INSTITUTO RICCI RECORDA ACÇÃO CULTURAL DOS JESUÍTAS NA CHINA DE OITOCENTOS

INSTITUTO RICCI RECORDA ACÇÃO CULTURAL DOS JESUÍTAS NA CHINA DE OITOCENTOS

François Ravary, o sacerdote que deu música a Xangai

Músico, professor de música, construtor de instrumentos musicais, divulgador dos preceitos da cultura musical do Ocidente, dinamizador de orquestras e sacerdote. A obra e o legado do padre François Ravary vão estar em destaque a 11 de Novembro numa palestra promovida pelo Instituto Ricci de Macau que vai analisar a influência que o jesuíta francês teve na cultura musical de Xangai, na segunda metade do Século XX.

A iniciativa, agendada para o final da tarde do dia de São Martinho, vai ser moderada pelo padre Jaroslaw Duraj a partir do campus da Universidade de São José, na Ilha Verde, com o orador convidado – o musicólogo e compositor norte-americano David Francis Urrows – a intervir através de videoconferência, dadas as restrições em vigor no território devido à pandemia do Covid-19.

Antigo docente na Universidade Baptista de Hong Kong e agora investigador-associado do Instituto Ricci de Macau, David Urrows debruçou-se ao longo dos últimos três anos sobre a acção desenvolvida pelo padre François Ravary depois de ter integrado, em 1856, a missão jesuíta de Jiangnan, nos arredores de Xangai. «Durante o Fórum do Instituto Ricci de Macau, agendado para 11 de Novembro, o professor Urrows vai apresentar as conclusões da sua investigação, tendo por base as cartas e os escritos do padre François Ravary, bem como outras fontes primárias datadas da segunda metade do Século XX», explicou o padre Jaroslaw Duraj, em declarações a’O CLARIM.

O trabalho conduzido por David Urrows oferece uma rara perspectiva sobre a acção cultural dos missionários jesuítas na China na sequência da restauração da Companhia de Jesus, no rescaldo das Guerras Napoleónicas. «Desde o início da missão à China, na recta final do Século XVI que os jesuítas reconheceram o poder da música, a par de outras artes ocidentais, como veículos de grande utilidade para a promoção da fé e da ciência. Foi exactamente isso que aconteceu, não obstante a opinião convencional de que a música não era propriamente um ponto forte no seio da ordem e de se ter convencionado que “os jesuítas não sabem cantar”», salientou o sacerdote polaco. «Muito se escreveu sobre a faceta artística dos jesuítas e de outras missionários na Ásia durante o período da “Controvérsia dos Ritos”, no início do Século XVII. No entanto, ainda há poucos estudos feitos sobre a acção da “Nova Companhia” depois de 1814, depois da restauração da ordem jesuíta», acrescentou.

Ainda que as circunstâncias tenham mudado, a acção cultural das missões jesuítas na China durante o Século XIX foi tão ou mais vibrante que a desenvolvida pelas missões pioneiras da Companhia de Jesus e o padre François Ravary foi um dos maiores expoentes da figura do missionário erudito, versado em música e composição. Ao jesuíta francês, falecido na China em 1891, deve-se o segundo órgão de tubos de bambu construído no Império do Meio, a primeira banda de metais da China e a primeira Orquestra Sinfónica de Xangai. O padre Ravary foi ainda uma força motriz da educação musical na segunda metade do Século XIX na região de Xangai, ao promover o ensino de música, a composição musical e o fabrico de instrumentos.

Marco Carvalho

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