TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (168)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (168)

O que entendemos por Liberdade?

Para muitas pessoas, “liberdade” significa a ausência de grilhões, como quando alguém é libertado da prisão e é posto à solta. Podemos considerar esta situação como liberdade física ou externa.

Outro tipo de liberdade que muitos usufruem é poder fazer o que se quer, ou seja, o que se tem vontade de fazer a determinado momento. Esta definição, no entanto, encontra problemas na vida real, porque há muitas coisas que gostaríamos de fazer, mas que não podemos fazer, simplesmente devido às nossas limitações humanas. Podemos querer voar como os pássaros ou nadar como os peixes, mas não temos capacidade para isso. Podemos desejar cantar como Luciano Pavarotti, mas a natureza pode não nos ter dotado desse dom. Se a liberdade fosse definida como “fazer o que se quer”, então não existia liberdade, pelo menos nestes termos.

Qual é então o conceito cristão de liberdade? Para responder a esta questão, citemos três pontos do Catecismo da Igreja Católica:

1– “Deus criou o homem racional, conferindo-lhe a dignidade de pessoa dotada de iniciativa e do domínio dos seus próprios actos. «Deus quis ‘deixar o homem entregue à sua própria decisão’(Sir., 15, 14),de talmodo que procure por si mesmo o seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegue à total e beatífica perfeição»(II Concílio do Vaticano,Constituição pastoral Gaudium et spes).‘O homem é racional e, por isso, semelhante a Deus, criado livre e senhor dos seus actos’ (Santo Ireneu de Lião,Adversus Haereses)”(CIC nº 1730).

2– “A liberdade é o poder, radicado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, praticando assim, por si mesmo, acções deliberadas. Pelo livre arbítrio, cada qual dispõe de si. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e de maturação na verdade e na bondade. E atinge a sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança”(CIC nº 1731).

3– “A dignidade do homem exige que ele proceda segundo uma opção consciente e livre, isto é, movido e determinado por uma convicção pessoal e não sob a pressão de um cego impulso interior ou da mera coacção externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-se de toda a escravidão das paixões, prossegue o seu fim na livre escolha do bem e se procura de modo eficaz e com diligente iniciativa os meios adequados (II Concílio do Vaticano, Constituição pastoral Gaudium et spes)”(CIC nº 2339).

Vamos agora analisar o conceito de “Liberdade”:

É ENRAIZADO NA RAZÃO E NA VONTADE –O exercício da liberdade requer consciência, conhecimento e razão. Liberdade é o poder de fazer escolhas informadas e inteligentes. Como posso fazer uma escolha se não sei quais são as opções? Fazer uma escolha livre significa saber quais as opções possíveis e quais as consequências que resultam dessa escolha. Se eu souber apenas um pouco sobre cada opção, acabarei por hesitar no momento de o fazer. Até poderei ter de adiar a minha decisão. Por outro lado, quanto mais souber sobre cada opção, mais firme será a minha decisão, mais livre será o meu acto.

É PODER AGIR OU NÃO AGIR –A escolha entre agir ou não agir é parte do exercício da liberdade. É podermos fazer “isto ou aquilo”, ou seja, uma vez tomada uma decisão, posso optar por vários caminhos (possibilidades de acção) para alcançar determinado objectivo.

Mas deter o poder de agir ou não agir, de fazer “isto ou aquilo”, implica que se pense previamente sobre as diferentes opções com que nos deparamos.

Neste ponto, é importante frisar que como não somos coagidos a agir ou não agir, a fazer “isto ou aquilo”, tomar ou não tomar uma decisão apenas depende de nós próprios. E neste caso, a responsabilidade é nossa, isto é, somos nós quem acarreta com a responsabilidade pessoal pelas acções tomadas (ou não tomadas). É bom lembrar que em alguns casos não fazer nada também pode constituir um crime, à luz das leis de Deus e dos homens, como, por exemplo, não acudir uma vítima.

Por meio da liberdade, o Homem é senhor das suas acções. Também a título de exemplo, é como sermos donos de algo e sentirmos a obrigação de cuidarmos desse algo; é sermos responsáveis por cuidar do que é nosso. Ora, nas decisões do dia-a-dia, somos igualmente responsáveis pelas opções que tomamos. Se as decisões tomadas forem boas, serão certamente merecedoras de elogio; caso contrário, se forem más, então teremos de assumir a culpa e as consequências dos nossos actos.

MOLDAR A PRÓPRIA VIDA –Por meio da liberdade, moldamos a nossa vida: “Nós somos, em certo sentido, os nossos próprios pais, e nos damos à luz ao escolhermos o bem” (São Gregório de Nissa, Sermão sobre o Eclesiastes).

Pe. José Mario Mandía

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