TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (217)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (217)

Devemos sempre dizer a verdade?

Em “TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ nº 56”, falámos sobre a Verdade. Também apontámos que existem três “níveis” de verdade: verdade ontológica, verdade lógica ou gnoseológica e verdade moral. Aqui estamos preocupados com o terceiro nível.

Quão importante é a Verdade?

Do ponto de vista humano, o homem busca naturalmente a Verdade. Aristóteles disse: “Todos os homens, por natureza, desejam saber”. Agora não podemos imaginar se o que eles desejam saber é verdadeiro ou falso. Como observou Santo Agostinho, podemos encontrar muitas pessoas ao nosso redor que não têm qualquer problema em enganar outras pessoas, mas ninguém gosta de ser enganado por outrem.

Todos os aspectos da vida do homem que envolvem lidar com os outros requerem a verdade. Se todos fossem desonestos, não haveria confiança. Sem confiança, qualquer tipo de interacção seria impossível.

Do ponto de vista sobrenatural, Nosso Amado Senhor Jesus afirmou: «Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim» (João 14, 6). Para se “ir ao Pai”, precisamos seguir por este caminho, por esta verdade, com esta vida.

Exortara amar a verdade e a vivê-la está patente em toda a Sagrada Escritura.«O Senhor está junto de todos aqueles que invocam o seu Nome, de todos que clamam pela sua presença, com sinceridade»(Salmos 145,18). «Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade» (João 4,24). «Filhinhos, não amemos de palavras nem de boca, mas sim de atitudes e em verdade»(1João 3, 18).

Sobre o Oitavo Mandamento, ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC): “Toda a pessoa é chamada à sinceridade e à veracidade no agir e no falar. Cada um tem o dever de procurar a verdade e de aderir a ela, organizando toda a sua vida segundo as exigências da verdade. Em Jesus Cristo, a verdade de Deus manifestou-se na sua totalidade: Ele é a Verdade. Seguir Jesus é viver do «Espírito de verdade» (Jo., 14, 17) e evitar a duplicidade, a simulação e a hipocrisia” (CCIC nº 521).Jesus Cristo é o padrão que nos diz se estamos a viverde forma verdadeira ou falsa.

“O cristão deve testemunhar a verdade evangélica em todos os campos da actividade pública e privada, mesmo com o sacrifício da própria vida, se necessário. O martírio é o supremo testemunho dado em favor da verdade da fé” (CCIC nº 522).

O que nos impõeo Oitavo Mandamento? “O Oitavo Mandamento requer o respeito da verdade, acompanhado pela discrição da caridade: na comunicação e na informação, que devem assegurar o bem pessoal e comum, a defesa da vida particular e o perigo de escândalo; na reserva dos segredos profissionais, que se devem sempre manter, salvo em casos excepcionais, por motivos graves e proporcionados. Exige-se também o respeito pelas confidências feitas sob o sigilo do segredo” (CCIC nº 524).

Neste âmbito, há um requisito importante a ser observado.O dever de dizer a verdade deve ser “acompanhado da discrição da caridade”. Por vezes, acaridade exige que não revelemos a verdade a quem a ela não tem direito. Podemos encontrar um exemplo brilhante em São José. «Então, José, seu esposo, sendo um homem justo e não querendo expô-la à desonra pública, planejou deixá-la sem que ninguém soubesse a razão»(Mateus 1,19). José era um homem justo: ele seguia a Lei. Ele poderia expor o “mau comportamento”da sua esposa.Poderia ter contadoa amigos e conhecidos, mas não o fez. Antesescolheu a opção que o poderia ter colocadosob “má luz”, isto é, que seria mal visto aos olhos dos outros,deixandoassim intacta a reputação de Nossa Senhora. Ele a deixouem silêncio e foi para um lugar distante.Daí que os pecados contra este Mandamento incluam os pecados contra a caridade (e não apenas os pecados contra a Verdade).

“O que proíbe o Oitavo Mandamento?

1– [Proibe] o falso testemunho, o perjúrio e a mentira, cuja gravidade se mede pela natureza da verdade que ela deforma, das circunstâncias, das intenções do mentiroso e dos danos causados às vítimas;

2– O juízo temerário, a maledicência, a difamação, a calúnia, que lesam ou destroem a boa reputação e a honra a que a pessoa tem direito;

3– A lisonja, a adulação ou complacência, sobretudo se finalizadas à realização de pecados graves ou à obtenção de vantagens ilícitas;

4– Uma culpa contra a verdade exige a reparação, quando se ocasionou dano a outrem” (CCIC nº524).

Roguemos, por isso, ao Senhor: «Orienta-me a seguir a tua verdade e ensina-me a mantê-la, pois tu és o Deus da minha salvação» (Salmos 25, 5).

Pe. José Mario Mandía

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