O que os Salmos nos ensinam sobre a Oração?
No Antigo Testamento, para além dos muitos modelos de oração, encontramos também os Salmos. Qual a importância dos Salmos? O Catecismo da Igreja Católica responde, no ponto 2587: “O Saltério é o livro em que a Palavra de Deus se torna oração do homem”. Quando rezamos os Salmos, podemos ter a certeza de que estamos a rezar da maneira correcta.
Diz o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica: “Os Salmos são o vértice da oração no Antigo Testamento: a Palavra de Deus torna-se oração do homem. Inseparavelmente pessoal e comunitária, esta oração, inspirada pelo Espírito Santo, canta as maravilhas de Deus na criação e na história da salvação. Cristo rezou os Salmos, e deu-lhes pleno cumprimento. E é por isso que eles permanecem um elemento essencial e permanente da oração da Igreja, adaptados aos homens de todas as condições e de todos os tempos” (CCIC nº 540).
Os Salmos encontram-se na Liturgia, particularmente na Santa Missa e na Liturgia das Horas. Não há um único dia em que a Igreja não recorra aos Salmos. É por isso que os Papas João Paulo II e Bento XVI aproveitaram muitas das Audiências Gerais de quarta-feira para explicar os Salmos e Cânticos de Laudes (oração da manhã) e Vésperas (oração da noite), e a Liturgia das Horas.
Na primeira destas Audiências Gerais sobre os Salmos, a 28 de Março de 2001, São João Paulo disse: “Desta forma, desejo encorajar e ajudar todos a rezar com as mesmas palavras usadas por Jesus e que se encontram há milénios na oração de Israel e da Igreja”. Sim, quando rezamos os Salmos dizemos as mesmas palavras que nosso Senhor proferiu.
Quando rezamos os Salmos, rezamos com a Igreja. Daí que o Papa Bento XVI se tenha referido ao Livro dos Salmos como o “livro de oração por excelência” (Audiência Geral, 22 de Junho de 2011).
Os Salmos vêm de Deus e falam da nossa condição humana. Na verdade, as palavras dos Salmos são palavras ditas pelo coração humano. O Papa Bento, na mesma Audiência, afirmou: “Neste livro encontra expressão toda a experiência humana, com os seus múltiplos aspectos, bem como toda a gama de sentimentos que acompanham a existência do homem”.
Nos Salmos encontramos tristeza e alegria, luta e vitória, lamento e louvor, arrependimento e acção de graças. É por isso que podemos encontrar um Salmo para cada ocasião.
O Papa Bento XVI dividiu os Salmos em dois grandes temas: súplica e acção de graças. Assim os descreveu brevemente, na mesma Audiência Geral de 22 de Junho de 2011: [início de citação] “Na súplica, o orante lamenta-se e descreve a sua situação de angústia, de perigo e de desolação, ou então, como nos Salmos penitenciais, confessa a culpa, o pecado, pedindo para ser perdoado. Ele expõe ao Senhor o seu estado de espírito na confiança de ser ouvido, e isto implica um reconhecimento de Deus como bom, desejoso do bem e «amante da vida» (cf. Sb., 11, 26), pronto a ajudar, salvar e perdoar. Por exemplo, assim reza o Salmista, no Salmo 31: «Junto de vós, Senhor, refugio-me».
De maneira análoga, nos Salmos de acção de graça e de louvor, fazendo memória do dom recebido contemplando a grandeza da misericórdia de Deus, reconhece-se também a própria insignificância e a necessidade de ser salvo, que se encontra na base da súplica.
Confessa-se assim a Deus a própria condição de criatura, inevitavelmente caracterizada pela morte, e no entanto portadora de um desejo radical de vida. Por isso o Salmista exclama, no Salmo 86: «Louvar-vos-ei de todo o coração, Senhor meu Deus, e glorificarei o vosso nome eternamente. Porque a vossa misericórdia foi grande para comigo, e tirastes a minha alma das profundezas da região dos mortos» (versículos 12-13). De tal modo, na oração dos Salmos, súplica e louvor entrelaçam-se e fundam-se num único cântico que celebra a graça eterna do Senhor que se debruça sobre a nossa fragilidade” [fim de citação].
Por último, o Papa Bento XVI refere que assim como uma criança aprende a falar usando as palavras que os seus pais lhe ensinam, também aprendemos a rezar com as palavras que Deus nos ensina – palavras que acabam por se tornar as nossas próprias palavras. Mas as palavras são símbolos do pensamento, como disse Aristóteles, em Peri hermeneias. Então, quando rezamos os Salmos, também aprendemos a pensar com o Pensamento de Deus.
Pe. José Mario Mandía