Síria, a verdadeira história (14)

Estamos a educar crianças para serem egoístas

Reclamamos muito dos jovens. Quando estou na Argentina ouço muitas vezes essas reclamações: “Oh, esta juventude sem rumo, não é constante; não sabe perseverar; é incapaz de se dedicar a algo; deixa tudo por acabar…”. Mas isso é porque nós não os preparámos para enfrentarem a vida.

Vemos os casamentos a falharem; pessoas que vivem dez anos de namoro apaixonado, mas que ao fim de dois anos de casados separam-se. Dois anos! O que é que aconteceu? “É demasiado duro” (dizem eles).

Mas quem foi que lhes disse que ia ser fácil? Podem mostrar-me onde é que está escrito que o casamento é uma coisa fácil?

E isto está a acontecer connosco. Criámos as nossas crianças nesta sociedade de consumo, de auto satisfação e materialismo, onde reina o “EU”, “EU” e “EU”. Apenas uma ou duas crianças nas famílias. E depois cria-se o terrível problema que quando alguma dessas crianças se casa tem que partilhar algo com outra pessoa. Agora já não está só, pois existe mais um ou uma (outra pessoa). E então surge um terrível problema, que seria evitado se não os tivéssemos criados de forma egoísta. Não estão dispostos (a partilhar), nem sequer sabem qual é o significado da palavra “renúncia”. A renúncia de uma pessoa é feita a pensar no bem de outra pessoa. E não sabem como fazê-lo porque nunca os ensinaram como se faz.

Reparem como estes (sírios) nos dão um bom exemplo: o sofrimento na nossa vida é um trampolim, é um trampolim para crescermos, é um trampolim para o Paraíso! O sofrimento forma personalidades livres e fortalecidas.

Vejam esta fotografia de um casal (talvez o tenham visto nos Meios de Comunicação Social) no dia do seu casamento. Vejam as paredes da igreja, que foi bombardeada, e as janelas que não têm vidros. O casamento foi ao meio-dia. A luz do Sol entra na igreja porque já não tem telhado.

É assim! Há tantas coisas que temos de ajustar para que os nossos jovens se possam casar.

Dez anos de namoro e, finalmente, decidiram a data do seu casamento. Juntaram as famílias à sua volta: «Queremos dizer-vos que fixámos a data (do casamento). Vamo-nos casar em 2025».

Em 2025!!??

«Sim, sim, porque assim teremos tempo suficiente para preparar os convites. Porque os convites irão ter uns bonitos desenhos florais que virão da Alemanha…».

Podem morrer enquanto esperam para se casarem, não chegando vivos à data do casamento. E se ainda estiverem vivos? Já viveram todo aquele tempo juntos e já não há nenhuma novidade para festejar.

O que estamos a alimentar nos nossos jovens? Estes (referindo-se ao casal da fotografia) casaram-se numa igreja sem telhado. Se eu quero fazer as coisas bem, posso fazê-las bem.

Irmã Maria da Guadalupe Rodrigo

(Tradução: Pe. José Mario Mandía e António R. Martins)

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