PAIS DA IGREJA (1)

PAIS DA IGREJA (1)

Precisamos de alguém para explicar as Sagradas Escrituras?

Há alguns anos, um amigo que acabava de ser designado para outra paróquia contou-me que uma das primeiras coisas que fez, ao chegar à igreja, foi tentar procurar «ovelhas perdidas». Quando conheceu uma delas, perguntou-lhe por que havia começado a frequentar uma igreja protestante. Foi esta a resposta: «– Padre, lá nós estudamos a Bíblia».

«– Mas aqui partilhamos a Bíblia!», respondeu o meu amigo.

«– Padre, não quero que a Bíblia seja partilhada. Quero que seja explicada!».

Este episódio lembra-nos a história do diácono Filipe?

«Ao que ele se levantou e partiu. No caminho encontrou um eunuco etíope, alto oficial, administrador de todos os tesouros de Candace, rainha dos etíopes. Esse homem viera a Jerusalém para adorar a Deus e, retornando para casa, sentado na sua carruagem, ia lendo o livro do profeta Isaías. E aconteceu que o Espírito disse a Filipe: “Aproxima-te e acompanha essa carruagem”. Então Filipe correu para a carruagem, ouviu o homem a ler o profeta Isaías e perguntou-lhe: “Compreendes o que estás a ler?” Ao que ele replicou: “Como poderei compreender, a não ser que alguém me explique?” E pediu a Filipe que subisse e se sentasse ao seu lado» (Actos 8, 27-31).

Sim, a menos que alguém nos guie, não podemos entender as Escrituras. São Pedro escreveu: «Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, porquanto, jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens santos falaram da parte de Deus, orientados pelo Espírito Santo» (2 Pedro 1, 20-21).

É por isso que precisamos ler as Escrituras «na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade» (I Timóteo 3, 15).

Além disso, São João também nos diz que «Jesus realizou ainda muitas outras maravilhas. Se todas elas fossem escritas uma por uma, acredito eu que nem mesmo o mundo inteiro seria capaz de conter os livros que se escreveriam» (João 21, 25). Muitas das palavras e acções de Jesus incluem explicações que Ele próprio deu aos Seus apóstolos, a quem ordenou: «Enquanto estiverdes Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda criatura» (Marcos 16, 15). Reparem que Ele lhes disse para pregarem, não para escreverem. Jesus não distribuiu cópias gratuitas dos Evangelhos. Foi a Igreja quem reuniu as contas e determinou quais eram confiáveis e pertenciam à Tradição Apostólica.

Então, qual o objectivo? A questão é que não podemos procurar a mensagem cristã e a sua explicação apenas nas Sagradas Escrituras. As Sagradas Escrituras são apenas uma parte daquilo que foi transmitido pelos Apóstolos. E sim, precisamos de alguém para explicar as Sagradas Escrituras. Toda a mensagem cristã está na Tradição Apostólica (“tradição” vem do Latim “tradere”, que significa “transmitir”). “A Tradição Apostólica é a transmissão da mensagem de Cristo, realizada desde as origens do cristianismo, mediante a pregação, o testemunho, as instituições, o culto, os escritos inspirados. Os Apóstolos transmitiram aos seus sucessores, os Bispos, e, através deles, a todas as gerações até ao fim dos tempos, tudo o que receberam de Cristo e aprenderam do Espírito Santo” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 12).

Daí que São Paulo insista: «Portanto, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas por nós, seja por palavra, seja por carta» (2 Tessalonicenses 2, 15).

A Tradição abrange ensinamentos falados e escritos. A Igreja explica: “A Tradição Apostólica realiza-se de duas maneiras: mediante a transmissão viva da Palavra de Deus (chamada também simplesmente a Tradição) e através da Sagrada Escritura que é o próprio anúncio da salvação transmitido por escrito” (CCIC nº 13).

Nesta nova série de artigos semanais, iremos explorar a “transmissão viva da Palavra de Deus”, para que – como diz São Paulo – «Cristo habite por meio da fé em vosso coração, a fim de que arraigados e fundamentados em amor,vos seja possível, em união com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade dessa fraternidade,e, assim, entender o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que sejais preenchidos de toda a plenitude de Deus. Àquele que é poderoso de realizar infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou imaginamos, de acordo com o seu poder que age em nós,a Ele seja a glória na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, por toda a eternidade. Amém!» (Efésios 3, 17-21).

Pe. José Mario Mandía

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