TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (102)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (102)

Qual a função do Purgatório?

Na última edição vimos que a entrada no Paraíso requere que a pessoa (1) esteja na graça e amizade de Deus, e (2) esteja perfeitamente purificada (Catecismo da Igreja Católica nº 1023).

A Carta aos Hebreus (12:14) ensina-nos: «Esforcem-se pela santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor». Numa visão semelhante, o Livro da Revelação (21:27) diz: «Nada de impuro entrará ali».

Do que deve uma pessoa ser purificada, se não tem consciência de qualquer pecado mortal ou grave, no momento da morte? Precisa pois de ser purificada dos pecados veniais e da chamada “dívida de punição temporal”. Deixem que vos explique.

Nós sabemos que a confissão perdoa os pecados. No entanto, em cada pecado devemos distinguir duas realidades: (1) a culpa em si mesma e (2) o dever de justiça para compensar ou reparar o dano causado. Sempre que ofendemos um amigo, devemos pedir perdão; mas tal não significa que não tenhamos de fazer algo mais. É que não basta mostrarmos arrependimento e lamentarmos o que fizemos (ou deixámos de fazer), pois ainda estamos em dívida.

PECADOS MORTAIS– Quando cometemos um pecado grave ou mortal incorremos não apenas na culpa e divida de punição eterna. Na verdade, é uma punição que infligimos a nós próprios (falaremos mais sobre este tema quando discutirmos o Inferno). Esta punição eterna é o Inferno. Uma boa confissão desses pecados (1) perdoa a culpa e (2) comuta a dívida de um castigo eterno para um castigo temporal.

PECADOS VENIAIS– Cada pecado venial também acarreta culpa e dívida de punição temporal. A punição temporal pode ser “paga” na terra ou no Purgatório.

A purificação limpa-nos dos pecados veniais, dos quais talvez não tenhamos lamentado, e do castigo temporal – é a reparação que devemos a Deus.

Depois na morte, quando uma pessoa (a alma) se encontra banhada pela luz e a verdade de Deus, ela vê imediatamente, de forma clara, o estado da sua alma. Não precisa de ser informada do que virá a seguir, porque entenderá a conclusão lógica de todas as escolhas que fez nesta vida.

Se a alma sabe que morreu na graça de Deus, mas ainda tem alguns pecados veniais ou algumas dívidas por pagar, saberá que deve ser primeiramente purificada. Nesse caso, é necessário o Purgatório. E o que é o Purgatório? “É o estado dos que morrem na amizade de Deus, mas, embora seguros da sua salvação eterna, precisam ainda de purificação para entrar na alegria de Deus” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 210).

A Bíblia não menciona directamente a palavra “Purgatório” (assim como não menciona outros termos importantes como “Santíssima Trindade” ou “Sacramentos”), mas fala sobre esta realidade. Na encíclica Spe salvi(Salvos na Esperança), no ponto 46, o Papa Bento XVI cita a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios para explicar o Purgatório: “Acerca da existência cristã, Paulo afirma antes de mais que está construída sobre um fundamento comum: Jesus Cristo. Este fundamento resiste. Se nele permanecermos firmes e sobre ele construirmos a nossa vida, sabemos que este fundamento não nos pode ser tirado, nem mesmo na morte. E Paulo continua: «Se alguém edifica sobre este fundamento com ouro, prata, pedras preciosas, madeiras, feno ou palha, a obra de cada um ficará patente, pois o dia do Senhor a fará conhecer. Pelo fogo será revelada, e o fogo provará o que vale a obra de cada um. Se a obra construída subsistir, o construtor receberá a paga. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá a perda. Ele, porém, será salvo, como que através do fogo» (3,12-15). Seja como for, neste texto torna-se evidente que a salvação dos homens pode acontecer sob distintas formas: algumas coisas edificadas podem queimar completamente; para alcançar a salvação, é preciso atravessar pessoalmente o «fogo» para se tornar definitivamente capaz de Deus e poder sentar-se à mesa do banquete nupcial eterno”.

E o que é este “fogo”… é o que iremos explicar da próxima vez.

Pe. José Mario Mandía

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