Qual o significado das três novas invocações a Nossa Senhora?
Nas primitivas comunidades, os cristãos visitavam-se mutuamente para se fortalecerem na fé. A primeira destas visitas aconteceu quando a Igreja de Jerusalém enviou Paulo e Barnabé à Igreja de Antioquia para confirmar a fé dos crentes e afirmar a unidade da Igreja. Depois, na era apostólica e nos três primeiros séculos cheios de perseguições, os cristãos deslocavam-se entre comunidades louvando o Senhor com orações e súplicas que constituíam uma verdadeira ladainha. Assim nasceu, desde o alvor do Cristianismo, a Ladainha de Todos os Santos. Esta ladainha é constituída por três partes. Na primeira parte, a invocação de Maria e de todos os Santos reconhecidos e de todos os mártires que tinham dado a vida pelo Senhor. A essa invocação os cristãos respondiam: Ora pro nobis(rogai por nós). Na segunda parte, a súplica para as grandes dificuldades do tempo presente a que os cristãos estavam sujeitos. A estas súplicas respondia-se: Te rogamus, audi nos(rogamos-Te, ouvi-nos). Na terceira parte, o louvor que é sempre devido a Deus pelos benefícios que os cristãos sentiam ser-lhes concedidos. Todos respondiam: Laudamos Te Domine(nós Te louvamos Senhor). Esta ladainha tornou-se uma oração muito querida da Igreja. Por isso, em todos os grandes actos litúrgicos, como na ordenação sacerdotal, no Baptismo e na Confirmação, se reza, ao menos em parte, a Ladainha de Todos os Santos.
Em 1291, diz a tradição que os anjos transportaram de Nazaré a casa de Nossa Senhora para a cidade de Loreto, em Itália. Estudos históricos parecem confirmar que não foram os anjos a trazer esta simbólica casa para aquela cidade italiana, mas sim o chefe de uma cruzada que, com os seus companheiros, quiseram trazer do Oriente aquele símbolo de Maria para terras de Itália. Esse chefe de cruzadas chamava-se De Angelis, o que se converteu, na tradição, serem os anjos quem transportou a casa de Maria. Desde os finais do Século XIII até hoje, o Loreto tem sido um lugar privilegiado de peregrinações onde os romeiros multiplicavam orações de súplica e de louvor. Por isso, através dos séculos, foi-se construindo a Ladainha Lauretana, ladainha de louvor a todos os títulos de Maria. São expressões teológicas de valor fundamental para os cristãos, são símbolos icónicos da grandeza de Maria e, sobretudo, são preces para a intercessão da Senhora.
Os três últimos Papas consagraram algumas marcas fundamentais do Cristianismo: João Paulo II instituiu o Domingo da Misericórdia, a partir das visões de Santa Faustina Kowalska; Bento XVI escreveu uma encíclica lindíssima em que afirma claramente que somos salvos pela esperança, Spe salvi; Francisco não se cansa de dizer a todos que é preciso cuidar dos mais pobres, sobretudo hoje, dos migrantes e dos refugiados. Estas são marcas dos últimos Papas.
Por esta razão, o Papa Francisco acaba de adicionar mais três intenções à Ladainha de Nossa Senhora: Mãe da Misericórdia, Mãe da Esperança e Conforto dos Migrantes. De facto, Nossa Senhora é ponte da Misericórdia de Deus. Esta Misericórdia que é superior a todo o pecado. Por outro lado, Maria é indiscutivelmente a Mãe da Esperança num mundo com tantos problemas em que Nossa Senhora não só acompanha o sofrimento dos homens mas dá-lhes a confiança para saírem desses mesmos sofrimentos, atingindo no fim a Bem-Aventurança.
Os pobres mais pobres são hoje certamente os migrantes, emigrantes, sobretudo os que atravessam os mares, os que são acolhidos em campos de autêntica concentração, aqueles a quem as portas são fechadas em toda a parte. Estas intenções, queridas do Papa Francisco, devem ser vividas por todos os cristãos na sua vida de todos os dias. Tenho um gosto pessoal muito grande por invocar Nossa Senhora na sua Ladainha Lauretana e gosto de, pelo momento da minha vida, invocar Nossa Senhora em quatro títulos que me são muito queridos: Maria Saulus Infirmorum(Saúde dos Enfermos), Refugium Peccatorum(Refúgio dos Pecadores), Mater Divinae Gratiae(Mãe da Divina Graça) e, finalmente, Regina Coeli(Rainha dos Céus).
Pe. Vítor Feytor Pinto
Sacerdote da paróquia do Campo Grande, em Lisboa
In Família Cristã