Há um “dresscode” para ir à igreja?
Todas as pessoas têm uma vida social. Relacionam-se em família, também se encontram com os vizinhos e cultivam a amizade com as pessoas mais íntimas. É diferente estar em férias, na praia ou no campo, estar num estádio a ver um desafio de futebol, ou estar no trabalho diário com as mesmas pessoas com quem se partilha a eficácia da acção desenvolvida. Além disso, há associações culturais, desportivas, artísticas e até religiosas em que as conversas são do interesse comum. Em cada uma destas situações é preciso saber estar, isto é, usar uma linguagem que signifique o respeito por todos, ter atitudes que cultivem a paz, distinguir aqueles que merecem mais respeito (pela idade ou pelo lugar que ocupam), ter iniciativas que facilitem uma vida social, harmoniosa e que a todos faça felizes. Todo este estar em sociedade deverá aprender-se em família, na escola e no convívio com os outros.
Em muitos colégios, sobre tudo aqueles que têm como objectivo desempenhar um papel na sociedade, existem aulas de cidadania, que em muitos casos se chamam de “urbanidade”, isto é, saber estar em público. É assim, por exemplo, no Colégio Militar, nos Pupilos do Exército, ou mesmo nos seminários. Nestas aulas aprende-se a estar à mesa, a participar em eventos sociais e até a participar em actos religiosos, como casamentos e baptizados. É claro que em cada uma das circunstâncias também se diz como cada um se deve vestir para ser bem visto naquela circunstância específica. Todas as pessoas sabem o que vestir num casamento, num aniversário, numa cerimónia de doutoramento, num jantar de Natal ou de Páscoa, circunstâncias que deverão ter uma “toilette” mais cuidada. Para os homens é relativamente fácil – o fato e a gravata. As senhoras têm mais exigência porque não podem vestir muitas vezes o mesmo vestido, ainda que bonito.
Toda a gente sabe como deve estar na praia, com fatos de banho mais ousados ou mais simples. Também se sabe como estar no campo, no saborear da sombra das árvores, no acompanhar das vindimas, ou maravilhar-se com os animais do campo. Agora, há lugares que exigem uma “toilette” mais cuidada. Quero contar duas histórias que são paradigmáticas:
– Numa peregrinação à Terra Santa, ao chegarmos à mesquita de Omar, todos nos descalçámos e as senhoras que, em pleno Verão, tinham um traje mais leve tiveram de vestir umas capas que lhes foram oferecidas para o corpo estar todo coberto. Esta era condição de visitar esse grande monumento milenar.
– No Vaticano, uma delegação portuguesa participou nas Conferências Internacionais sobre Saúde. A delegação portuguesa de uma destas conferências foi presidida pela Dra. Maria de Jesus Barroso, mulher do Presidente da República [Portuguesa], ao tempo. Antes de entrar no Vaticano, a Sra. Dra. mandou parar o carro, despiu o casaco de peles (era Inverno) e pôs um lindo xaile cinzento, adiantando: «Neste lugar com sacerdotes, com leigos que são servidores da evangelização, não se pode entrar de casaco de peles».
Em conclusão: cada lugar, em determinada circunstância, tem o seu modo de vestir.
Nas cerimonias litúrgicas, por vezes, e sobretudo no Verão, há pessoas e até leitores ou ministros da Eucaristia com uma maneira de vestir imprópria. Também cristãos vão à Missa nas suas férias com fato de banho, com o argumento de que estão na praia. Isto é absolutamente inadmissível. No tempo dos nossos avós havia o fato domingueiro, o melhor, para ir à Missa. Com a invocação de uma certa simplicidade, houve a tentação de não ter cuidado no vestir para os sacramentos da Eucaristia, dos casamentos e baptizados. Vestir bem, com recato, com elegância e com uma normal beleza deve ser apanágio do cristão ao participar nas liturgias. A leveza que actualmente se põe na maneira de vestir para ir a Igreja tem, muitas vezes, o sentido de pouco respeito pelo Senhor que adoramos e quase provocação para os irmãos. E da mais elementar educação saber estar bem nas liturgias da Igreja.
MONSENHOR FEYTOR PINTO
Sacerdote da Paróquia do Campo Grande, em Lisboa
In Família Cristã