RUÍNAS DE SÃO PAULO ACOLHERAM CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

«Sê um homem de Deus, anuncia a Deus»

RUÍNAS DE SÃO PAULO ACOLHERAM CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA COM MAIS DE DOIS MIL FIÉIS

Mais de dois mil fiéis, oitenta voluntários e um sermão em quatro línguas. A celebração em Macau do Mês Missionário Extraordinário conheceu no passado sábado o seu clímax, com a realização de uma eucaristia nas Ruínas de São Paulo. Perante mais de duas mil pessoas, o bispo D. Stephen Lee repetiu as palavras do Papa Francisco e convidou os presentes a assumirem a vivência da fé com sentido de missão.

«Sê um homem de Deus, anuncia a Deus». Foi este o apelo feito no último sábado pelo bispo D. Stephen Lee, na eucaristia solene com que a diocese de Macau fez culminar as celebrações do Mês Missionário Extraordinário. A efeméride foi proclamada pelo Papa Francisco para assinalar o centésimo aniversário da publicação da carta apostólica “Maximum Illud”, documento pontifício em que o Papa Bento XV define a evangelização como “a grande e santíssima missão confiada aos seus discípulos por Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Ao início da noite de sábado as escadarias das Ruínas de São Paulo revelaram-se pequenas para tanta gente, no regresso da eucaristia à antiga igreja da Madre de Deus, quinze anos depois do espaço ter recebido uma celebração litúrgica pela última vez. Perante uma assistência superior a mais de duas mil pessoas, entre fiéis e curiosos, D. Stephen Lee repetiu as palavras do Sumo Pontífice e exortou os católicos do território a partilharem o dom da fé. Numa homilia conduzida em quatro línguas – Cantonense, Português, Mandarim e Inglês – o bispo de Macau instou os presentes a olharem para a sua vivência de Cristo com um sentido de missão. «A vida divina não é um produto para vender. É uma riqueza que se dá, que se comunica e que se anuncia. Eis o sentido da missão. Recebemos gratuitamente este dom e gratuitamente partilhámo-lo sem excluir ninguém. Deus quer que todos os homens sejam salvos, que cheguem ao conhecimento da verdade e à experiência da sua misericórdia por meio da Igreja, sacramento universal de salvação», sublinhou D. Stephen Lee num sermão emotivo que se prolongou por mais de meia hora. «Cada baptizado, cada baptizada é uma missão. Cada alma põe-se em movimento, sente-se impelida para fora de si mesma, é atraída e atrai, dá-se ao outro em relações que geram vida. Cada um de nós é uma missão no mundo porque é fruto do amor de Deus», reiterou o prelado.

A mensagem parece ter sido bem acolhida pelos presentes. Numa celebração em que se cantou e rezou em várias línguas e que pontificaram representantes das diferentes comunidades que têm a RAEM como casa, o apelo de D. Stephen Lee para que os católicos encaram a vivência da fé como uma missão tocou o coração de muitos, no entender da Irmã Maria Lúcia Fonseca, da Congregação das Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora: «Tenho a certeza que muitos ouviram a mensagem do senhor bispo e quando os sacerdotes e a eucaristia falam, é Deus que nos fala. Toda a gente leva uma mensagem. A semente caiu. E tenho a certeza que caiu em muitos corações, mesmo naqueles que se calhar não iam à missa. Estou certa que saíram daqui com essa semente, que vão levar para as suas casas e que vai frutificar».

O apelo, defendeu a religiosa, poderá ter tocado mesmo o coração de quem ainda não conhecia a Palavra de Deus e a vivência de Cristo. Foram dezenas os turistas que se sentiram atraídos pela celebração eucarística, dando mostras de uma deferência e de uma reverência que comoveram a irmã Maria Lúcia. «Eu admiro, sinto profundamente e comovo-me com estes acontecimentos, que são os acontecimentos mais transcendentes que podem existir na terra: uma eucaristia campal, entre o Céu e a Terra, tanta gente, tantos turistas que, por curiosidade, por fé, por devoção, se recolheram aqui. Passaram, espreitaram, num silêncio profundo. Deus fala no silêncio», referiu a franciscana, tendo acrescentado: «Este momento foi uma realidade autenticamente missionária. Aqui hoje lançou-se uma semente que vai produzir, tenho a certeza absoluta, frutos imensos, imensos, imensos».

VOLUNTARIADO E MISSÃO

Para muitos dos presentes, o apelo para olhar a vivência da fé com um sentido de missão não constitui nada de novo, como lembrou Jenny Lao-Philips. A docente da Universidade de São José foi convidada pela diocese de Macau para integrar a comissão organizadora das celebrações do Mês Missionário Extraordinário. Para além de sacerdotes nomeados pelo Cúria Diocesana, o organismo integrava ainda representantes de cada uma das nove paróquias em que está dividido o território. «Alguns dos membros foram nomeados pela Diocese e, para além destes, há ainda um representante de cada uma das nove paróquias. No total, a comissão é composta por dezasseis pessoas, incluindo sacerdotes, missionários, representantes das paróquias e eu. Para a celebração propriamente dita contamos com a colaboração de um grupo de oitenta voluntários que ajudaram a preparar o altar e a zelar por questões como a ordem e as segurança», explicou Jenny Lao-Philips. «Muitos deles já trabalham como missionários. Muitos dos voluntários que nos ajudaram a colocar de pé esta iniciativa servem a Igreja e a Doutrina da Igreja através de diferentes organizações e associações. Todos eles têm vindo a fazer o trabalho de Deus», rematou a directora da School of Business and Law da Universidade de São José.

A missa solene com que a diocese de Macau assinalou o Mês Missionário Extraordinário constituiu um raro momento de vivência da fé católica no território. É necessário recuar mais de quinze anos, ao Ano da Eucaristia, celebrado em 2004, para localizar a derradeira ocasião em que o complexo patrimonial da antiga igreja da Madre de Deus recebeu uma celebração a nível diocesano. Para Jenny Lao-Phillips, não há outro local em Macau que melhor personifique o espírito de missão que o Papa Francisco quer ver associado à experiência de fé que cada um desenvolve. «A igreja da Madre de Deus foi a certa altura a maior catedral do Extremo Oriente. Era aqui que os missionários eram preparados para partir em missão para a China e para outras partes da Ásia. Tem um significado imenso no âmbito desta celebração do Mês Missionário Extraordinário e foi por isso que no final do ano passado pedimos autorização ao Governo, no sentido de perceber se poderíamos garantir a autorização para aqui celebrar missa», ilustrou a docente da Universidade de São José. A concluir, deixou uma garantia: «Acredito que muitos dos católicos que aqui estão, estão muito felizes. Uma celebração como estas não é algo que acontece todos os dias. Tivemos a enorme felicidade de aqui poder voltar a celebrar a eucaristia».

MARCO CARVALHO

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