Síria, A Verdadeira História (8)

Próximo da morte

Era uma hora da tarde quando o rocket caiu. Era para ir ao terraço. A residência episcopal é bastante grande e no terraço há um pequeno quarto onde lavávamos a roupa. Estava na escada (para o terraço) quando um dos padres, que estava no andar de baixo, me chamou e disse: «– Irmã onde está? Por favor, venha cá!». Respondi: «– Dê-me dois minutos. Vou só dar uma vista de olhos à máquina de lavar a roupa e já vou». Então o padre insistiu: «– Não, não, venha já, porque tenho que algo para lhe dizer».

Sagrada obediência! Fechei a porta do terraço e desci alguns degraus… quando o rocket caiu. O barulho da explosão foi terrível. Senti como se fosse um tremor de terra, mesmo já estando habituada às explosões que se sucediam a todo o momento – a cada quinze minutos, a cada meia hora…

O rocket caiu tão perto que mesmo estando no terceiro andar do prédio conseguíamos ver pelas janelas bocados de asfalto e peças de automóveis a voar pelos ares. Havia restos humanos em todos os terraços dos prédios adjacentes.

De imediato, os padres saíram para a rua para ajudar os feridos. Nós acolhíamos as pessoas que chegavam à catedral, que estava tão danificada como a residência episcopal. As pessoas chegavam feridas, era o caos, a confusão. Acima de tudo queríamos saber dos nossos estudantes. Na residência episcopal havia um albergue para estudantes universitários. Era uma hora da tarde, altura de saída da universidade e faltava um dos nossos estudantes.

Descobri esse estudante (uma rapariga) no meio do caos e da confusão, sentada num banco, com o cabelo despenteado e esbranquiçado. Pensei: “Ela veio de lá de fora, de onde se deu a explosão”. Quando me aproximei, gritou-me que o seu braço lhe doía muito. «– Bem, talvez tenhas uma fractura, não é grande mal. Vou ajudar-te a andar».

Para reduzir a dor que sentia, despi-lhe o casaco. E vi que tinha um pedaço de metal cravado nas costas. Levámo-la para fora de casa (ela não podia ver o que lhe acontecera). Com grande dificuldade conseguimos metê-la num carro para levá-la para o hospital. Um padre recebeu a sua confissão; chegou um cirurgião e conseguiram salvá-la, removendo-lhe o pedaço de metal que tinha perfurado um dos pulmões. Estava em vias de sufocar, mas acabou salva de forma milagrosa.

Estou a descrever apenas um caso, de apenas uma pessoa ferida, de uma única explosão, apenas de uma.

Nesse mesmo dia, à tarde, algumas horas depois, as pessoas que se encontravam na catedral – jovens – começaram a chegar. Limparam e prepararam o átrio da entrada da residência episcopal para a Missa – não podíamos usar a catedral, há já há alguns meses, devido aos extensos danos provocados pelos bombardeamentos). A partir desse dia, o número de pessoas que assistia à missa duplicou. E estou a falar da Missa diária, não da Missa Dominical.

Irmã Maria da Guadalupe Rodrigo

(Tradução: Pe. José Mario Mandía e António R. Martins)

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