Práxis de Paz: a paz no nosso mundo – 1

REFLEXÃO

Práxis de Paz: a paz no nosso mundo – 1

Como seres humanos, como cidadãos de uma nação e do mundo, como cristãos, estamos empenhados em trabalhar pela paz – pela paz interior e social –, por praticar a paz por meio da vida. Todos desejamos a paz, e São Tomás acrescenta: “Desejamos obter o que desejamos”.

Na perspectiva humana, todos os homens e mulheres de bem terão que trabalhar pela paz. O Vaticano II diz: “Absolutamente necessárias para a edificação da paz são ainda a vontade firme de respeitar a dignidade dos outros homens e povos, e a prática assídua da fraternidade”, que “nunca se alcança duma vez para sempre, antes deve estar constantemente a ser edificada” (Gaudium et spes nº 78). Verdadeiramente, a paz é um dom de Deus e uma tarefa urgente para todas as pessoas. Os fiéis de todas as religiões são chamados a ser artesãos da paz, “a trabalhar juntos pelo bem comum e pela promoção dos pobres” (Papa Francisco, Fratelli tutti).

Na perspectiva cristã, a paz é um dom de Deus e uma tarefa dos seus filhos. É uma graça de Deus através de Jesus e uma responsabilidade para com as pessoas e os povos enraizada na graça divina do Espírito Santo. A paz terrena “é imagem e fruto da paz de Cristo, o ‘Príncipe da Paz’ messiânico” (Catecismo da Igreja Católica nº 2305). A paz é uma das bem-aventuranças e um fruto do Espírito Santo.

Qual é, então, a nossa tarefa para a paz no mundo e nos nossos respectivos países e regiões? A tarefa da paz é a pacificação! O dom da paz de Deus é como uma semente que deve produzir progressivamente frutos de verdade, justiça, liberdade, amor e compaixão. A teoria da paz impele-nos à prática – ou práxis – da paz, isto é, à pacificação no nosso mundo.

A seguir deixo-vos a minha receita, simples, para a pacificação, que preparei para mim mesmo e desejo compartilhar.

Nesta primeira coluna, apresentamos os dois primeiros requisitos para a pacificação no nosso mundo de hoje.

1– ESTEJA EM PAZ CONSIGO PRÓPRIO E COM DEUS:

Para estar em paz com os outros, tenho que estar em paz comigo mesmo, ou seja, tenho que ter paz pessoal: o corpo sob o espírito e as paixões sob a vontade, pelo menos substancialmente: “A paz começa dentro dos nossos corações” (Paulo VI). “Sem paz interior, não posso dar paz aos outros como cristão, é pedido a um discípulo” (cf. Lc., 10, 5-6).

Para estar em paz comigo mesmo, eu (um pecador) preciso estar em paz com Deus. Pecado é divisão, ruptura e escravidão. São Tomás de Aquino diz que não pode haver paz verdadeira sem a graça santificadora. Eu tenho que estar em paz com Cristo. Cristo é a nossa paz, Gregório de Nissa: “Visto que pensamos em Cristo como a nossa paz, só podemos chamar-nos verdadeiros cristãos se as nossas vidas expressarem Cristo através da nossa própria paz”.

O caminho da paz através de meios pacíficos começa, como sublinha São João da Cruz, com a obtenção da paz interior. Para alcançar a paz interna, os apetites, as más tendências e os vícios devem ser pacificados. O místico escreve: “Onde o apetite e a concupiscência não dominam, não há perturbação, mas paz e consolação”.

Para trabalhar eficazmente pela paz, tenho de possuir a verdadeira paz, isto é, a paz de Deus. Como diz a letra da conhecida canção: “Haja paz na terra e comece por mim”. Lembro-me das palavras de São Serafim: “Adquira a paz interior e milhares ao seu redor encontrarão a libertação”.

2– ESTEJA EM PAZ COM A SUA FAMÍLIA E A COMUNIDADE PRÓXIMA:

Assim como o amor ao próximo se pratica, em primeiro lugar, com os vizinhos mais próximos, também a paz social deve ser vivida, em primeiro lugar, em paz, com os membros da minha família, da minha paróquia, da minha associação profissional, da minha comunidade. A família humana, em particular, é uma comunidade de paz. (ver Bento XVI, Mensagem de 1 de Janeiro de 2008). Das origens da Ordem Dominicana vem esta história: Os visitantes provinciais dos conventos tinham o dever de verificar três coisas: Primeiro, se os frades viviam em paz uns com os outros. Segundo, se eram constantes nos estudos. Terceiro, se eram fervorosos na sua pregação.

Para estar em paz com os outros, tenho que ser justo com eles e amá-los. Tenho que perdoá-los e pedir-lhes perdão. Uma vez recebi um lindo cartão de um amigo, um cartão com esta mensagem: “Perdoar e ser perdoado faz o mundo novo a cada dia”.

Continuo a repetir para mim mesmo: pronuncio grandes palavras sobre a paz. Mas significam pouco se na minha vida comunitária eu for intolerante, ou injusto, ou farisaico, ou desamoroso, ou implacável. Para ser um pacificador como membro da comunidade, tenho que ser respeitoso, honesto, atencioso, misericordioso, paciente e não violento em pensamentos, palavras e acções. Tenho que ser dialógico, não dogmático; democrático, não autoritário; aberto, não fechado dentro de mim. Devo praticar a fraternidade: todos os outros são meus irmãos e irmãs. O Papa Francisco diz a mim e ao leitor: “A fraternidade é o fundamento da paz e um caminho para a paz” (Fratelli tutti).

Pe. Fausto Gomes, OP

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