PÁSCOA, UM CONVITE PARA ENCONTRAR A LUZ

PÁSCOA, UM CONVITE PARA ENCONTRAR A LUZ

O que dizem os fiéis?

Redenção, reflexão e renovação. O mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo é um convite aos católicos de todo o mundo para que repensem a relação que mantêm com Deus, com os outros e com eles próprios – e os católicos de Macau não são excepção! O CLARIMesteve à conversa com três fiéis, para quem a mensagem pascal é, sobretudo, uma mensagem de empoderamento.

«A atitude correcta de um cristão é estar sempre a recomeçar, a começar de novo». Para o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro, a aventura da fé é, antes de mais, um convite ao aperfeiçoamento contínuo, à renovação e redenção, e poucos períodos são tão propícios ao renascimento como a Páscoa da Ressurreição.

Segundo o docente e investigador da Universidade de São José (USJ), a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo é sinónimo de penitência, de caridade e de remissão, mas, fundamentalmente, de um necessário e sincero exame de consciência, um tempo de paragem para ponderar a relação que mantemos com Deus, com os outros e connosco próprios. «A Páscoa é um período de renovação cristã e, portanto, é um período de meditação também sobre aquilo que fizemos, no sentido de ver aquilo que podemos melhorar para o futuro», assume Francisco Vizeu Pinheiro. «É também um tempo de penitência, para acompanharmos o percurso de Cristo nesta Semana Santa, desde o Domingo de Ramos até ao Calvário. A ideia é a de acompanhar Nosso Senhor neste período difícil desta semana, neste período de trevas, para depois podermos com Ele encontrar a luz, para podermos encontrar a luz da Ressurreição», complementa o académico.

O convite para que se acolha e se ouça a Palavra de Deus com o coração aberto é o aspecto que mais agrada a Gabriela Chaves na mensagem de redenção imanente ao período do Tríduo Pascal. A jovem, que a 23 de Maio recebe o Sacramento da Confirmação, participou, esta semana, num dia de reflexão na igreja de Nossa Senhora do Carmo com o propósito de se preparar para o salto de fé a que se vai submeter. «É um passo muito importante. É uma oportunidade que nos é dada para mostrarmos que acreditamos na Palavra de Deus e que fazemos parte da comunidade cristã», sublinha. «Quanto à Páscoa, é um período muito importante para mim e para a minha família, porque é um período em que podemos reflectir e pensar nas coisas boas que Deus nos dá. É um bom momento para ponderar sobre o alcance da Mensagem de Deus», remata.

A participação em dias de reflexão, como aquele em que participou Gabriela, ou em retiros mais prolongados, como o que é organizado amanhã e no sábado pela paróquia de Nossa Senhora de Fátima, na Vila São José, em Coloane, constituiu uma oportunidade para o exame de consciência de que Vizeu Pinheiro se revela apologista. O arquitecto não vai participar em nenhum dos retiros de preparação para a Páscoa da Ressurreição que a diocese de Macau promove por estes dias (o Cartório do Sé, por exemplo, acolhe também amanhã e sábado um retiro direccionado para a comunidade lusófona), mas já tem agendada a participação numa iniciativa da índole que vai decorrer no final do mês de Abril: «Vou participar num outro retiro que vai ter lugar em Coloane, em língua inglesa, no final de Abril. É um retiro um bocado mais longo de três dias. Vou participar nesse retiro, embora eu já tenha estado noutros retiros no princípio do ano», revela o docente da USJ. «Fazendo um ponto de comparação com as revisões dos automóveis, é importante ver como é que o carro está em termos de óleo, de motor, como é que estão os pneus. O retiro é um tempo para pensarmos em nós próprios e em Deus e na relação que mantemos com o próximo, porque normalmente as pessoas não têm tempo para isso. É preciso que as pessoas tenham calma e tempo para pensar exclusivamente não só na sua vida, como também nas verdades eternas: na morte, no céu, no purgatório, no Inferno. Para procurar perceber que rumo estamos a dar à vida, se estamos mais perto de Deus ou se nos estamos a afastar Dele», defende.

Para Armindo Vaz, funcionário do Banco Nacional Ultramarino (BNU) e dirigente do Grupo de Escuteiros Lusófonos de Macau (GELMac), a mensagem da Páscoa da Ressurreição é, sobretudo, uma mensagem de empoderamento, de fraternidade e de humildade. Católico devoto, Armindo cumpre «sem grande custo» as indicações da Igreja Católica relativas à prática do jejum e da abstinência, mas mais importante do que cumprir preceitos e rituais é colocar em prática os fundamentos da mensagem de Cristo. «A Páscoa é precedida pelos quarenta dias da Quaresma, que é um tempo de conversão pessoal e de preparação para a Páscoa. Tradicionalmente, há o jejum e a abstinência durante as sextas-feiras da Quaresma. Jejum significa privação de alimentos, pelo que é recomendado que os católicos, entre os dezoito e os sessenta anos, façam apenas uma refeição completa durante o dia. Abstinência, por sua vez, significa fazer uma refeição simples e pobre, nomeadamente em carne. Como católico faço isso sem grande custo», refere Armindo Vaz. «Entendo, no entanto, que mais importante que isso é a abstinência preconizada pelo Papa Francisco: abster-se de palavras que ferem e usar palavras de simpatia, abster-se da tristeza e mostrar-se cheio de gratidão, abster-se da raiva e ser cheio de paciência, abster-se do pessimismo e ser cheio de esperança, abster-se das preocupações e ter fé em Deus, abster-se de queixumes e contemplar a simplicidade, abster-se de pressões e orar, abster-se do azedume e encher o coração de alegria, abster-se do egoísmo e ser compassivo, abster-se das palavras e escutar», acentua.

Se bem que a mensagem se prefigure como o essencial do percurso que culmina no Domingo da Ressurreição, os rituais associados a alguns dos momentos fulcrais do Tríduo Pascal tem um significado muito próprio e, como tal, considera Francisco Vizeu Pinheiro, devem ser vistos como parte fundamental do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. «Os rituais não deixam de ser símbolos, mas há um significado ligado a esses símbolos. O lavar dos pés evoca, sobretudo, a humildade de Cristo, que ensina os apóstolos a servirem uns aos outros. Tem a ver também, na Quinta-feira Santa, com a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. São um reviver ou um reactuar dos momentos críticos da vida cristã e acho, por isso, que são importantes», conclui o professor.

Marco Carvalho

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