Se há igualdade na Igreja, por que é hierarquizada?
Já vimos antes que da mesma forma que um ser vivo tem diferentes partes que contribuem para o funcionamento de todo o organismo, os membros da Igreja têm diferentes maneiras de exercer as funções sacerdotais, proféticas e reais.
Além disso, também já aprendemos que “na Igreja, por instituição divina, existem os ministros sagrados que receberam o sacramento da Ordem e formam a hierarquia da Igreja” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 178).
Reparem nestas duas características dos ministros sagrados:
1– Receberam um sacramento adicional: as Ordens Sagradas;
2– Formam a hierarquia da Igreja.
Por que Cristo instituiu uma hierarquia eclesiástica?
Eis o porquê: a Igreja é uma sociedade e todas as sociedades necessitam de uma autoridade que as dirijam para os seus objectivos. O Catecismo da Igreja Católica, no ponto 1897, refere-se à encíclica do Papa João XXIII “Pacem in Terris” (Paz na Terra), para explicar que “a sociedade humana não estará bem constituída nem será fecunda, se a ela não presidir uma autoridade legítima que salvaguarde as instituições e dedique o necessário trabalho e esforço ao bem comum”.
Obviamente, a Igreja tem uma vertente sobrenatural e invisível. Mas também tem um lado visível e material. É composta de pessoas de carne e osso; é também uma sociedade humana e visível. Como sublinha o CIC, no ponto 1898: “Toda a comunidade humana tem necessidade de uma autoridade que a governe”.
Assim, entendemos porque razão Jesus Cristo designou homens para agirem em Seu nome. «Jesus disse-lhes de novo: “A Paz seja convosco. Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio”. E ao dizê-lo, soprou sobre eles: “Recebei o Espírito Santo. Se vós perdoardes os pecados de alguém, ele será perdoado, se retiverdes os pecados de alguém, eles serão retidos” (João 20:21-23)». «Em verdade vos digo: aquele que receber qualquer um que Eu enviar, recebe-me a Mim; E aquele que Me recebe, recebe Quem me enviou(João 13:20)». Que impressionante poder Jesus transmitiu aos Apóstolos com estas palavras!
Jesus Cristo estabeleceu uma autoridade visível – uma hierarquia – na Igreja. O CCIC (nº 179) ensina-nos: “Cristo instituiu a hierarquia eclesiástica com a missão de apascentar o povo de Deus em seu nome, e para isso lhe deu autoridade”. A hierarquia é um desejo de Deus. É parte do plano de Deus. O mesmo ponto explica quem são as pessoas investidas dessa autoridade: “A hierarquia eclesiástica é formada por ministros sagrados: Bispos, presbíteros e diáconos”.
Que tipo de poder é que eles possuem? O mesmo poder que Cristo, o Fundador e Chefe da Igreja. “Graças ao sacramento da Ordem, os Bispos e os presbíteros agem, no exercício do seu ministério, em nome e na pessoa de Cristo cabeça; os diáconos servem o povo de Deus na diaconia (serviço) da palavra, da liturgia, da caridade”.
Os Apóstolos e os seus sucessores receberam os mandatos diretamente do próprio Cristo. Ninguém tem o direito ou privilégio de se tornar padre, bispo ou Papa. “Ninguém pode dar a si próprio o mandato e a missão de anunciar o Evangelho. O enviado do Senhor fala e actua, não por autoridade própria, mas em virtude da autoridade de Cristo; não como membro da comunidade, mas falando à comunidade em nome de Cristo. Ninguém pode conferir a si mesmo a graça; ela deve ser-lhe dada e oferecida. Isto supõe ministros da graça, autorizados e habilitados em nome de Cristo. É d’Ele que os bispos e presbíteros recebem a missão e a faculdade (o «poder sagrado») de agir na pessoa de Cristo Cabeça e os diáconos a força de servir o povo de Deus na «diaconia» da Liturgia, da Palavra e da caridade, em comunhão com o bispo e com o seu presbitério. A este ministério, no qual os enviados de Cristo fazem e dão, por graça de Deus, o que por si mesmos não podem fazer nem dar, a tradição da Igreja chama «sacramento». O ministério da Igreja é conferido por um sacramento próprio” (CIC nº 875).
Pe. José Mario Mandía