Por que empregamos arte e música na Liturgia?
Nos dias de hoje, o trabalho de evangelização tornou-se difícil quando começámos a discutir a verdade e o bem, graças “à ditadura do relativismo” (D. Joseph Ratzinger, 18 de Abril de 2005), em que cada um decide o que é a verdade e o bem para si próprio. Isto não deverá levar-nos ao desespero apostólico, porque existe uma abordagem ainda mais directa: o caminho da beleza (“via pulchritudinis”). Podemos discutir sobre a verdade e a moral, mas quando vemos algo de belo ficamos simplesmente fascinados. Não há discussão ou negociação.
Escreveu o cardeal Ratzinger: “Afirmei muitas vezes a minha convicção que a verdadeira apologia da fé Cristã, a demonstração mais convincente da sua verdade contra toda a negação, são os santos, e a beleza que a fé gerou. Agora, para que a fé cresça, precisamos de nos conduzir a nós mesmos e às pessoas que encontramos para descobrirmos os santos e entrarmos em contacto com o Belo” (Mensagem para a reunião de Comunhão e Libertação em Rimini, 24-30 de Agosto de 2002).
O mesmo purpurado escreveu também que “a tradição secular e conciliar diz-nos que também a imagem é pregação evangélica. Os artistas de todos os tempos apresentaram à contemplação e à admiração dos fiéis os factos salientes do mistério da salvação, no esplendor da cor e na perfeição da beleza. Indício de que, hoje mais do que nunca, na época da imagem, a imagem sagrada pode exprimir muito mais que a palavra, pois é muito mais eficaz o seu dinamismo de comunicação e de transmissão da mensagem evangélica” (Cardeal D. Joseph Ratzinger, Introdução ao Compêndio do Catecismo da Igreja Católica).
Na realidade, o Catecismo da Igreja Católica refere, no ponto 2500, que “antes mesmo de Se revelar ao homem em palavras de verdade, Deus revela-Se-lhe pela linguagem universal da criação, obra da sua Palavra e da sua Sabedoria: a ordem e a harmonia do cosmos – que podem ser descobertas tanto pela criança como pelo homem de ciência –, «a grandeza e a beleza das criaturas levam, por analogia, à contemplação do seu Autor» (Sb., 13, 5), «porque foi a própria fonte da beleza que as criou» (Sb., 13, 3)”.
“A arte comporta assim uma certa semelhança com a actividade de Deus no mundo criado, na medida em que se inspira na verdade e no amor dos seres. Como qualquer outra actividade humana, a arte não tem em si mesma o seu fim absoluto; mas é ordenada e enobrecida pelo fim último do homem” (CIC nº 2501).
A arte é elevada e santificada quando é usada na liturgia. “A genuína arte sacra atrai o homem à adoração, à oração e ao amor de Deus, Criador e Salvador, o Santo e Santificador” (CIC nº 2502).
“Por isso, os bispos devem, por si próprios ou por delegados, velar pela promoção da arte sacra, antiga e nova, sob todas as suas formas e, com o mesmo religioso cuidado, afastar da liturgia e dos lugares de culto tudo o que não for conforme com a verdade da fé e a autêntica beleza da arte sacra” (CIC nº 2503).
O que dizemos sobre a arte também podemos dizer quanto à música. Quais os critérios para o uso adequado do canto e da música nas celebrações litúrgicas? O CCIC responde, no ponto 239: “Uma vez que o canto e a música estão intimamente conexos com a acção litúrgica, eles devem respeitar os seguintes critérios:
1– A conformidade à doutrina católica dos textos, tomados de preferência da Escritura e das fontes litúrgicas;
2– A beleza expressiva da oração;
3– A qualidade da música;
4– A participação da assembleia;
5– A riqueza cultural do Povo de Deus e o carácter sacro e solene da celebração. ‘Quem canta reza duas vezes’ (Santo Agostinho)”.
Pe. José Mario Mandía