TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (69)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (69)

O que aconteceu à Natureza Divina de Jesus quando morreu?

Vimos que o sofrimento e morte de Cristo foram parte do plano de Deus. É por isso que no Credo professamos a crença de que Ele “morreu e foi sepultado”. O enterro foi uma espécie de prova de que a Sua morte foi real. O ponto 124 do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC) refere: “Cristo conheceu uma verdadeira morte e uma verdadeira sepultura”.

Quando um homem morre “a alma é separada do corpo” (Catecismo da Igreja Católica nº 1005). Jesus não foi excepção. A Sua alma separou-se do corpo no momento da morte. No entanto, há algo de único na morte de Jesus. Tem a ver com o facto de Ele não apenas possuir uma natureza humana mas também uma natureza divina. E, assim sendo, o que aconteceu à Sua natureza divina quando morreu?

O ponto 626 do Catecismo da Igreja Católica (CIC) ensina que a morte não separou a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, tanto o Seu corpo como a Sua alma, se bem que o corpo e a alma tenham sido separados na morte: “Uma vez que o ‘Príncipe da Vida’, a quem deram a morte, é precisamente o mesmo ‘Vivente que ressuscitou’, é forçoso que a pessoa divina do Filho de Deus tenha continuado a assumir a alma e o corpo, separados um do outro pela morte: ‘Mesmo que ele tenha sido morto como homem e que sua santa alma tenha sido separada do corpo sem mácula, sua divindade permaneceu inseparável tanto de uma como de outro, ou seja, tanto da alma como do corpo, e mesmo nesse estado a hipóstase única não se dividiu em duas hipóstases. Com efeito, o corpo e a alma tinham identicamente, desde o começo, sua existência na hipóstase do Verbo e, separados um do outro na morte, eles continuaram cada qual na única hipóstase do Verbo. Assim, a hipóstase única do Verbo era hipóstase do Verbo, da alma e do corpo; pois jamais, nem a alma nem o corpo, possuíram uma hipóstase própria que não fosse aquela do Verbo. Ora, a hipóstase do Verbo é sempre única, jamais dupla. De sorte que a hipóstase do Verbo permaneceu sempre única. E assim, mesmo separada totalmente do corpo, a alma não deixou de estar unida a ele hipostaticamente por intermédio do Verbo’ (A Fé Ortodoxa III, 27, São João Damasceno)”.

Quais foram as consequências do facto da divina Pessoa estar unida ao corpo? “Cristo conheceu uma verdadeira morte e uma verdadeira sepultura. Mas o poder divino preservou o seu corpo da corrupção” (CCIC nº 124). No dia do Pentecostes, Pedro declarou: «Ele não foi abandonado no inferno, nem a Sua carne sentiu a corrupção (Actos 2:31)».

O que significa “ser sepultado com Cristo”? Da mesma forma que os cristãos seguem Cristo em todos os aspectos da Sua vida, também nós O seguimos na morte e funeral, entregando a nossa própria vida, a fim de ganharmos uma nova vida em Cristo.

O CIC, no ponto 628, explica: “O Baptismo, cujo sinal original e pleno é a imersão, significa eficazmente a descida ao túmulo, por parte do cristão que morre para o pecado com Cristo, com vista a uma vida nova. «Fomos sepultados com Ele, pelo Baptismo, na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova (Romanos 6:4)»”.

Ser enterrado significa ser escondido e esquecido, rejeitar o orgulho constante, a fim de nos entregarmos e servirmos a Deus e aos outros. Ser enterrado significa levar uma vida escondida.

O que é a vida escondida? “A prática da vida oculta tem dois aspectos: o primeiro é negativo e sobretudo externo, consistindo em nos escondermos dos olhos dos outros e de nós próprios, em deixar morrer a vontade de glória e das honras mundanas. O segundo, que é o oposto e interior, consiste em concentrarmo-nos em Deus numa vida de relacionamento íntimo com ele. O primeiro aspecto é a condição do segundo: quanto mais uma alma for capaz de se esconder das outras criaturas, e mesmo dela própria, mais capaz ela viverá ‘com Cristo em Deus’ de acordo com a bela expressão de São Paulo: «Você está morto: e sua vida está oculta com Cristo em Deus (Colossenses 3:3)»” (Intimidade Divina, pág. 342, P. Gabriel de S.ta Maria Madalena OCD).

O que é o Inferno a que desceu Jesus? O ponto 125 do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica dá a resposta: “Os ‘infernos’ (não confundir com o inferno da condenação) ou mansão dos mortos, designam o estado de todos aqueles que, justos ou maus, morreram antes de Cristo. Com a alma unida à sua Pessoa divina, Jesus alcançou, nos infernos, os justos que esperavam o seu Redentor para acederem finalmente à visão de Deus. Depois de com a sua morte, ter vencido a morte e o diabo «que da morte tem o poder(Heb., 2,14)», libertou os justos que esperavam o Redentor, e abriu-lhes as portas do Céu”.

Pe. José Mario Mandía

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