O Mistério Central da Fé Cristã
A Santíssima Trindade é o dogma central sobre a natureza de Deus na maioria das igrejas cristãs. Esta crença afirma que Deus é um ser único em três pessoas ou hipóstases (natureza de algo) distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ou seja, um só Deus em três pessoas. Trindade significa, assim, um Deus e três pessoas distintas.
A Igreja Católica dedica o Domingo a seguir ao Pentecostes para a celebração da Santíssima Trindade. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica explica-o assim: “A Igreja exprime a sua fé trinitária confessando um só Deus em três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus, porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho” (CCIC nº 48). A Trindade é o mistério central da fé cristã, sendo que os cristãos são baptizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
A palavra Trindade deriva do Latim “trinitas”, que significa “três”, ou “tríade”. O equivalente grego é “triados”. O primeiro uso reconhecido do termo foi efectuado por Teófilo de Antioquia (sabe-se que morreu em 183) por volta do ano 170, para expressar a união das três pessoas divinas em Deus. Expressou o conceito na sua obra “A Autolycus” (cerca do ano 180) para se referir a Deus, a sua Palavra (Logos) e a sua Sabedoria (Sophia). Alguns autores referem que o conceito fora já usado anteriormente, por volta de 215, por Tertuliano (viveu entre 160 e 220), num dos seus polémicos escritos – “Adversus Praxeam II” – dirigidos contra o herege Práxeas, um seguidor da doutrina cristã conhecida como “monarquianismo”, quando referira que “os três são um, pelo facto de os três procederem de um, pela unidade de substância”. Mas, de forma clara, foi o bispo de Antioquia, Teófilo, como se disse, que “inaugurou” o uso do termo. Assim, segundo o mesmo, nos primeiros três dias que precederam a criação do Sol e da Lua, o Bispo vira imagens da Trindade: “Os três dias que precedem a criação dos corpos luminosos são símbolos da Trindade, de Deus, da sua Palavra e da sua Sabedoria” (“A Autolycus”, o mesmo que “Para Autólico”, 2, 15).
A Igreja definiu infalivelmente o dogma da Santíssima Trindade. Este foi definido em duas etapas, no primeiro Concílio de Nicéia (325 d.C.) e no primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C.). No Concílio de Nicéia foi definida a divindade do Filho e escrita a parte do Credo que trata dessa “parte”. Este Concílio foi convocado para enfrentar a heresia ariana, que afirmava que o Filho era um ser sobrenatural, mas não Deus. No Concílio de Constantinopla foi então definida a divindade do Espírito Santo. Este Concílio combateu uma heresia conhecida como “macedonismo” (porque os seus defensores eram da Macedónia), que negava a divindade do Espírito Santo.
A Trindade baseia-se na revelação divina deixada por Cristo, não podendo ser demonstrada pela razão natural ou apenas pelo Antigo Testamento.
A Bíblia ensina que só existe um Deus, como já ficou claro no Antigo Testamento, quando o profeta Isaías (43, 10) referia que nenhum Deus foi formado de Deus, portanto, como nenhum outro existirá depois. O Pai é proclamado como Deus inúmeras vezes no Novo Testamento. A Bíblia também proclama que o Filho é Deus, repetindo-o em vários lugares do Novo Testamento, como se vê logo no início do Evangelho de São João: «1No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. (…)14E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Vimos a sua glória, glória como a do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade» (João 1, 1, 14). Também as Escrituras proferem que o Espírito Santo é Deus e as Escrituras tal afirmam. A distinção de três Pessoas divinas é também demonstrada pela Bíblia, como quando Jesus fala com o Pai. O Filho procede do Pai por uma geração verdadeira e o Espírito procede do Pai e do Filho, de acordo com o Credo Niceno-Constantinopolitano.
Nos Concílios ecuménicos, a terminologia do termo foi clarificada e padronizada para que a fórmula “Três hipóstases numa ousia (essência)” fosse aceite como a epítome da doutrina ortodoxa sobre a Trindade: de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três diferentes hipóstases em uma única divindade. A palavra também é utilizada para se referir à divindade de Cristo, na chamada união hipostática das suas naturezas – divina e humana – numa única hipóstase. A palavra em si foi tema de grande controvérsia e confusão ao longo dos tempos, especialmente no debate entre os críticos da doutrina da Trindade e os seus defensores.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa