Mais do que flores…
O mês de Novembro, para além de ser dedicado aos defuntos, deve também ser uma oportunidade para reflectirmos sobre o valor da vida e da morte.
Só temos uma vida, desculparmo-nos com outras eventuais futuras existências é, no mínimo, adiarmos a responsabilidade de aproveitarmos esta ao máximo pois, no fim, teremos de prestar conta do feito e do omitido.
Digamos que viemos a este mundo em “comissão de serviço” e quando o contrato acabar partiremos para o almejado descanso – “uma reforma na proporção do que demos e fizemos”.
A única coisa que temos certa depois de nascermos é a morte corporal, todavia trazemos connosco o selo ou passaporte que nos permite aceder ao outro lado da vida e nele permanecer para todo o sempre.
Os primeiros cristãos chamavam ao lugar onde colocavam os cadáveres, cemitério, que significa dormitório. A Igreja usa o termo defuntos e não mortos, pois partiram deste mundo mas continuam vivos. O corpo jaz no cemitério, mas a pessoa, a alma, vive, é imortal, não morre nunca. Sendo assim somos todos, homens e mulheres, seres para a eternidade.
Esta certeza justifica as preces, as orações e as missas que se fazem pelos que já nos deixaram e aguardam a nossa carinhosa ajuda para os sufragar. As flores revelam um carinho, uma atenção e uma delicadeza de saudade, mas não são o mais importante.
O Céu não é um lugar, mas uma comunhão de amor com Deus e com os outros, que jamais terá fim, tal como o inferno será o degredo e a separação definitiva da partilha neste amor divino.
Pensar estas realidades, longe de ser triste, deve ser motivo para procurar viver uma vida mais séria, mais santa e mais serena pois, na verdade, não sabemos o dia nem a hora em que chegará a nossa vez.
No século IV, a Igreja da Síria consagrou um dia para festejar “ todos os mártires” e em 840 o Papa Gregório IV instituiu a Festa de Todos os Santos, que passou a ser celebrada universalmente no dia 1 de Novembro.
Considerada pela Igreja como uma festa grande, passou a ter celebração vespertina ou vigília a 31 de Outubro, para preparar o grande dia de homenagem a todos os que nos precederam na fé. Esta festa de véspera teve o seu início em Roma “All Hallow’s Eve” – Vigília de Todos os Santos.
Com o passar dos tempos, sofrendo várias interferências de elementos pagãos e celtas, os povos que habitavam a Gália e as ilhas da Grã-Bretanha iniciaram rituais variados, que mais tarde exportaram para os Estados Unidos, transformando esta festa num divertimento mais carnavalesco do que sagrado.
Estes adulterados excessos levaram os bispos do Reino Unido a pedir às crianças para se fantasiarem de santos em vez de bruxas, diabos ou afins, recomendando aos adultos a presença de luzes nas janelas, para lembrar aos cristãos que Cristo é a luz que nasceu para todos.
Na verdade, preparar o futuro é usufruir e rentabilizar o nosso capital espiritual, investindo na vida eterna, sem abóboras, gnomos ou seres de ficção diabólica, mas com o esplendor duma santa dignidade que preside aos destinos dos nossos muito queridos fiéis defuntos.
Susana Mexia
Professora