Alguns livros inspiradores para a Viagem – 4
A espiritualidade contemporânea é plural e variada, continuamente enriquecida por santos, místicos, especialistas, escritores e pessoas comuns honestas – e ainda por irmãos não cristãos.
Entre os autores cristãos que recentemente tiveram, ou continuam a ter, um impacto significativo em mim – e em muitos outros –, por diferentes razões, cito: John Henry Newman (1801-1890), Apologia pro Vita Sua; G. K. Chesterton (1874-1936),The Everlasting Man; C. S. Lewis (1898-1963), The Signature Classics; Simone Weil (1909-1943), Gravity and Grace (postumamente publicado em 1952); Thomas Merton (1915-1968)), New Seeds of Contemplation; Santa Teresa de Calcutá (1910-1997), Come Be My Light, The Private Writings of the Saint of Calcutta; Anthony de Mello (1921-1987), Sadhana: A Way to God; Henri Nouwen (1932-1996), The Return of the Prodigal Son; Hans Urs von Balthasar (1905-1988), Prayer; Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), The Cost of Discipleship; Santa Teresa Benedita da Cruz, OCD, de nome de nascimento Edith Stein (1891-1942), Essential Writings; Santa Elisabete da Trindade (1880-1906), Heaven and Earth; Georges Bernanos (1888-1948), The Diary of a Country Priest; John G. Arintero (1860-1928), Evolución mística (Mystical Evolution); Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), The Phenomenon of Man; Dorothy Day (1897-1980), The Long Loneliness; Gustavo Gutiérrez (nascido em 1928), We Drink from Our Own Wells. The Spiritual Journey of a People; Rick Warren (n. 1954), The Purpose-Driven Life; José Luis Martin Descalzo (1930-1991), Razones para vivir (Reasons to Live).
Também gosto de ler obras inspiradoras de outros autores cristãos e não cristãos. Num mundo frequentemente permeado por livros, romances cheios de violência, luxúria e poder despótico, é refrescante ler livros inspiradores e espirituais que realçam a interioridade, a espiritualidade, a harmonia e a paz.
Neste contexto, recordo o pequeno e rico livro Rumor of Angels: Modern Society and the Rediscovery of the Supernatural, do sociólogo Peter Berger (1929-2017). Muitos dos livros actuais que menciono nesta última coluna, de mais uma série dedicada à espiritualidade, são livros importantes – geralmente, “best-sellers” – para muitas pessoas no nosso mundo secularizado. Estes livros, que ajudam muitos a entrar no mundo surpreendente do transcendente, místico e misterioso, são como rumores de anjos – vozes suaves e inspiradoras do sobrenatural nas nossas sociedades geralmente seculares, indiferentes e materialistas.
Encontro igualmente alegria e esperança nos seguintes livros: The Prophet, Kahlil Gibran (1883-1931); Gitanjali (Músicas para Ofertório), Rabindranath Tagore (1861-1941); Man’s Search for Meaning, Viktor Frankl (1905-1997); The Little Prince, Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944); The Art of Happiness, pelo (14.º) Dalai Lama (nascido em 1935); Jonathan Livingston Seagull, Richard Bach (n. 1936); The Alchemis, Paulo Coelho (n. 1947); Tuesdays with Morrie, Mitch Albom (n. 1958), etc.
As pessoas anseiam por Deus, com um desejo que é um anseio natural que pode ser coberto ou enterrado, mas não destruído. Todas as fontes apontam, de diversas formas e linguagens, para a procura do sentido da vida, da felicidade, da esperança, do amor, da compaixão, do perdão. Consciente ou inconscientemente, individualmente ou em comunidade, todas as pessoas são buscadoras da paz interior e exterior – de Deus. Santo Agostinho disse-o bem no início das suas Confissões: “Tu, Senhor, fizeste-nos para ti, e os nossos corações estão inquietos enquanto não descansam em ti”.
CONHECIMENTO E PRÁTICA DA FÉ
E assim chegamos ao final desta série de textos. As Sagradas Escrituras, os escritos dos Pais (ou Padres) da Igreja, o Magistério da Igreja, os Clássicos da Espiritualidade Cristã e os livros inspiradores da actualidade guiam os cristãos, as mulheres e os homens de boa vontade no seu caminho de vida como co-peregrinos de Deus.
A espiritualidade ou teologia espiritual fala das experiências de Deus e dos seus testemunhos escritos. O objectivo da espiritualidade cristã não é principalmente o conhecimento da Santidade, mas uma vida santa. O seu objectivo último é – tal como para uma vida moral – a visão beatífica de Deus, que é o Santo, que continua a convidar mulheres e homens a participar na sua santidade divina – a tornar-nos santos. São Boaventura escreveu: “A teologia existe para servir a contemplação e para nos tornar santos; no entanto, o seu primeiro objectivo é tornar-nos santos”. O teólogo Jean-Pierre Torrell diz: “A prática da teologia deve levar o teólogo a crescer em santidade. Não só os teólogos são chamados a isto como discípulos do Santo, mas a sua profissão acrescenta a este chamamento uma exigência singular: devem ser santos porque são teólogos”.
O maior desafio da espiritualidade no terceiro milénio é, sem dúvida, a prática correcta, a ortopraxia. A espiritualidade não consiste apenas em saber o que é bom, mas em ser bom, em praticar a virtude. De facto, “saber e não fazer ainda não é saber” (Provérbio Budista). A nossa fé cristã não consiste apenas em conhecer Cristo, mas em segui-Lo. Miguel de Unamuno recorda-nos que Cristo não escreveu nenhum livro ou artigo, mas deu-nos o melhor livro: palavras vivas. A espiritualidade ou a vida espiritual e moral deve esforçar-se – e eu modestamente o faço – por dar ao nosso mundo não só artigos e livros teológicos académicos e bem estudados, mas também palavras vivas, isto é, testemunho do seu ensinamento. Na verdade, não só os teólogos, os pregadores e os professores de religião, mas todos os cristãos são impelidos pela sua fé em Jesus a falar ao mundo do seu amor através do seu testemunho, o testemunho de todos os cristãos, isto é, dos sacerdotes, das pessoas consagradas e dos fiéis leigos.
Fala-se de uma espiritualidade para o presente. Os cristãos, como muitos outros seres humanos, aprendem com o passado – com os Clássicos – e caminham para o futuro da esperança através da fidelidade amorosa ao presente, um presente permeado pela presença e pela experiência de Deus. A espiritualidade cristã, diz Yves Congar, é uma espiritualidade do momento presente: o momento, este momento é um tesouro, a única coisa que está nas mãos de cada pessoa. De facto, como ensinam os budistas Zen, “a vida consiste numa série de momentos vividos ou perdidos”.
Os escritores, pregadores e mestres da espiritualidade cristã tentam persuadir os discípulos de Jesus e outros da necessidade de transformar a vida quotidiana num “culto espiritual que agrade a Deus”.
Pe. Fausto Gomez, OP