Síria, a verdadeira história (11)

O que eu faria se hoje fosse o último dia da minha vida?

Temos que viver como se cada dia fosse o último, porque (na Síria) pode realmente ser o último. Aliás, para todos e cada um de nós, cada dia pode realmente ser o último, e porque não? Não há bombardeamentos, mas pode-se ser vítima de um ataque cardíaco, ou ser colhido por um carro, ou alguém pode morrer de noite. Não sabemos quando.

Mas quando se vive lá (na Síria), com a consciência desta possibilidade, imagina-se: “Este pode ser o último dia da minha vida”. Pensem nisto como um exercício prático. Vamos assumir que temos uma revelação, e que sabemos que esta noite será o fim de tudo. Cada um de nós pode pensar: “Oh, e se tudo acabar esta noite, o que tenho de fazer? Tenho que ir confessar-me, pois tenho sempre evitado; tenho que ir confessar-me, tenho que pedir perdão, não é? E tenho que perdoar! Especialmente àquela pessoa que me vem pedindo perdão e eu não a quero perdoar”.

Tantas coisas que temos para fazer. Pensem apenas como a vida familiar seria afectada. É o último dia da minha vida. E é por causa disso (o pensamento da morte eminente) que alteraram o seu modo de viver.

Quando a minha mãe me telefona através da Internet, aprecio a conversa, se bem que não lhe diga, mas aprecio muito, pensando que poderá ser a última vez que falarei com ela. O que lhe desejo dizer? Que a amo!

Todas as nossas acções diárias serão as do costume, porque esse poderá ser o último dia da nossa vida. É por esse facto que a primeira, e única, preocupação que têm é ter as almas prontas. “Se eu morrer hoje, sei para onde quero ir”. É por essa razão que praticam os Sacramentos. Vão à Missa, sempre que podem. Cumprem exercícios espirituais. Realizamos um bom número de exercícios espirituais (Inacianos) no meio dos bombardeamentos, que nos preparam para uma boa morte.

Olhem para um destes estudantes universitários (aponta para uma fotografia). Olhem para a cara dela. Olhem para esta mulher. O seu nome é Amal. Tinha quatro filhos e nós tomávamos conta de um deles. Tinha quatro e perdeu um tragicamente. O rapaz tinha que ser submetido a uma cirurgia simples, no hospital, e estava à espera – acompanhado pela mãe. Estavam à espera do médico quando um rocket caiu perto do edifício. O hospital estremeceu (por causa da explosão) e então pediram para irem para outro quarto, porque aquele onde estavam encontrava-se muito perto da rua – era perigoso ficar ali.

A mãe saiu do quarto e, ao fazê-lo, outro rocket caiu muito perto da janela. Virou-se e viu o filho destroçado. O rapaz chamava-se Nahum. Chorou muito pelo filho, revelando: «O meu filho já estava preparado para o Paraíso; eu vi quando ele se preparou». Relembra que quando tinha medo que um rocket caísse na sua casa (no bairro cristão) Nahum citava-lhe um verso do Evangelho, dizendo: «Mãezinha, não tenhas medo! Podem matar o teu corpo, mas não a tua alma». Segundo a mãe: «Ele acalmava-me com essas palavras, e (acalmam-me) muito mais agora. Morreu na guerra, mas vive no Paraíso».

Irmã Maria da Guadalupe Rodrigo

(Tradução: Pe. José Mario Mandía e António R. Martins)

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