TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (101)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (101)

Como nos podemos tornar aptos a entrar no Céu?

Jesus disse aos seus apóstolos: «Eu vos digo: muitos tentarão entrar [no Paraíso]e não serão capazes (Lucas 13:24)». Se assim é, quais são então os requisitos que nos permitem alcançar a felicidade eterna? O Catecismo da Igreja Católica (nº 1023) responde: “Os que morrerem na graça e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente purificados, viverão para sempre com Cristo”.

Há dois aspectos neste requisito:

1– “Morrer na graça e amizade de Deus”. No momento da morte devemos estar cientes de não ter nenhum pecado mortal ou grave que não tenha sido perdoado, pois um pecado mortal é equivalente à rejeição completa de Deus e de tudo o mais que Ele nos prometeu dar.

A Graça Santificante é como um passaporte que nos identifica como cidadãos do paraíso. Pecando de forma grave, deitamos fora esse “passaporte”. Se tal acontecer, teremos de o recuperar por meio do Sacramento da Reconciliação, antes de podermos reclamar o direito de sermos admitidos no paraíso.

2– “Perfeitamente purificados”. Significa que devemos estar “limpos” de todas as consequências do pecado. São-nos concedidas muitas oportunidades – chances, se preferirmos – para nos purificarmos, seja aqui na terra, de forma passiva ou activa, ou na vida após a morte (purgatório). Falaremos mais sobre este assunto no próximo ensaio.

Precisamos ser purificados porque o paraíso é uma experiência de Deus. «Por agora, vemos vagamente num espelho, mas depois veremos cara a cara. Por agora, eu sei parcialmente, mas depois compreenderei na totalmente, assim como eu fui totalmente compreendido (I Coríntios 13:12)». A menos que a alma seja purificada e limpa de imperfeições e manchas, ela não será capaz de desfrutar dessa visão directa, assim como um homem com visão deficiente não pode apreciar uma paisagem ou uma pintura.

Para entendermos a visão beatífica, precisamos de distinguir quatro níveis do nosso conhecimento de Deus:

1) O primeiro nível é conhecê-Lo pela nossa razão. Esta forma de conhecer Deus é indirecta e passa pelas criaturas de Deus. Conhecemos o “designer” pelos seus desenhos e o Criador pelas suas criaturas.

2) O segundo nível é o conhecimento por intermédio da fé (A Luz da Fé ou A Luz dos Fiéis). Deus dá à nossa mente a capacidade de aceitar e conhecer verdades que apenas a razão humana, por si só, não consegue descobrir. A fé pode ser comparada a uns óculos de visão nocturna que possibilitam ver coisas que outras pessoas não conseguem ver no escuro, isto é, sem luz. Este é também um conhecimento indirecto de Deus, pelo qual O conhecemos através das Sagradas Escrituras e da Sagrada Tradição, conforme é explicado pelo Magistério.

3) Avançamos ainda mais no nosso conhecimento de Deus por intermédio do dom da Sabedoria, um dos dons do Espírito Santo que nos faz “experimentar” Deus, com a Sua sabedoria, bondade e poder. Este conhecimento é uma maneira directa de conhecimento, semelhante a sermos apresentados pessoalmente a alguém.

4) O conhecimento mais elevado é a luz da glória (“lumen gloriae”) ou visão beatífica, alcançável apenas no Céu, pela qual nos é dada a capacidade de contemplar Deus face a face. É como receber um tipo especial de óculos que nos permite olhar directamente para o Sol. “Em virtude da sua transcendência, Deus não pode ser visto tal como é, senão quando Ele próprio abrir o seu mistério à contemplação imediata do homem e lhe der capacidade para O contemplar. Esta contemplação de Deus na sua glória celeste é chamada pela Igreja ‘visão beatífica’” (CIC nº 1028).

Pe. José Mario Mandía

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