TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (42)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (42)

 

Como usamos a Filosofia para entender a Santíssima Trindade?

Deus revelou-se às criaturas inteligentes. E por isso espera que usemos o nosso intelecto para compreendermos as coisas que nos disse a propósito de Ele próprio, incluindo o mistério da Santíssima Trindade. A Filosofia é um instrumento que nos permite explorar intelectualmente a nossa fé.

O uso mais básico da Filosofia serve para explicar as noções e definir os termos que utilizamos na Teologia. Quando Deus se revelou, usou a linguagem humana; não introduziu noções nem terminologias totalmente estranhas ao Homem. Daí que possamos falar de Deus de forma analógica (ver TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, nº 36).

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Para a formulação do dogma da Trindade, a Igreja teve de elaborar uma terminologia própria, com a ajuda de noções de origem filosófica: ‘substância’, ‘pessoa’ ou ‘hipóstase’, ‘relação’, etc. Ao fazer isto, a Igreja não sujeitou a fé a uma sabedoria humana, mas deu um sentido novo, inédito, a estes termos, chamados a exprimir também, desde então, um mistério inefável, ‘transcendendo infinitamente tudo quanto podemos conceber a nível humano’[Paulo VI,Sollemnis Professio fidei]” (CIC nº 251).

“A Igreja utiliza o termo ‘substância’ (às vezes também traduzido por ‘essência’ ou ‘natureza’) para designar o ser divino na sua unidade; o termo ‘pessoa’ ou ‘hipóstase’ para designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo na distinção real entre Si; e o termo ‘relação’ para designar o facto de que a sua distinção reside na referência recíproca de uns aos outros” (CIC nº 252).

Para que entendamos que não possa haver contradições entre um Deus e três Pessoas, precisamos de saber a diferença entre o significado de “substância” (“natureza” ou “essência”) e o de “pessoa” ou “hipostáse”. Uma das explicações mais simples diz-nos que a “substância” responde à pergunta “o que é isto?”. Por sua vez, “pessoa” ou “hipostáse” responde à pergunta “quem é este?”. Por exemplo, se estivermos a falar de seres humanos, podemos perguntar “o que é isto?”. “É um homem!”. Se perguntarmos “quem é este?”, responderemos “Este é Pedro!”. No caso de Deus, se perguntarmos “o que é isto?”. “É Deus!”. “Quem é Ele?”. “É o Pai!” (ou o Filho, ou o Espírito Santo).

Também foi introduzida por Jesus Cristo uma nova noção: a de “processão”: Jesus declara: «Eu procedi e emergi de Deus (João 8:42)». E afirma: «O Espírito da verdade… procede do Pai (João 15:26)» e do Filho: «Enviá-lo-ei até vós(João 16:7)».

A partir destas declarações proferidas por Jesus, São Tomás de Aquino apresenta uma explicação para a processão de Deus: “Em Deus há duas processões, a do Verbo e uma outra. O que se evidencia, considerando que em Deus a processão implica um acto que não tende a nenhum termo extrínseco, mas permanece no próprio agente. Ora, tal acto, nos seres de natureza intelectual, pertence ao intelecto e à vontade. Ora, a processão do Verbo implica um acto inteligível. Segundo, porém, o acto da vontade, há em nós outra processão – a do amor, pela qual o amado está no amante, assim como, pela concepção do Verbo, a coisa dita ou inteligida está no inteligente. Donde, além da processão do Verbo, há em Deus outra processão, que é a do Amor”.

Pe. José Mario Mandía

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