D. Anton Jamnik

D. ANTON JAMNIK, BISPO AUXILIAR DE LJUBLJANA

USJ e Instituto Ricci ajudam a criar Universidade Católica da Eslovénia

A Universidade de São José e o Instituto Católico da Eslovénia vão promover o intercâmbio de alunos e professores já no próximo ano. A novidade foi avançada a’O CLARIMpelo bispo auxiliar de Ljubljana, que adiantou ainda que a instituição de Ensino Superior eslovena vai também cooperar com o Instituto Ricci de Macau. Professor de Filosofia e de Ética, e académico de renome, D. Anton Jamnik em discurso directo.

O CLARIMParticipou no simpósio organizado pelo Instituto Ricci, que debateu temas como a contemplação e o martírio. De certo modo, a Igreja Católica abandonou esta tradição de contemplação e o martírio é encarado como algo do passado. Que relação há entre a contemplação e o martírio? E que importância têm para o futuro da Igreja?

D. ANTON JAMNIK– Quero felicitar o Instituto Ricci pelo seu vigésimo aniversário. Os tópicos em debate neste simpósio são de grande importância para o nosso quotidiano. Se olharmos para a história da Igreja, a contemplação e a meditação foram muito importantes na fase inicial do Cristianismo e permaneceram importantes durante vários séculos. Conhecemos muito bem a nossa história, sabemos que as nossas raízes estão no martírio, mas o martírio nem por isso é algo do passado. Continuam a existir mártires nos dias que correm. No dia-a-dia devemos ter uma grande capacidade de sacrifício: nas empresas para as quais trabalhamos, nas escolas onde ensinamos ou nas Universidades onde estudamos. A principal questão que devemos colocar a nós próprios é uma só: como podemos falar directamente de coração a coração – “cor ad cor loquitor” – o que São John Henry Newman definiu como a sua principal missão. Se o nosso coração estiver cheio de liberdade, cheio de alegria e cheio de esperança, podemos ser missionários junto dos outros, junto dos nossos vizinhos, qualquer que seja o seu credo ou religião. No mundo actual, a meditação e a contemplação ainda são muito importantes – eu tive a oportunidade de discutir isto no simpósio – porque a grande doença deste mundo cada vez mais globalizado é a ambição de ganhar dinheiro, dinheiro, dinheiro, a ambição de ter poder e de ter prazer. O que podemos fazer para alterar isto? Antes de mais é necessário que tenhamos consciência e que o principal milagre de que somos testemunhas é o milagre da vida. Devemos ter a capacidade de ser uma dádiva para os outros. Encontrei-me com o Papa Francisco recentemente, depois de ter estado com ele no ano passado, e em ambas as ocasiões ele disse-me: «Todos fomos feitos à imagem do Senhor». Temos de respeitar as outras religiões: os muçulmanos, os budistas, os taoistas, os confucionistas. Qualquer que seja a religião do outro, temos de o respeitar. Quando temos a perfeita noção de que a nossa vida é um milagre, de que podemos ser uma dádiva para os outros, ajudando-os a nutrir pensamentos positivos, estaremos a agir não como indivíduos, mas como uma comunidade. Numa era de individualismo, é muito importante fazer parte de uma comunidade. Significa que deixamos de estar sozinhos. Mesmo em termos espirituais, é importante não estar sozinho. Quando nos aproximamos do outro, estamos também a aproximarmo-nos da revelação do Espírito Santo.

CLFoi um dos principais impulsionadores da Universidade Católica da Eslovénia, um projecto que começou a ser idealizado há cerca de dez anos. Em que pé está esse processo?

D.A.J.– A Eslovénia é uma das antigas repúblicas do que foi a Jugoslávia. Está situada na região mais ocidental da antiga Jugoslávia, junto à Itália, à Áustria, à Suíça e à Hungria. A influência destes países sempre foi muito forte na Eslovénia. Na antiga Jugoslávia era impossível abrir escolas privadas, fossem elas escolas primárias, secundárias ou Universidades. O Governo temia a influência das escolas privadas. Quando a Eslovénia se tornou independente, em 1991, abrimos escolas primárias e secundárias. Agora estamos a trabalhar com o propósito de criar uma Universidade Católica. Estamos muito gratos à Universidade de São José e ao seu reitor, e estamos também a trabalhar com o padre Stephan Rothlin, director do Instituto Ricci. É muito importante estabelecer e reforçar uma Universidade Católica. Começámos com uma das faculdades e vamos lançar outra no próximo ano. Espero que nos próximos anos possamos colocar em funcionamento três departamentos, para que possamos pedir ao Governo esloveno luz verde para nos tornarmos formalmente uma Universidade. Neste momento somos formalmente um instituto católico. Estamos a trabalhar passo-a-passo com o propósito de alcançar esse objectivo. Temos alunos, temos acordos de cooperação com instituições europeias e norte-americanas, e agora também temos mecanismos de cooperação tanto com o Instituto Ricci como com a Universidade de São José.

CLDe que forma é que a Universidade pode ajudar a reforçar o Catolicismo na Eslovénia? De que forma é que pode fazer com que as pessoas regressem ao seio da Igreja?

D.A.J.– Esse é outro dos desafios que temos em mãos. O Papa Francisco já disse por várias vezes que a Igreja não pode esperar que os fiéis venham aos nossos gabinetes. Compete-nos ir ao encontro das pessoas, ir ao encontro das gerações mais jovens. A nossa missão passa por respeitar as pessoas, as decisões que tomam e a liberdade delas. Por vezes perguntam-me porque razão necessitamos de uma Universidade Católica na Eslovénia. O que lhes digo é que necessitamos de pluralidade porque só sendo plurais é que conseguimos ser melhores. Este é um desafio tanto para a Universidade de Ljubljana como para a Universidade Católica. A nossa missão é formar e educar ao nível pessoal, mas a comunidade, uma vez mais, é algo muito importante. Uma das mais importantes áreas em que nos movimentamos é no domínio da arte: da organização de concertos, de exposições. Através da arte ensinamos uma outra linguagem aos nossos alunos; uma linguagem que todos falam actualmente.

CLDe que forma é que a Universidade de São José e o Instituto Católico da Eslovénia podem cooperar no sentido de crescerem mutuamente?

D.A.J.– Empreendemos um diálogo muito profícuo há dois anos. Conheci o reitor da Universidade de São José há dois anos e agora voltei a encontrar-me com ele. Tivemos a oportunidade de discutir este aspecto do reforço da cooperação e discutimos o intercâmbio tanto de professores como de alunos. Numa fase inicial este processo vai abranger um número limitado de estudantes. Também discuti com o padre Stephan Rothlin a possibilidade de cooperar com o Instituto Ricci de Macau. A Faculdade de Teologia do Instituto Católico da Eslovénia e o Instituto Ricci vão interagir através da Internet. Estou grato tanto à Universidade de São José como ao Instituto Ricci. O padre Peter Stilwell vai a Ljubljana em Abril e o director da Faculdade de Estudos Religiosos também deverá visitar as nossas instalações. Este processo de cooperação é já uma realidade e eu estou muito grato por isso.

Marco Carvalho

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