De que modo somos à imagem e semelhança de Deus?
«Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. E assim Deus fez o homem à sua própria imagem (Génesis 1:26, 27)». Mais nenhuma criatura nasceu desta forma. Então o que há em nós que nos faz ser à imagem e semelhança de Deus? Podemos distinguir três níveis: natural, preternatural e sobrenatural. Nestas três realidades podemos ver como Deus nos abençoou abundantemente.
NÍVEL NATURAL
(1.1) Uma alma espiritual dotada de intelecto e vontade. Já o discutimos em FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, nos números 28, 40, 45, 46 e 47. Ao contrário das almas das plantas e dos animais, a alma do homem é espiritual – ela não morre quando o homem morre, pois continua viva. A alma é imortal. Deste modo, a imortalidade da alma é uma imagem da imortalidade de Deus. Para além de que Deus estabeleceu que o corpo se reúna com a alma no último dia.
(1.2) O poder de procriar, educar e organizar-se em sociedade. «Então Deus criou o homem à sua própria imagem; à imagem de Deus ele o criou. Ele criou-o macho e fêmea; abençoou-os disse-lhes: “Sejam fecundos e multiplicai-vos; encham a terra e subjugai-a”(Génesis 1:27-28)». Pelo poder de procriar, o homem assemelha-se a Deus, dando à luz novos seres humanos. A família que o homem estabelece é à imagem e semelhança da Santíssima Trindade.
(1.3) Propriedade ou domínio sobre toda a matéria da Criação. Deus instruiu Adão e Eva para «encherem a terra e dominá-la. Para terem domínio sobre os peixes do mar, sobre os pássaros no ar e sobre todos o seres que se mexam sobre a terra(Génesis 1:28)». «O Senhor Deus levou o homem e pô-lo no Jardim do Paraíso para ele o desfrutar e cuidar (Génesis 2:15)». A necessidade de proteger a nossa casa terrestre não é uma preocupação actual. Já estava presente no momento da Criação.
NÍVEL PRETERNATURAL
Dotes preternaturais são os não são necessários à nossa natureza. São como legados extras, concedidos aos nossos primeiros pais (Catecismo da Igreja Católica nos376 e 377). Tivemos conhecimento destes “bónus” apenas depois de termos sabido que os primeiros pais os perderam ao pecarem. Falaremos mais sobre esse pecado num ensaio futuro.
(2.1) O presente da rectidão ou integridade. Este fortalece a vontade natural do homem. A força de vontade tornou possível o auto-domínio. Leva à harmonia interna na pessoa humana, à harmonia entre o homem e a mulher, à harmonia entre o primeiro casal e toda a Criação. Adão e Eva estavam livres do que São João descreve na sua Primeira Carta, como a tripla concupiscência (I João 2:16): o desenfreado desejo de poder, prazer e haveres (posses materiais).
(2.2) O conhecimento inspirado. Estavam livres da ignorância e cheios de conhecimentos que não poderiam adquirir através dos seus próprios sentidos ou do raciocínio. Ele encheu-os de conhecimento e compreensão, e mostrou-lhes o bem e o mal. Ele colocou os seus olhos nos seus corações para lhes mostrar a majestade da sua obra (Eclesiastes 17:7-8).
(2.3) A imortalidade. Os nossos primeiros pais não tinham que morrer.
(2.4) A impassibilidade. Os nossos primeiros pais não tinham que sofrer. O trabalho era para eles um prazer Foi apenas após a sua queda que o trabalho ficou penoso e difícil (Génesis 3:18-19).
NÍVEL SOBRENATURAL: GRAÇA SANTIFICANTE
Este foi o maior presente que Adão e Eva alguma vez poderiam ter recebido. Foi-lhes concedida a possibilidade de partilharem a vida de Deus. O Jardim do Paraíso tal o simbolizava. Também mais à frente falaremos sobre este tema.
Pe. José Mario Mandía