Aquele que renunciou para O seguir
Dia 21 de Setembro é dia de São Mateus, Apóstolo e Evangelista, um dos que directamente esteve ao lado de Jesus, pois foi um dos Doze Apóstolos escolhidos por Jesus de Nazaré. Também é conhecido por Mateus Levi (assim lhe chamam os evangelistas Marcos e Lucas), Levi de Alfeu ou Mateus Apóstolo, filho de Alfeu. Era oriundo de Cafarnaum, nas margens do lago de Tiberíades, na Galileia, onde terá nascido nos alvores do Século I (d.C., claro). Morreu provavelmente no ano de 68, dizendo uns que na Etiópia, outros junto ao lago de Issik-Kul, no actual Quirguistão, bem perto da China.
Mateus, etimologicamente, provém do Grego, “Mathaios” (Ματθαιος), o qual deriva do Aramaico “Mattai”, forma abreviada do Hebraico “MattanYah”, que significa “presente de Yah” (abreviatura de Yahveh, ou Javé).
A tradição cristã e a maioria dos documentos históricos primários escritos no mesmo século atribuem a Mateus a autoria de um dos quatro Evangelhos canónicos, dito de (São) Mateus, originalmente escrito em Aramaico. Algumas críticas secundárias actuais relativizam essa atribuição, defendendo que é mais provável que o texto tenha sido compilado pelo Apóstolo alguns anos depois dos acontecimentos em torno de Jesus, utilizando notas escritas em Aramaico.
São Mateus era publicano, cobrador dos impostos exigidos pelos romanos aos judeus. Quando Jesus o viu um dia sentado à mesa, contando os dinheiros colectados pela cobrança de impostos, chamou-o para ser um dos Doze (cf. Mt., 9, 9ss). O mesmo episódio é também narrado nos restantes Evangelhos sinópticos (cf. Mc., 2, 14ss; Lc., 5, 27ss). São Mateus é o oitavo na enumeração dos Actos dos Apóstolos (cf. Act., 1, 13) e na do próprio Mateus (cf. Mt., 10, 3), que quando se nomeia refere-se a si mesmo como “Mateus, o publicano”, além de ser o sétimo na lista de São Marcos e São Lucas (cf. Mc., 3, 13; Lc., 6, 12). Na iconografia das suas representações artísticas, devido à sua profissão, constam como os seus atributos um saco de dinheiro ou um tabuleiro de contagem. Mas devido ao começo do seu Evangelho, a sua representação no Tetramorfo (iconografia figurativa dos quatro evangelistas) é um anjo ou menino. Ao começar a narrar a genealogia humana de Jesus, Mateus é responsável pelo “rosto humano” do terceiro Vivente (cf. Ap., 4, 7), razão pela qual um homem alado é o símbolo do seu Evangelho. Este simbolismo foi estabelecido por São Jerónimo.
Depois da Ascensão de Jesus, São Mateus pregou durante vários anos na Judeia e nas regiões circundantes até à dispersão dos Apóstolos. Pouco antes desta dispersão, terá escrito o seu Evangelho, sendo o primeiro dos quatro, como testemunha Pápias, bispo de Hierápolis, que é citado na História Eclesiástica por Eusébio de Cesareia (historiador romano de origem judaica): “Mateus ordenou (compôs) as palavras (logia) do Senhor na língua hebraica, e cada um então os interpretou (traduziu) como pôde”. O seu Evangelho foi escrito em Aramaico e é dirigido principalmente aos judeus. Existe a tradição de que o Apóstolo São Bartolomeu terá levado uma cópia para a Índia, onde a deixou.
Conhecemos um pouco mais de Mateus a partir dos Apócrifos, que nem sempre coincidem. O corpo de textos apócrifos sobre o Apóstolo concentra-se no Evangelho de Pseudo-Mateus, que é uma compilação do Século VII de três outros textos: “Evangelho de Tiago”, “Fuga para o Egipto” e “Evangelho da Infância de Tomé”. Os Apócrifos aludem a que Mateus, depois de pregar na Judeia (região em torno de Jerusalém), foi pregar entre os Partos e os Persas, mas sobretudo, posteriormente, na Etiópia, onde supostamente terá derrotado dois mágicos que eram adorados como deuses e dragões. As mesmas fontes referem que depois ressuscitou a filha de um rei do Egipto (ou Hegésipo). No seguimento das mesmas tradições, surge a notícia do seu martírio na Etiópia, por se opor ao casamento do rei Hircíaco com a sua sobrinha Ifigénia, que se convertera ao Cristianismo através da pregação do Apóstolo. Foi morto ao fio da espada quando rezava aos pés do altar depois da Missa, o que lhe confere outro dos atributos da sua iconografia: a espada, que por vezes se transforma em alabarda ou machado. Outras fontes dizem que morreu de causas naturais, aludindo-se à hipótese da Ásia Central, acima referida.
São Mateus é o padroeiro dos banqueiros e dos contabilistas, ou de profissões ligadas a finanças. Mateus é o pecador, o homem materialista e do dinheiro que respondeu ao chamamento de Jesus sem hesitar e seguiu-O para sempre, como Apóstolo, como evangelista, como pregador e missionário.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa