SÃO LUCAS É CELEBRADO A 18 DE OUTUBRO

SÃO LUCAS É CELEBRADO A 18 DE OUTUBRO

O Evangelista da Virgem e da Misericórdia

Segundo Colossenses 4, 14, «o médico amado» Lucas (ou “luminoso”, “iluminado”, do Latim “luce”, ou “luz”), o autor do terceiro Evangelho, seria médico, mas não há certezas. Há mais evidências de ter nascido em Antioquia, no seio de uma família pagã, ao que parece culta e abastada, além de etnicamente grega, embora com ancestralidade siríaca. Terá sido solteiro a vida toda, que não se sabe em que ano terá começado (entre os anos 1 e 16). A sua morte (talvez entre 84 e 100) adveio quando tinha 84 anos, na Beócia, actual Grécia. Terá sido sepultado em Tebas da Beócia, pois as suas relíquias dali foram trasladadas para Constantinopla, por ordem imperial, nos meados do Século IV.

Foi um dos primeiros convertidos ao Cristianismo, tendo sido amigo de São Paulo, de quem foi fiel companheiro e discípulo durante muitos anos, acompanhando-o até à sua prisão em Roma. Lucas narra detalhadamente os acontecimentos impressionantes que aconteceram com Paulo em quatro das suas viagens. Lucas acompanhou Paulo quando este estava preso, primeiros dois anos em Cesareia e depois outros dois em Roma. Lucas é o único escritor do Novo Testamento que não é judeu, sendo grego, como vimos.

Muitos referem que terá sido o autor dos Actos dos Apóstolos, uma espécie de continuação do seu Evangelho. Os primeiros Padres da Igreja referem-no como autor do Evangelho e dos Actos, autoria que Eusébio de Cesareia e São Jerónimo confirmam, ainda que haja muitas incertezas para tal consideração. Lucas escrevia em Grego; foi homem muito culto e de refinada capacidade literária, tal como a leitura dos seus textos confirma.

Além de pretensamente médico, recai sobre Lucas a tradição de ter sido pintor. São Lucas é por isso o padroeiro dos médicos e dos pintores. Um autor do Século VI afirma que a Imperatriz Eudóxia enviara, um século antes, a Santa Pulquéria, uma imagem de Nossa Senhora pintada em Jerusalém por Lucas. Se foi Lucas, não sabemos com segurança, mas a autoria da dita obra é-lhe atribuída. Por outro lado, as descrições de Lucas nas suas narrativas inspiraram muitos artistas, sobretudo pintores.

Lucas, no prólogo do seu Evangelho, informa que o escreveu para que os cristãos conhecessem melhor as verdades nas quais haviam sido instruídos. Era mais um historiador, portanto, escrevendo principalmente para os gregos. Como muitos relatavam os acontecimentos tal como os tinham ouvido contar a “aqueles que foram as primeiras testemunhas e ministros da palavra”, também lhe pareceu “depois de ter estudado os acontecimentos desde o começo”, que os deveria referir numa narração ordenada. Lucas (1, 3) revela que foi informado “de tudo exactamente desde a sua origem primeira” e escreveu para deixar um registo do que era a tradição oral do seu tempo (1, 4). Não há dúvida de que uma das suas principais fontes de informação foi o próprio Paulo, sendo também muito provável que tenha recebido relatos de Maria Mãe de Jesus, especialmente sobre a infância do Senhor. Lucas é, de facto, o único que no-la narra, com algum pormenor. Pelas notícias sobre o Menino e sua Mãe, foi chamado de Evangelista da Virgem. Assim, a tradição atribui-lhe, também por isso, o facto de ter pintado o primeiro retrato de Maria.

Lucas também é chamado de Evangelista da Misericórdia, por ser o único que nos traz as parábolas do Filho Pródigo, do Dracma Perdido, do Bom Samaritano, etc. Dante dizia de Lucas que é de entre os autores bíblicos “aquele que descreve a bondade de Cristo”. Demonstra ainda uma grande estima pelas mulheres. Todas as mulheres que surgem nos seus textos são gentis, com Jesus a demonstrar-lhes sempre grande apreço e verdadeira compreensão.

O terceiro Evangelho foi escrito em Roma, no final do primeiro cativeiro de São Paulo, ou seja, entre os anos 62 e 63. Os seus destinatários são os cristãos das igrejas fundadas pelo Apóstolo dos Gentios, assim como Mateus se dedicou mais especialmente a mostrar aos judeus o cumprimento das antigas profecias feitas em Cristo. É por isso que para muitos exegetas o Evangelho de São Lucas contém um relato da vida de Jesus que se pode considerar como o mais completo de todos e feito especificamente para os ditos “gentios”. No seu tempo, eram maioritariamente de cultura e língua gregas, recorde-se.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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