Somos pessoas da Páscoa

REFLEXÃO

Somos pessoas da Páscoa

São Paulo escreve: «Recorda-te de Jesus Cristo, ressurreto dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu Evangelho» (2 Tim., 2, 8). A Ressurreição de Cristo é o mistério central da nossa fé. Professamos no Credo: “Ao terceiro dia, Ele ressuscitou dos mortos”. Nós, crentes no Senhor Crucificado e Ressuscitado, proclamamos a Boa Nova (cf. Act., 13, 32-34), a notícia de “primeira importância” (cf. 1 Cor., 15, 3-4): o Senhor ressuscitou! Por isso, somos Povo Pascal e o nosso cântico é o Aleluia!

A RESSURREIÇÃO ÚNICA DE JESUS – A Ressurreição de Cristo está intimamente ligada à Sua encarnação e ao cumprimento da Encarnação. É totalmente diferente das outras “ressurreições” que o mesmo Senhor havia feito (e que, mais tarde, alguns santos fizeram pelo poder de Deus). Aqueles que ressuscitaram da morte voltaram à sua vida terrena e finita e, mais tarde, morreram com finalidade.

A Ressurreição de Cristo é absolutamente única. Jesus voltou à vida, não para uma vida terrena, mas para uma vida divina, incorruptível e gloriosa. Como é bela e consoladora a descrição da morte feita por São João Evangelista: «Sabia Jesus que havia chegado o tempo de Deus, em que partiria deste mundo e iria para o Pai» (Jo., 13, 1). O nosso Salvador ressuscitou da morte por Seu próprio poder e vontade, ou pelo poder do Pai, ou do Espírito Santo, mas por um poder que é também o poder de Jesus.

Depois da paixão e morte de Jesus na cruz, os primeiros discípulos estavam deprimidos, tristes, desmoralizados (recordemos os dois discípulos de Emaús). Com uma atitude negativa compreensível, os Apóstolos não podiam inventar de todo uma ressurreição, pois seria então uma “notícia falsa”. A fé dos primeiros discípulos na Ressurreição seguiu um processo gradual. Todo o processo começa com o túmulo vazio (cf. Jo., 20, 2.6-8; CIC nº 640). O episódio do túmulo vazio é imediatamente seguido por cerca de dez aparições de Jesus glorioso aos Apóstolos, que confirmam e reforçam a sua fé no Senhor ressuscitado: é o mesmo Senhor crucificado, agora gloriosamente diferente, mas o mesmo Jesus, Deus e homem. Através deste processo gradual, alguns discípulos duvidaram, mas depois acreditaram firmemente.

Para reforçar a nossa fé na Ressurreição de Jesus, temos testemunhas muito credíveis. Em primeiro lugar, os Apóstolos e os outros discípulos. Estes proclamaram a Palavra, centrada na Morte e Ressurreição de Jesus, de uma forma incrivelmente ousada e alegre. Pedro e João são convidados pelas autoridades religiosas judaicas a não falarem no nome de Jesus. Pedro responde-lhes: «Pois não podemos deixar de falar de tudo quanto vimos e ouvimos!» (Actos, 4, 20).

Como é que as primeiras comunidades cristãs demonstraram que tinham experimentado a presença transformadora de Cristo? Simplesmente, sendo fiéis a Jesus e ao Seu Evangelho: “Permaneciam fiéis ao ensinamento dos apóstolos, à fraternidade, à fracção do pão e à oração (…). Partilhavam a comida com alegria e generosidade, louvavam a Deus e eram admirados por todos” (cf. Actos, 2, 42-47).

Com os primeiros discípulos, milhões e milhões de cristãos, ao longo dos séculos, proclamaram com palavras e actos que o Senhor ressuscitou! Graças a Deus, estamos entre esses discípulos e sabemos que a melhor maneira de manifestar a nossa fé no Senhor Ressuscitado – ontem, hoje e sempre– é o “seguimento fiel de Jesus” (J. M. Pagola).

Nós somos testemunhas da Ressurreição. Experimentámos a presença do Ressuscitado, estamos plenamente convencidos pela fé de que Ele vive e que nos é pedido que demos testemunho: que falemos ao mundo do Seu amor.

O NOSSO ENCONTRO COM O SENHOR RESSUSCITADO – Acreditamos na Ressurreição de Cristo porque o nosso Deus misericordioso nos concedeu o dom maravilhoso da fé! A fé no Senhor Ressuscitado é um encontro pessoal com Ele.

A nossa fé em Jesus pede-nos que sejamos testemunhas da Sua ressurreição, que possamos dizer “eu vi o Senhor”, isto é, que experimentei um encontro com o Senhor ressuscitado. A nossa fé não é sobretudo uma doutrina ou uma moral, mas a experiência pascal: o encontro pessoal com Jesus nos Sacramentos da Igreja, na Eucaristia, nos pobres, na oração comunitária e pessoal… Sobretudo, no amor – o amor de Jesus em nós: «Nós amamos porque Ele nos amou primeiro» (1Jo., 4, 19). E com o amor de Jesus, somos capazes de amar a todos: «Sabemos bem que passámos da morte para a vida, porque nos amamos uns aos outros» (1 Jo., 3, 14). Por isso, não devemos viver para nós próprios, «mas para aquele que por nós morreu e ressuscitou» (2 Cor., 5, 15).

Como crentes, estamos empenhados em ser testemunhas do Senhor Ressuscitado no nosso mundo: um mundo de consumismo irracional, de ateísmo crescente, de ideologia de género, de ideologia das alterações climáticas, de transumanismo, de nacionalismo populista, de injustiça, de violência e de desigualdade. Para esta tarefa espantosa, precisamos rezar sempre e ser compassivos. Mas de uma coisa temos a certeza: Cristo vence!

A nossa fé viva na Ressurreição de Cristo e na nossa própria ressurreição cresce mais fervorosamente – como a fé dos primeiros discípulos – gradualmente, pouco a pouco, como a erva no campo. Cresce praticando o amor em boas acções concretas: um acto de bondade, um sorriso sincero, uma presença silenciosa, um gesto de preocupação amorosa, uma palavra humilde de consolação, uma oração de petição, um acto de desprendimento.

Pedro Reyero, OP, que foi um carismático, zeloso e ardente, relaciona maravilhosamente a Ressurreição de Cristo com as três virtudes teologais. Para ele, as virtudes da fé, da esperança e da caridade são sementes da Ressurreição de Jesus em nós. Dizia-nos num retiro: “Na fé, Deus ilumina a nossa miséria – os nossos pecados – que nos escandaliza e nos leva à humildade. Na esperança, Deus leva-nos a procurar os bens do céu e não os bens da terra; Deus ajuda-nos a rejeitar os ídolos. Na caridade, Deus cura o nosso egoísmo para fazer de nós homens e mulheres novos para os outros. É este o caminho da ressurreição”.

A Páscoa chama-nos a uma vida nova e renovada, que significa morte para o pecado e vida no amor. Se eu quiser realmente viver uma vida nova e caminhar na novidade de vida que conduz à glória do céu, então acredito verdadeiramente na Ressurreição do Senhor e na minha própria ressurreição. Nós somos cidadãos do céu. Aqui na terra, somos peregrinos que um dia partirão para a casa do Pai.

Na verdade, somos o Povo da Páscoa e o nosso canto é o Aleluia!

Pe. Fausto Gomez, OP

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