A SEMANA SANTA E O TRÍDUO PASCAL

SAIBA MAIS SOBRE A SEMANA SANTA E O TRÍDUO PASCAL

Da Redenção à Nova Criação

Sendo o ponto alto da Semana Santa para os católicos o Tríduo Pascal, iremos fazer com o professor de Sagradas Escrituras Brant Pitre um breve percurso com Jesus nos Seus últimos dias, dentro da Semana Santa, que começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo da Ressurreição. Recuperamos uma reflexão do professor Pitre, pensada inicialmente para os seus alunos seminaristas e que foca o Tríduo Pascal. Foi gravada pelo Augustine Institute onde lecciona.

Antes de nos debruçarmos sobre os dias do Tríduo Pascal, sublinhamos algumas notas do professor Pitre, que nos recorda que Jesus realizou inúmeras “coisas” na semana iniciada no Domingo de Ramos. O académico coloca o Mistério Pascal, sob a luz do Antigo Testamento (AT), ligando-o às raízes judaicas da Semana Santa.

O Domingo de Ramos leva-nos à entrada humilde de Jesus em Jerusalém montado num jumento (Zacarias, 9:9). Sobre a Segunda-feira e Terça-feira Santas, Pitre lembra que Jesus realizou “coisas” muito significativas nestes dias e coloca duas questões: Primeiro: «Por que Jesus amaldiçoou a figueira, não sendo a época de dar fruto?». Segundo: «Por que se revoltou no Templo?». A resposta para o sucedido no Templo está no AT, em Isaías: «A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos» (Isaías, 56:7). No futuro Templo, na profecia de Isaías, Pitre realça que Jesus irá inaugurar um novo sacerdócio.

Quanto à figueira, o estudioso recorda que na tradição judaica era considerada a árvore do conhecimento do bem e do mal. «Jesus não só amaldiçoou a figueira, mas disse que nunca mais ninguém coma dela. Jesus não é somente o novo Salomão, o novo David, mas é o novo Adão», afirma e conclui: «E vem a Jerusalém não só para inaugurar o Reino de Deus, mas para destruir os efeitos da queda».

Já na Quarta-feira Santa, o dia é marcado pela traição de Judas Iscariotes (Marcos, 14:10-11).

TRÍDUO PASCAL

Quinta-feira Santa– Pitre remete-nos para a preparação da Última Ceia: «É importante debruçarmo-nos sobre esta questão: Jesus deu as indicações aos seus discípulos como fazerem. A maioria das pessoas sabe que a Páscoa é a festa dos judeus que celebra o Êxodo do Egipto» (Êxodo, 12). No primeiro século d.C., a Páscoa era assinalada com um sacrifício no Templo, que só podia ser feito em Jerusalém e era oferecido pelos sacerdotes. «Por isso temos um número elevado de peregrinos na cidade todos os anos pela Páscoa. A tradição judaica dos primeiros séculos fala-nos como era o sacrifício do cordeiro. É importante perceber a tradição judaica para entender o porquê de Jesus enviar os Seus discípulos para prepararem a Páscoa», refere Pitre.

No templo, durante o sacrifício do cordeiro, os sacerdotes colhiam sangue do pescoço do animal para um cálice dourado. O cálice passava então de sacerdote em sacerdote e era derramado na base do altar. Depois de retirada a pele de cada cordeiro, estes eram colocados em duas varas, em formato de cruz. «Todos estes cordeiros eram tipologias do que ia acontecer ao Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo», explica o professor.

Aquando da celebração da Páscoa, os apóstolos esperavam ver em Jesus algo ligado à Tradição, mas Ele deu-lhes novas palavras: «Enquanto eles comiam, tomou um pão e, pronunciando a bênção, partiu-o, deu-lho e disse: “Tomai, este é o meu corpo”. Tomando, então, um cálice e dando graças, deu-lho e todos beberam dele. E disse-lhes: “Este é o meu sangue da aliança, derramado em favor de muitos”» (Marcos, 14:22-25). Segundo o nosso académico, «Pedro e João tinham ido ao Templo e visto sangue do sacrifício do cordeiro pascal ser derramado. Jesus aponta-nos aqui à cruz e ao sangue do cordeiro; Ele o verdadeiro Cordeiro Pascal que derramará o Seu sangue».

Após a Última Ceia, depois de entoarem hinos, dirigiram-se ao Monte das Oliveiras. Na continuidade da sua reflexão, Pitre coloca-nos de novo perante o significado de mais um acontecimento: Jesus dirige-se ao jardim do Getsémani. «Tendo Jesus um lugar seguro, por que se dirige ao Monte das Oliveiras? Por que inicia a Sua agonia no Jardim do Getsémani, lugar onde as azeitonas eram prensadas e se extraía o azeite? Na tradição judaica era algo profundo – um eco do Éden – pois do mesmo modo que a figueira era considerada a árvore do conhecimento, também se acreditava que a oliveira era a árvore da vida». Por que Jesus inicia a Sua Paixão no Monte das Oliveiras? O professor responde: «Porque Jesus é o novo Adão, que inaugura uma nova criação. Ele vai dirigir-se para a nova árvore da vida, que será o madeiro da cruz. Não se pode obter o azeite sem prensar a azeitona. É o que vai acontecer no Jardim: Ele começa a ser “prensado”, pelas nossas iniquidades e pecados que carrega. Pelas Suas dores e feridas somos curados; inicia a redenção do mundo num lugar que ecoa o Paraíso da queda – Adão traz a queda num jardim, Jesus traz a redenção num jardim».

Sexta-feira Santa– A reflexão do professor Pitre está agora no momento em que Jesus morre na cruz: «Um dos soldados trespassou-lhe o lado com uma lança; e saiu imediatamente sangue e água» (João, 19:31-35). Ora, por que razão é João tão enfático na narrativa? «Está ligado ao Templo, à tradição judaica, sendo que João também é judeu. Todos os anos na Páscoa, por altura do sacrifício dos cordeiros, via-se um leito de água e sangue sair do lado do Templo. João, vendo o Senhor na cruz, reconhece o sinal, a revelação: Jesus é o novo Templo, Ele é o Verdadeiro Templo, a Morada viva de Deus na Terra; Deus feito homem, Deus Encarnado». No Templo da Jerusalém terrestre a água e o sangue fluía do altar. Pitre conclui pois que «se o Corpo de Jesus é o Templo, o Seu Sagrado Coração é o altar. Não é só o que Jesus sofreu pela nossa redenção, mas ultimamente é o quanto nos ama, como nos dizem as Escrituras: O amor cobre uma multitude de pecados».

Sábado Santo– Embora Jesus esteja morto no túmulo, Ele está a cumprir as Escrituras. E é neste ponto que o professor Brant Pitre lança de novo algumas questões: «Qual o significado do Sábado Santo? Qual o significado da sepultura? Por que esperaram até Domingo? Por que não foram ver o corpo no Sábado?». E dá a resposta: «Para os judeus do primeiro século, o Sabbath não era Domingo mas Sábado». O Sabbath fazia referência ao sétimo dia da semana (Génesis), em que Deus completou o trabalho da criação e a seguir descansou. E «o que Deus-homem faz no Sábado da Sua última semana?». Resposta: «Descansou no túmulo. Ele é obediente à Lei, mesmo na morte. Aqui descansa não pelo trabalho de Criação, mas de Redenção. Prepara o que irá concretizar, consumar, no Domingo, que para um judeu é o primeiro dia em que Deus criou o mundo».

Para o académico, o túmulo encontrado vazio no primeiro dia da semana (Domingo) representa o começo da nova criação, que teve lugar no mesmo dia do começo da antiga criação. Por outras palavras, Pitre resume assim a missão do Salvador: «Jesus não veio ao mundo só para dar a Sua vida no Calvário pelos nossos pecados, mas veio também para inaugurar uma nova criação. Onde não haverá mais sofrimento, dor e morte».

Miguel Augusto

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *