Se Deus é eterno, significa então que é muito velho?
Vimos na série “Filosofia, Uma Dentada de Cada Vez” que a mudança é a passagem de algo em potência, ou com potencial, para um acto; a passagem de “pode-ser-mas-ainda-não-é” para “já é”. Todas as criaturas, incluindo os anjos, têm algum potencial, e como tal estão sujeitos a mudar. Isto não acontece com Deus.
DEUS É IMUTAVEL – ELE NÃO MUDA. Deus é puro acto. Esta é uma das conclusões que provam a Sua existência. Ele é puro acto; não possui nada de potencial que não esteja actualizado. Por conseguinte, nunca passará de potencialidade a facto (ou vice-versa). Em Deus não há mudança. O que Ele era é o que Ele é, e o que sempre será. É por isso que o Seu nome é «Eu Sou (Êxodo 3:14)». Não há nada mais que se possa acrescentar à Sua perfeição. Ele não pode perder nada que seja d’Ele, porque os traços de perfeição com Ele se identificam.
Santo Agostinho explica-nos: “Ser é nome de imutabilidade. Porque tudo o que é mutável deixa de ser o que era e começa a ser o que não é. Ser é ser verdadeiro, ser puro, ser genuíno, e apenas posse Sua, que não muda” (Sermões 7, 7).
«Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, no qual não há mudanças nem períodos de sombra(Tiago 1:17)».
«Tu fundaste a terra desde o princípio e os céus são obra das tuas mãos. Eles deixarão de existir, mas Tu permanecerás; tal como um vestido, eles vão-se gastando; como um vestido que se muda, assim eles desaparecem (Salmo 102:26-27)».
DEUS NÃO É MEDIDO PELO TEMPO – ELE É ETERNO: Tempo é a medida de mudança de acordo com “antes” ou “depois”. Mas em Deus não há mudança. E porque não há mudança, não há o “antes” e o “depois”, não há passado ou futuro. Deus não é limitado pelo tempo, Ele é intemporal! Com Deus apenas existe um infinito “agora”. Deus está sempre no “presente”. Assim sendo, compreendemos melhor porque é que o nome de Deus é “Eu Sou”.
«Porventura não sabes? Será que não ouviste? O SENHOR é um Deus eterno, que criou os confins da terra. Não se cansa nem perde as forças(Isaías 40:28)».
Anicius Manlius Severinus Boethius (480 – 524 ou 525), um filósofo cristão do século sexto, definiu a eternidade como sendo “uma total, simultânea e perfeita posse de vida sem fim (tota, simul et perfecta possessio interminabilis vitae)”. Imaginem ter todas as coisas boas que a vida pode oferecer num único e infinito momento.
O Papa Bento XVI, na sua encíclica “Spe Salvi” (nº 12), explica que a “eternidade não é uma sucessão infinita de dias no calendário, mas algo mais parecido com um momento de suprema satisfação… seria como mergulhar num oceano de amor infinito, um momento no qual o tempo – antes e depois – tivessem deixado de existir”.
O facto de que Deus é eterno não significa que Ele seja muito velho, porque envelhecimento implica mudança e mudança implica o passar do tempo. Mas Deus está para além da mudança e do tempo. Deus é, por assim dizer, sempre jovem. E os que se preenchem a eles próprios n’Ele, tornam-se eles próprios jovens: eles são jovens para sempre.
Deus faz-nos jovens de novo, especialmente no Sacramento da Reconciliação, onde Ele nos renova, e no Sacramento da Eucaristia, onde Ele nos prometeu que «aquele que comer da minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna (João 6:54)».
«Até os adolescentes se cansam e se fatigam e os jovens tropeçam e vacilam. Mas aqueles que confiam no SENHOR, renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer (Isaías 40:30-31)».
José Mario Mandía