SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA – Ano A – 14 de Maio

SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA – Ano A – 14 de Maio

Nós em Deus e Deus em nós: a plenitude da nossa vida em Deus

«Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Dentro de pouco tempo o mundo não me verá mais; entretanto, vós me vereis. Porque Eu vivo, e vós da mesma forma vivereis. E naquele dia, entendereis que Eu estou no meu Pai, e vós, em mim, e Eu, em vós» (João 14, 18-20).

Passaram-se seis semanas desde o início da Páscoa, mas o Evangelho deste Domingo (Jo., 14,15-21) volta a repetir o discurso de despedida que Jesus fez aos Seus discípulos durante a Última Ceia antes da Sua morte iminente. Naquela época, Ele tentou preparar os discípulos para a dolorosa experiência da separação que os esperava. Apesar das Suas belas palavras de consolo e encorajamento, após a prisão e execução de Jesus, os discípulos ficaram chocados e cheios de terror e confusão, ainda incapazes de entender o significado salvífico da cruz que Jesus lhes tentou transmitir.

Então o inesperado aconteceu: o Cristo Ressuscitado apareceu-lhes, tendo ambos ficado muito felizes. Os discípulos sentiram-se aliviados ao ver Jesus vivo. Jesus não está morto! Ele é de facto o Messias, o Salvador do mundo! O Seu poder é mais forte do que o mal e a morte! A sensação de separação temporária desmoronou. Se Jesus estivesse vivo, então a vida poderia continuar como sempre, como nos velhos tempos: Jesus estando com eles em carne e osso, guiando-os, ensinando-os, realizando milagres e ajudando as pessoas como sempre fazia.

Mas a Ressurreição de Jesus não foi simplesmente um retorno à vida terrena, “porque a sua humanidade já não pode ser retida sobre a terra e já pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai” (Catecismo da Igreja Católica nº 645). “No seu corpo ressuscitado, Ele passa do estado de morte a uma outra vida, para além do tempo e do espaço” (CIC nº 646).

A partir de Maria Madalena diante do sepulcro, a mensagem de Cristo Ressuscitado aos Seus seguidores sempre foi: «Não me detenhas» (Jo., 20, 17) – um convite a relacionarmo-nos com Ele de uma forma diferente de antes. São Paulo usou a expressão: «Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas antigas já passaram, eis que tudo se fez novo!» (2 Cor., 5, 17). A verdadeira separação de que falava Jesus na Última Ceia, mais difícil de compreender do que a Sua própria morte, é precisamente esta: a necessidade de Ele voltar para o Pai, a Sua permanência connosco ao habitar no Espírito Santo dentro de nós: a missão que nos foi confiada pela Igreja, para que sejamos o Seu Corpo, visível e actuante no mundo.

«Eu estarei sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt., 28, 20), afirmou Jesus, mas com a certeza que não em corpo terreno. E porquê? Se Ele simplesmente permanecesse na Terra, sendo visível para todos, não teria sido melhor? Do ponto de vista de Deus, não! A Sua ascensão permitiu que Ele hoje esteja presente “dentro” de nós, e não simplesmente “entre nós”, como se fosse mais um simples amigo. Esta nova forma de estar presente só pode ser compreendida pela fé, e não simplesmente pelos sentidos. Por meio do Espírito Santo, Cristo Ressuscitado está vivo nos nossos corações e nas nossas acções, relações, e no nosso ser interior: “Ele está em nós” e “nós estamos em Deus”. No passado Domingo escrevi que Jesus nos preparava um “lar” para habitarmos. Neste Domingo, Jesus diz-nos que o próprio Deus virá e encontrará um lar para habitarmos.

Se antes do Pentecostes os discípulos, eventualmente, encararam o regresso de Jesus ao Pai como uma nova perda ou separação, depois da vinda do Espírito Santo os mesmos discípulos experimentaram o oposto. Ao desaparecer da percepção dos nossos sentidos e ao despertar em nós a necessidade de descobri-Lo pela fé, Cristo torna-se totalmente íntimo de nós. Todos, e não apenas aqueles que O conheceram pessoalmente, têm agora a possibilidade de desfrutar dessa intimidade impensável com Deus. A ausência de Jesus na carne, após a Ascensão, foi necessária para que Ele pudesse estar presente em todos os lugares, a qualquer momento e para qualquer pessoa, por meio do Espírito Santo.

Sei que estes pensamentos podem parecer bastante misteriosos e obscuros. Mas ao olhar para a vida de São Paulo, e para muitos outros santos que viveram depois dele e nunca encontraram o Jesus histórico, percebemos que o seu encontro e relacionamento com Cristo Ressuscitado no Espírito Santo foi o mais real e profundo possíveis. Nas palavras de São Paulo: «Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E essa nova vida que agora vivo no corpo, vivo-a exclusivamente pela fé no Filho de Deus, que me amou e se sacrificou por mim» (Gl., 2, 20). Para eles, o caminho da fé, a “observação dos Seus mandamentos”, tornou-se uma resposta de amor que brotava do coração, e não apenas uma obediência obrigatória a uma ordem externa.

Olhando para aqueles santos, percebemos verdadeiramente como a misteriosa presença de Cristo Ressuscitado “dentro” dos seus corações, por meio do Espírito, os ajudava a viver com intensidade, paixão e plenitude. Exactamente como disse Jesus: «Eu vivo, e vós da mesma forma vivereis» (Jo., 14, 19). Precisamos do Seu Espírito para nos tornarmos mais vivos.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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