, Deus deu-me um presente muito grande. Eu podia não ter acordado. Eu podia não falar e Deus deu-me a fala e o movimento. Eu quero ser baptizado!».
Desde esse dia do mês de Dezembro de 2021, tive a sorte e a consolação de ter sido acompanhado regularmente, mesmo no hospital. Cada vez me sentia mais feliz e com a esperança indubitável de recuperar a minha saúde, apesar do estado debilitado em que me encontrava.
O tempo foi passando e os médicos acharam melhor que eu fosse transferido para um hospital em Cantão, na China, por não haver resposta total em Macau para o meu problema. Como era necessário consolidar o tratamento, fui então, enviado para o hospital de Cantão, no dia 8 de Março, onde tive de me submeter a mais tratamentos e a um transplante. Aí continuo, embora com algumas pausas que me permitem vir a Macau visitar e estar com a minha família, sem a qual ainda me seria muito mais difícil aguentar o que tenho sofrido. Ao mesmo tempo, aproveito a oportunidade para me enriquecer mais na formação cristã, pois, além de lucrar muito em todos os sentidos neste momento tão duro da minha vida, tenho-a como indispensável para a minha alma. E muito aspiro a receber os três Sacramentos de Iniciação: o Baptismo, que irá acontecer no dia 8 de Maio; a Eucaristia, que espero que seja no dia do meu casamento/Matrimónio católico; e a Confirmação. A partir desse momento, tenho a certeza de que Jesus e Maria me conduzirão a bom porto.
No meu primeiro intervalo em que vim a Macau, tive a alegria de fazer o meu catecumenato com a minha filha, no dia 10 de Abril, tendo de seguir, novamente, para a China, no dia 12 de Abril. O Padre Eduardo tem sido um grande missionário e muito compreensivo na minha dor, sempre que lhe revelo o desejo de ser filho de Deus, pelos Sacramentos que espero receber. Alguns sinais das minhas muitas dores: «Ainda estou no caminho longo da minha purificação, mas Deus está a dar-me muita Força» (17 de Abril de 2022).
Fui transferido para o hospital da China. Continuo a sofrer, mas tanta força e coragem que só me pode vir do meu Deus! Continuei internado e continuo… passei a Quaresma no hospital. Os meus piores dias foram os que passei lá, desde Março a Abril de 2022. Têm-me valido: a formação cristã que continuamente me é enviada e os tais intervalos “para respirar!”.
É tão duro sofrer sozinho, quando se está longe e, tantas vezes, sem o indispensável, na alimentação e mesmo para a higiene pessoal. Alguns dos meus desabafos com Deus:
«Tenho tido muitas dores de cabeça, quase a rebentar; os ossos doem muito; as tonturas não param, por causa da punção a que tive de me sujeitar. Muitas insónias também. Sinto preocupação com os meus filhos. Não os quero perder.
Santa Mãe, deixai-me dormir e ficai comigo a descansar.
Tantas dores, meu Deus, mas quero ser forte como um guerreiro e aguentar.
Agradeço o suporte de fraternidade que recebo e tenho confiança que a vitória vai ser a nossa.
Por tudo, graças a Deus! Sinto-O muito na minha vida e também sinto muito a mão protectora da Nossa Senhora.
Tensão alta. Não consigo dormir, mas obrigado, meu Deus, por tanto bem que tenho recebido durante a minha dolorosa, mas purificadora doença» (29 de Março de 2022).
Tantas dores, muito cansado, mas: «Tu, Senhor, me olhaste nos olhos e, a sorrir, pronunciaste o meu nome… Junto a Ti, buscarei outro mar». (15 de Abril de 2022).
Tive muitas provas da presença de Deus a trabalhar-me. Nunca mais fui indiferente à voz Dele! Tive-O e tenho-O muito presente nas minhas dores e ofereço-Lhe tudo o que tive e tenho de aguentar. Ele é muito, mas muito bom! Estou-Lhe muito grato.
Dia 27 de Abril de 2022 – vim outra vez a Macau
Durante este tempo que estive em Macau, acompanhado pelo meu anjo da guarda – a minha vizinha e, agora, minha madrinha de Baptismo-, fui um dia à missa da madrugada – 7:30, presidida pelo Padre Domingos Un.
Depois da missa, feliz, fui apresentar-me ao sacerdote e cumprimentá-lo. Manifestei-lhe a minha satisfação por ter assistido à Missa presidida por ele, e as minhas intenções. Pedi-lhe o favor de rezar por mim. Foi muito bom este encontro com o Padre Domingos Un.
Também, e embora débil fisicamente, quis continuar, sem desfalecer, a receber formação cristã, dada pela madre Maria Lúcia, franciscana, que sempre me acompanhou, desde aquele dia 7 de Dezembro de 2021, e a quem estou muito, muito grato. É que eu sentia que Deus me iria “premiar” com a recepção dos Sacramentos do Baptismo, da Eucaristia e do Matrimónio, o que se concretizou nos dias 8 e 21 de Maio, respectivamente.
Que emoção, quando o Padre Eduardo, no dia do meu Matrimónio, que culminou a minha esperança e a minha alegria, me deu, também, o Sacramento da Santa Unção!
Tudo aconteceu antes dos ulteriores tratamentos severos que irei enfrentar.
Fiquei tão fortalecido na minha alma, que Deus nunca mais me vai deixar e eu também nunca mais O quero deixar.
Continuo a acreditar, sem qualquer reticência, no amor que Deus me tem revelado e no qual continua a conduzir-me! Quero ser-Lhe fiel. Conto com a Sua graça. Depois de ter recebido os Sacramentos do Baptismo, da Sagrada Comunhão, a Eucaristia, do Matrimónio e da Santa Unção, sou um homem muito feliz!
O meu preito de gratidão pela vida que Deus me deu é colaborar com o amor que Ele me mostrou em deixar-me viver. Eu estive morto, mas, agora, sou um Alberto novo.
Os ulteriores tratamentos
Acredito que Jesus vai comigo e nunca me deixará sozinho a sofrer, porque eu confio tudo a Ele. Se eu tinha fé, agora, vou com muito mais. Sinto-me muito mais forte e confortado.
Com a Sua graça, ser-Lhe-ei fiel até à minha morte e Ele tomará conta de mim, dos meus queridos filhos e da minha família. Tenho, de facto, um anjo que me guia e me ajuda sempre. Por meio dele, muitos outros anjos me têm encorajado e feito crescer na fé: a minha querida esposa, os meus filhos, a irmã religiosa, a madre que me apareceu naquele dia 7 de Dezembro… os meus amigos a sério e são tantos!
Nunca imaginei ter tantos amigos! Obrigado, meu Deus!
Os tratamentos que recebi foram dolorosos, mas os que ainda irei receber, não serão menos. Porém, com a fé no Jesus que me encoraja, e com todo o pensamento positivo, acrescido das preces e encorajamentos constantes, recebidos dos meus colegas e amigos, consigo, afinal, vencer todos os obstáculos, esperando assim voltar à vida normal e sã.
Por este meio, desejo testemunhar:
Esta “caminhada ardil, dolosa” tem-me feito lembrar o sofrimento de Jesus.
O sofrimento humano é algo que sempre incomoda. Entender porque é que sofremos, ou qual o sentido da nossa dor precisa ser analisada a partir da vida e do sofrimento de Jesus Cristo, a melhor e mais completa resposta a todas as nossas perguntas. Temos a esperança viva que, na Glória, não existirá nenhuma lágrima. Deus não nos rejeita nem nos abandona quando sofremos.
Quando sofremos, Deus Pai está a tratar-nos da mesma maneira que tratou Jesus.
São Paulo diz-nos que o Senhor corrige todos os que ama e reconhece como filhos (cf. Heb., 7, 6).
Jesus está connosco e faz-se ainda mais presente no nosso sofrimento. «Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova» (Heb., 2, 17-18).
Na verdade, Cristo veio ao mundo para sofrer connosco e por nós. Ao assumir o sofrimento humano, Jesus une o nosso sofrimento ao seu. Ele venceu o sofrimento e a morte em nosso favor.
De facto, para sermos participantes da glória de Deus, temos que provar do seu sofrimento, participando no sofrimento de Cristo, e assim compartilharemos, com Ele, na glória da sua ressurreição.
Com a fé que sinto em mim, como o dom mais incrível que Deus me deu, e porque estou com Jesus e Ele está comigo, irei vencer toda esta terrível e dolorosa prova na minha vida. Peço-Lhe o favor de me acompanhar durante a estadia forçada no hospital, até que Ele me liberte. Encomendo-me, também, carinhosamente a Maria, a nossa queria Mãe, em cujo dia a Ela dedicado, com o título de Mãe da Igreja, recebi uma graça muito grande e que não vou esquecer: fiquei com muito mais certeza de que Ela me acompanha e protege em cada minuto da minha vida!
Para memória futura e para que os meus filhos possam, também, aprender de mim, eis que aqui deixo um pouco do muito que sofri e ainda tenho de sofrer, mas que, por graça só de Deus, tenho conseguido ultrapassar e continuarei a ultrapassar.
Louvado sejais, meu Deus!
Por último, não posso deixar de registar algumas palavras muito, muito especiais. Quero dirigi-las aos competentíssimos e dedicadíssimos Profissionais de Saúde do HCSJ, Dr. U Meng Seng, médico de Hematologia, Dr. Huang Hantian e Dr. Chan Ka Meng, médicos de Neurocirurgia, bem como å equipa médica do Guangzhou Overseas Chinese Hospital, Dr. Zeng Hui (chefe de equipa), Dr. Zhan Huien e Dra. Zheng Xue, que nunca me deixaram e, nos momentos mais críticos, lá estavam junto de mim. Para eles e para todos os enfermeiros e enfermeiras, pelo inqualificável profissionalismo, paciência e presença, o meu infinito Obrigado!
Com fraternidade, me subscrevo.
Alberto
Texto revisto por Irmã Maria Lúcia Fonseca