A chuva e o céu encoberto acompanharam-nos quase toda a semana. O vento marcou também presença e juntamente com o Sol ajudou a recarregar as baterias, de forma que não foi necessário usar o motor ao final do dia, mesmo com o dessalinizador ligado quase a tempo inteiro. Um feito que muitos dos nossos colegas e vizinhos não acreditavam, mas que graças ao sistema de painéis solares e ao gerador eólico é possível, quando a meteorologia ajuda. Com a chegada da chuva foram-se o vento e o Sol e tivemos de voltar a recorrer ao motor.
Como estivemos quase sempre retidos no interior do veleiro, aproveitei para proceder à reinstalação dos reguladores dos painéis solares e do alternador, mudando-os para o exterior do compartimento do motor, onde serão menos afectados pelas altas temperaturas geradas pelo motor. Um dos reguladores dos painéis solares tem uma etiqueta a indicar que a temperatura ideal de funcionamento deve ser, no máximo, de 45 graus centígrados. O compartimento do motor atinge, facilmente, 50 a 60 graus centígrados…
No exterior, para além de estarem a uma temperatura mais adequada ao seu normal funcionamento, garantindo uma energia mais regular e estável, estão também num local mais visível, onde facilmente podemos ver se tudo corre dentro da normalidade. Esta empreitada já estava planeada há algum tempo, ocupando um lugar de destaque na lista infindável de trabalhos de manutenção. Vinha sendo adiada pois pensávamos que seria mais complicado, mas afinal foi uma tarefa relativamente fácil mesmo para quem percebe pouco de electricidade.
Apesar do clima menos agradável, fizemos algo que havíamos planeado na primeira vez que visitámos St. Thomas, há dois anos.
Existe aqui um teleférico, direccionado aos clientes dos navios de cruzeiro, que dá acesso ao ponto mais alto da ilha. Dali tem-se uma vista panorâmica, sendo possível vislumbrar algumas das Ilhas Virgens Britânicas que ficam a mais de trinta milhas de distância.
Decidimos cumprir a caminhada que leva ao topo da montanha, onde a empresa que explora o teleférico tem um restaurante, poupando assim o dinheiro do bilhete e aproveitando para apreciar a natureza durante o percurso. O trajecto, feito com tempo fresco e muita sombra, levou mais de meia hora e colocou à prova a nossa resistência física. Principalmente a minha porque tive de carregar a Maria aos ombros. Mas valeu a pena o esforço, pois a vista do topo da montanha é realmente muito bonita. Pena que o dia estivesse pouco solarengo, mas mesmo assim deu para apreciar a imensidão do Mar das Caraíbas.
No rescaldo do esforço fiquei com dores nas costas que duraram quase uma semana. Sinal de que estamos a ficar velhos para certas aventuras e de que nossa filhota está a ficar pesada.
A semana que se aproxima será dedicada a limpezas no interior e exterior do veleiro, com vista à partida para Guadalupe. Estamos a pensar sair no final do mês para termos dias suficientes que permitam parar em Les Saintes e ali descansar um pouco antes de seguirmos para Pointe-à-Pitre, onde iremos receber os nossos amigos de Portugal.
Se os ventos se mantiveram como nestes dias – assim indicam os prognósticos meteorológicos – iremos primeiro apontar a St. Maarten e dali rumar a sul, ao contrário do que tínhamos em mente (ir directamente para Guadalupe, apontando à ilha de Monserrat). Já se os ventos voltarem ao normal no momento de zarparmos, então iremos recuperar o plano inicial, navegando em rota directa. Se tivermos de ir a St. Maarten faremos uma rota semelhante à que nos trouxe a St. Thomas (Guadalupe, Antigua, Sainte Barthelemy, St. Maarten e St Thomas).
A terminar, resta dizer que passámos uns dias bens agradáveis com os amigos do veleiro Maião, que já seguiram para norte. Devem estar, nesta altura, em Porto Rico, em direcção à República Dominicana e ao Haiti, tendo como destino final a ilha de Cuba, onde irão preparar a travessia que os levará a Portugal antes do início do Verão. Esperamos que encontrem bons ventos e que sejam bafejados pela sorte durante toda a viagem. Para já ficou marcado um novo encontro quando estivermos em Portugal. Os dois Josés revelaram-se excelentes companheiros e amigos, sendo que irão ficar nos nossos corações para sempre. Todos os dias a Maria pergunta por eles.
São estas amizades que nos marcam e que valorizam a nossa aventura. Desde que a iniciámos, há mais de dois anos, foram muitos os amigos que fizemos e com os quais continuamos a contactar de forma assídua. Infelizmente, dois casais amigos perderam este ano os seus veleiros – um nas Ilhas Virgens Britânicas e outro nas Bahamas. No entanto, nem esses contratempos fizeram com que deixassem de gostar deste estilo de vida. Um dos casais comprou uma auto-caravana e está a percorrer os Estados Unidos. Quando terminarem a viagem por terra deverão comprar um veleiro. Quanto ao outro casal, está a ver se encontra uma nova embarcação para voltar a viver na água o mais rapidamente possível.
JOÃO SANTOS GOMES