TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA – Ano C – 4 de Maio

TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA – Ano C – 4 de Maio

Pedro, tu amas-me? Apascenta as minhas ovelhas!

O LEGADO DO PAPA FRANCISCO NO CORAÇÃO DOS FIÉIS – A triste notícia do falecimento do Papa Francisco apanhou-me de surpresa no aeroporto de Banguecoque, na passada segunda-feira, quando viajava para a Índia. Embora soubesse que o Papa estava fraco, acreditava que havia ultrapassado a fase mais crítica e estava a caminho da recuperação.

O meu espanto foi crescendo à medida que visitava várias paróquias nas dioceses de Cochim e Alapuza. À entrada de cada igreja, encontrei grandes fotografias do Papa Francisco, acompanhadas de inscrições em Malaiala – para mim uma escrita indecifrável, mas certamente cheia de tristeza e afecto pelo falecido Pontífice.

O pároco da igreja de São Jorge, em Cochim, ao saber que eu era argentino convidou-me para uma missa em honra do Papa Francisco, seguida de uma reunião fúnebre. Os líderes da Paróquia fizeram elogios sinceros e pediram que partilhasse o meu testemunho. Fi-lo com profunda emoção, testemunhando também eu o amor que esta comunidade tinha pelo Papa e pela Igreja.

O CHAMAMENTO DE PEDRO À OBEDIÊNCIA E A PESCA MILAGROSA – O Papa Francisco sempre teve consciência da sua fragilidade e pediu humildemente as nossas orações. Do mesmo modo, o evangelista João apresenta-nos um Pedro transformado – perturbado pelos acontecimentos da morte e ressurreição de Cristo, agora menos dependente das suas próprias forças.

É Pedro, com a sua liderança natural e o papel que lhe foi confiado pelo Senhor, que toma a iniciativa de ir pescar. Homem de acção, inspira os outros através dos seus actos. Assim, seis outros discípulos seguem-no. O número sete é significativo no Evangelho de João, simbolizando a plenitude, representando toda a comunidade dos seguidores de Cristo.

Tal como em Lucas 5, 5, trabalharam durante toda a noite, mas não apanharam nada. Depois, uma figura misteriosa na praia com eles conversa, levando-os a reconhecer o seu fracasso. Ordena-lhes! E mesmo sem o reconhecer, Pedro obedece.

O resultado deste acto de obediência é surpreendente: a rede fica tão cheia de peixes que eles não conseguem puxá-la. É «o discípulo que Jesus amava» quem primeiro reconhece o Senhor e exclama para Pedro: «É o Senhor!».

Mas voltemos ao Papa Francisco. A capacidade de discernir a presença do Ressuscitado e a vontade provêm da sua intimidade com Cristo e da sua proximidade com os pobres, aqueles que o Senhor ama, os pequeninos de que fala Jesus (cf. Mateus 25, 40). Tal como Pedro, ele escutava o discípulo amado e até o consultava discretamente, como na Última Ceia (cf. João 13, 24). Esta atenção espiritual levou o Papa Francisco a ir contra a corrente, arriscando a incompreensão e a calúnia dentro e fora da Igreja. Talvez esta tenha sido a maior razão pela qual nunca regressou à sua terra natal, a Argentina.

O COMPROMISSO DE PEDRO E O TESTEMUNHO DEFINITIVO DO PAPA FRANCISCO – Pedro então “veste a sua túnica e mergulha no mar” – um gesto estranho de alegria irresistível ao perceber que o Senhor está presente. Ao mesmo tempo, significa reverência e disponibilidade para servir. Quando Cristo lhes dá instruções para trazerem alguns peixes, Pedro toma a dianteira, arrastando sozinho toda a pesca para terra – o que os sete discípulos se esforçaram por levantar, ele puxa sozinho!

Apesar do seu sofrimento, da sua dor pelas guerras e da rejeição dos mais vulneráveis, incluindo milhões de crianças por nascer perdidas para o aborto, Francisco foi o Papa da alegria, aquele que nos presenteou com a sua primeira Encíclica: “A Alegria do Evangelho”. Um homem fisicamente frágil, mas dotado de uma determinação e de uma força que só podem vir do Espírito Santo.

João diz-nos que a pesca continha 153 peixes, representando todos os povos, todas as raças, todas as nações. Assim, nós somos a Igreja Católica, como São Clemente, o quarto Papa, se referia à Igreja de Cristo no final do Século I.

A centralidade da Eucaristia no Evangelho de João é inconfundível. Assim, o Senhor convida-os: “Vinde tomar o pequeno-almoço”.

O diálogo que se segue entre Jesus e Simão Pedro revela o amor de Cristo pelas suas ovelhas. É por isso que Ele chama e forma os Doze para O seguirem. As suas últimas palavras são: «Segue-me».

O amor de Pedro por Cristo exprime-se através do serviço pastoral. «Pedro, filho de João, tu amas-me?». Jesus faz esta pergunta três vezes – tal como Pedro O tinha negado três vezes (cf. João 13, 38). Mas agora, Pedro entrega-se completamente no amor: «Senhor, tu sabes tudo». Através de lágrimas amargas, Pedro aprendeu que a sua força não vinha e si próprio, mas d’Aquele que o amou até ao fim.

“Quando eras jovem… quando envelheceres…”, João diz-nos que Jesus predisse como Pedro iria glorificar Deus através do seu martírio.

Nunca esquecerei aquele velhinho frágil, levado para a frente para dar a sua última saudação pascal – a sua voz suave e sofrida proclamando “Feliz Páscoa!”. A última bênção ao mundo, oferecida antes de regressar à Casa do Pai, sem medo de revelar a sua vulnerabilidade – um testemunho vivo de quem permaneceu fiel até ao fim.

Francisco, pastor com o cheiro do seu rebanho, reza por nós!

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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