Evangelizar por todos os meios possíveis
Sacerdote, editor e autor. O padre Luís Erlin, da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, dirige a editora Avé Maria, uma das maiores e mais antigas do Brasil. Ao longo dos últimos 125 anos, os livros que lançou ajudaram a aproximar milhões de brasileiros à Palavra de Deus, por meio da publicação da Bíblia ou de Catecismos que têm como protagonistas os personagens do universo da Turma da Mônica. O sacerdote claretiano em entrevista a’O CLARIM.
O CLARIM – Para além de escritor, o padre Luís Erlin é o actual director da editora Avé Maria, que completou 125 anos em 2023. Esta editora é, pois, um nome incontornável naquilo que é o esforço de evangelização no Brasil…
PADRE LUÍS ERLIN – Sim. A editora Avé Maria surgiu dois anos depois da chegada dos Missionários Claretianos ao Brasil e está intimamente ligada à presença dos claretianos. A Avé Maria, de forma ininterrupta, é uma das editoras mais antigas não só da Congregação, mas também do Brasil, tanto do ponto de vista religioso, como do ponto de vista secular. Começou por publicar uma revista, que se chamava Revista Avé Maria e que chegava a diversas localidades às quais os missionários não conseguiam chegar. A ideia de fundar um Meio de Comunicação no Brasil surgiu, justamente, devido à dimensão territorial do Brasil. O Brasil é um país gigante e os missionários eram poucos. A ideia de querer evangelizar, de chegar a muitos corações, fez com que os claretianos tivessem essa preocupação, que era a mesma de Santo Antonio María Claret: a de evangelizar por todos os meios possíveis. Hoje, a editora está bem consolidada. Publicámos, no final da década de 50, começo da década de 60, a primeira Bíblica Católica no Brasil, em Português. Antes havia fascículos. A Bíblia era como se fosse cadernos, sendo publicada por várias editoras. A Avé Maria conseguiu fazer uma tradução, antes do Concílio Vaticano II, o que é um facto bastante interessante e colocou essa Bíblia nas mãos das pessoas. O meu pai teve uma Bíblia Avé Maria e por desejo de poder ler a Bíblia, de ter um contacto mais próximo com a Palavra de Deus, pediu à minha mãe, que sabia ler, que o ensinasse. Ele foi aprendendo a ler com as páginas da Bíblia Avé Maria.
CL – Como autor, o padre Luís tem feito um esforço para dar a conhecer a figura de Nossa Senhora. É importante despertar os fiéis para a dimensão mais humana da Virgem Maria?
P.L.E. – Eu trabalho na editora como director, mas tenho a possibilidade de evangelizar também através da escrita. Tenho muitos livros publicados. Neste momento, tenho cerca de trinta livros publicados. O “Nove Meses com Maria” é um dos livros mais conhecidos no Brasil e fora do Brasil. É uma novena, não de nove dias, mas de nove meses, que acompanha a gestação de Nossa Senhora. Aprendi esta devoção com a minha mãe. A minha mãe fazia esta devoção de uma maneira muito simples e eu tive a ideia, inspirado, com certeza, pelo Espírito Santo, de escrever um livro sobre isso. É como se fosse um diário de Nossa Senhora grávida. Nossa Senhora vai contando o seu dia-a-dia, não de mulher santificada, no altar, mas de uma mulher que aspirava à Santidade. Uma mulher, claro, imaculada, à espera do Salvador da humanidade, mas ao mesmo tempo cheia daquilo que povoa também os nossos corações: os nossos medos, as nossas ansiedades. Eu vou procurando, ao longo de nove meses, ler a alma e o coração desta mulher. E, assim, vamos aprendendo, com Nossa Senhora também, a fazer uma experiência de Advento, um advento prolongado, para que possamos ter a possibilidade de também dar à luz a Jesus, na nossa vida e na vida das pessoas que amamos. Este livro vendeu à volta de quinhentas mil cópias no Brasil e foi traduzido para diversos idiomas.
CL – Há um outro tipo de literatura, com a mão do padre Luís, mais direccionada para as crianças. Foi fácil convencer Maurício de Sousa a colocar a Mônica, o Cascão e o Cebolinha ao serviço da Palavra de Deus?
P.L.E. – O Maurício de Sousa tem uma relação muito antiga com a editora Avé Maria. No final da década de 60, por causa da ditadura militar, o Maurício de Sousa perdeu o emprego nos grandes Meios de Comunicação no Brasil e bateu à porta de casas editoriais ou de pequenas revistas; e a editora Avé Maria, a Revista Avé Maria, acolheram o Maurício. Ele começou a ilustrar, no final da década de 60, a página infantil da revista. Isto levou a que Maurício de Sousa começasse a ter uma grande identificação, uma grande proximidade com a editora, que acolheu o Maurício num momento de grande dificuldade na sua vida e na vida da sua família. Na década de 70, o Maurício de Sousa, juntamente com um padre, que se chama Elias Leite, colaboraram na criação de um catecismo católico, que foi publicado pela editora Avé Maria. Este livro chama-se “Jesus é Nosso Amigo” e tornou-se o livro mais vendido do Maurício de Sousa e também da editora na história das duas empresas. Depois, o Maurício tentou fazer novos trabalhos com a editora e nós conseguimos retomar este diálogo, depois de eu ter começado a trabalhar na editora como director e também como escritor. Há praticamente quinze anos, lançámos juntos o primeiro livro: o “Jesus Nos Ensina a Viver”. É um livro de bolso, pequenino, que foi publicado para procurar perceber se aquela ressonância que o primeiro livro teve em 1973 ainda se mantinha, ao fim de tantos anos. O livro foi um sucesso! O Maurício pede-nos com regularidade novos materiais e desde então já escrevemos seis livros em parceria, apoiados e editados pela editora Avé Maria. Está a nascer agora um novo projecto. Vamos lançar na Bienal de São Paulo – que é uma feira do livro gigantesca – no mês de Setembro, um outro livro que escrevemos juntos e que é sobre a história de Jesus.
CL – Desta visita a Macau, poderá surgir algum tipo de sinergias? Vamos ter a Turma da Mônica a explicar a Palavra de Deus às crianças chinesas?
P.L.E. – Seria, sem dúvida, muito interessante. O Maurício de Sousa tem uma parceria muito grande na Ásia com o Japão. Parece-me que um dos livros dele foi traduzido para o mercado chinês. Possibilidades existem e seria um prazer enorme, conseguirmos fazer, de facto, não só negócios, mas também parcerias na Evangelização. Posso propor essa ideia ao Maurício e quem sabe não conseguimos estabelecer algo real e concreto, talvez produzindo algo específico para este público aqui. Em Portugal, fizemos o lançamento de um dos livros. É um dos livros que escrevi com o Maurício que melhores resultados têm obtido e que é “A Minha Primeira Bíblia com a Turma da Mônica”. É um livro em que as crianças representam as principais passagens da Sagrada Escritura. Quem sabe não podemos pensar também em estender esta parceria, aqui, para esta região?
Marco Carvalho