Uma vez Sacerdote, para sempre Sacerdote?
Quais são os efeitos do Sacramento da Ordem? O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC) responde a esta questão, no ponto 335: “Este sacramento [1] dá uma especial efusão do Espírito Santo, que configura o ordenado a Cristo na sua tríplice função de Sacerdote, Profeta e Rei, segundo os respectivos graus do sacramento. A ordenação confere [2] um carácter espiritual indelével: por isso não pode ser repetida nem conferida por um tempo limitado”.
Já antes havíamos discutido o primeiro efeito. Quanto ao segundo efeito, este lembra-nos o Baptismo e a Confirmação – dois Sacramentos que também deixam um “carácter espiritual indelével”.
Tal significa que um Sacerdote não pode voltar a ser leigo? O Catecismo da Igreja Católica (CIC) explica, no ponto 1583: “Uma pessoa validamente ordenada pode, é certo, por graves motivos, ser dispensada das obrigações e funções decorrentes da ordenação, ou ser proibido de as exercer: mas já não pode voltar a ser leigo, no sentido estrito, porque o carácter impresso pela ordenação fica para sempre. A vocação e a missão recebidas no dia da ordenação marcam-no de modo permanente”.
A configuração a Cristo é, pois, o maior privilégio que um homem pode ter, como refere o ponto 1589 do Catecismo da Igreja Católica: “Perante a grandeza da graça e do múnus sacerdotais, os santos doutores sentiram o apelo urgente à conversão, a fim de corresponderem, por toda a sua vida, Àquele de Quem o sacramento os constituiu ministros. É assim que São Gregário de Nazianzo, ainda jovem presbítero, exclama: «Temos de começar por nos purificar, antes de purificarmos os outros: temos de ser instruídos, para podermos instruir: temos de nos tornar luz para alumiar, de nos aproximar de Deus para podermos aproximar d’Ele os outros, ser santificados para santificar, conduzir pela mão e aconselhar com inteligência. Eu sei de Quem somos ministros, a que nível nos encontramos e para onde nos dirigimos. Conheço as alturas de Deus e a fraqueza do homem, mas também a sua força. [Quem é, pois, o sacerdote? Ele é]o defensor da verdade, eleva-se com os anjos glorifica com os arcanjos, faz subir ao altar do Alto as vítimas dos sacrifícios, participa no sacerdócio de Cristo, remodela a criatura, restaura [nela]a imagem [de Deus], recria-a para o mundo do Alto e, para dizer o que há de mais sublime, é divinizado e diviniza» (São Gregório de Nazianzo, Oratio2, 73). E diz o santo Cura d’Ars: «É o sacerdote quem continua a obra da redenção na terra»… «Se bem se compreendesse o que o sacerdote é na terra, morrer-se-ia, não de medo, mas de amor». […] «O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus» (São João Maria Vianney, citado por B. Nodete, em Le Cure d’Ars. Sa pensée-son coeur)”.
Por último, não esqueçamos as palavras de São João Paulo II “a todos os Sacerdotes da Igreja, por ocasião da Quinta-feira Santa de 1979”: “Irmãos queridos, vós que suportais «o peso do dia e o calor» (Lucas 9:62), que pusestes a mão ao arado e não olhais para trás, e talvez mais ainda vós que duvidais do sentido da vossa vocação, ou do valor do vosso serviço: pensai naqueles lugares onde os homens esperam com ansiedade por um Sacerdote. Sentindo há muitos anos a sua falta, não cessam de suspirar pela sua presença. Por vezes, até se reúnem nalgum Santuário abandonado e, colocada sobre o altar a estola ainda conservada, assim recitam todas as orações da Liturgia eucarística; e então, no momento que corresponderia à transubstanciação, desce sobre eles um silêncio profundo, por vezes interrompido talvez por choro incontido… tão ardentemente desejam ouvir aquelas palavras que só os lábios de um Sacerdote podem eficazmente pronunciar! Quão vivamente desejam a Comunhão eucarística, da qual se podem tornar participantes somente em virtude do ministério sacerdotal! E com que ansiedade anelam ouvir as palavras divinas do perdão: Eu te absolvo dos teus pecados! Quão profundamente, sentem a ausência de algum Sacerdote do meio deles!… Lugares assim não faltam no mundo dos nossos dias. Se algum de vós duvida, pois, do sentido do seu sacerdócio, se porventura pensa que ele é «socialmente» infrutuoso ou até inútil, reflicta sobre isto!”.
Pe. José Mario Mandía