TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (184)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (184)

O que é a Graça?

Vimos que o objectivo da Lei Moral não é apenas revelar-nos como sermos pessoas “de bom carácter” e “decentes”. Mostra-nos também o caminho para a Santidade. A Santidade, no entanto, requer a contribuição da ajuda de Deus. É Deus quem nos justifica; Ele é quem nos torna santos.

O que queremos dizer com “justificação”? “A justificação é a obra mais excelente do amor de Deus. É a acção misericordiosa e gratuita de Deus, que [a] perdoa os nossos pecados e [b] nos torna justos e santos em todo o nosso ser. Isto tem lugar por meio da graça do Espírito Santo, que nos foi merecida pela paixão de Cristo e nos foi dada no Baptismo. A justificação inicia a resposta livre do homem, ou seja, a fé em Cristo e a colaboração com a graça do Espírito Santo” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 422). É o duplo aspecto da justificação: requer o acto de Deus que toma a iniciativa e a resposta do homem.

Para entender o que a Graça faz por nós, é necessário rever o texto n.º 52 de TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, que explica como o homem é constituído. Uma pessoa que deseje saber como uma determinada droga funciona no Corpo Humano deve primeiro compreender como o nosso corpo funciona. Tem que saber um pouco de Anatomia e Fisiologia. Da mesma forma, se quisermos apreciar plenamente a acção da Graça, precisamos de entender a natureza humana, em particular, a sua alma espiritual, o seu intelecto, a sua vontade e a sua liberdade.

O que é a Graça? Em geral, a Graça é um dom sobrenatural de Deus. Esta definição tem dois elementos: (1) Sobrenatural; e (2) Dom. Expliquemos:

(1) Sobrenatural, pois está acima das nossas capacidades naturais. Como explica o CCIC, no ponto 423, “[a graça] ultrapassa as capacidades da inteligência e das forças do homem. Escapa, portanto, à nossa experiência”. Tal não significa que substitui as nossas capacidades naturais. Ao invés, aprimora-as.

Quando o Catecismo da Igreja Católica refere que a Graça “escapa à nossa experiência”, significa que é algo que não se pode sentir; está para além do alcance dos nossos sentidos, uma vez que é sobrenatural. Não podemos ver, sentir, tocar, saborear ou ouvir a Graça. Estar em Graça não significa que nos encontremos num elevado patamar emocional. Diz o Catecismo, no ponto 2005: “Sendo, como é, de ordem sobrenatural, a graçaescapa à nossa experiência esó pode ser conhecida pela fé. Não podemos, pois, basear-nos nos nossos sentimentos nem nas nossas obras, para daí concluirmos que estamos justificados e salvos (Concílio de Trento, 1547). No entanto, segundo a palavra do Senhor, que diz: «Pelos seus frutos os conhecereis»(Mt., 7, 20), a consideração dos benefícios de Deus na nossa vida e na vida dos santos oferece-nos uma garantia de que a graça de Deus opera em nós e nos incita a uma fé cada vez maior e a uma atitude de pobreza confiante”.

O mesmo ponto do Catecismo dá como exemplo desta atitude um episódio ocorrido com Santa Joana d’Arc: “Encontramos uma das mais belas ilustrações desta atitude na resposta de Santa Joana d’Arc a uma pergunta capciosa dos seus juízes eclesiásticos: ‘Interrogada sobre se sabe se está na graça de Deus, responde; «Se não estou, Deus nela me ponha: se estou, Deus nela me guarde»’ (Actos do julgamento de Santa Joana d’Arc)”.

(2) Um Dom gratuito, uma iniciativa inteiramente gratuita de Deus: “A graça é o favor, o socorro gratuitoque Deus nos dá” (CIC nº 1996).

Devemos sempre lembrar as palavras de São João: «Ele nos amou primeiro» (I João 4:19), simplesmente porque «Deus é amor» (I João 4:16).

Vamos agora abordar os diferentes tipos de Graça. Para entender as diferenças, podemos dizer que a Graça é (2.1) vida, (2.2) luz e (2.3) amor.

A GRAÇA É VIDA; A GRAÇA É SANTIFICANTE –A Graça santificante é a Graça que afecta o nosso ser (é tecnicamente denominada como hábito entitativo. A palavra “entitativo” vem do Latim “ens” que significa “ser”).

Esta é a Graça que dá vida. O seu propósito é permitir-nos participar da vida íntima das três Pessoas Divinas. “A graça é o dom gratuito que Deus nos dá para nos tornar participantes da sua vida trinitária e capaz de agir por amor d’Ele. É chamadagraça habitual ou santificante ou deificante, pois nos santifica e diviniza” (CCIC nº 423). A Graça santificante “eleva-nos”, a nós, criaturas, ao nível do Criador.

Na próxima semana iremos falar sobre a Graça enquanto (2.2) luz e (2.3) amor.

Pe. José Mario Mandía

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