Testemunhos da Ressurreição de Jesus
São Paulo diz-nos: «Se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como igualmente é improdutiva a vossa fé» (1 Cor., 15, 14). Cristo ressuscitou e, portanto, a nossa fé é o verdadeiro fundamento da nossa vida, a nossa esperança aponta para a nossa própria ressurreição e a nossa caridade conduz-nos à casa do Pai – ao céu.
O cerne da fé cristã é a fé na Ressurreição de Cristo: “A fé cristã permanece ou cai com a verdade do testemunho de que Cristo ressuscitado dos mortos” (Bento XVI, “Jesus de Nazaré”).
O SIGNIFICADO DA RESSURREIÇÃO DE JESUS
São Pedro proclama o conteúdo central da pregação apostólica, o evento “Jesus”: o Senhor sofreu, morreu e ressuscitou – e vive! (Actos 10, 34, 37-43). São Paulo prega a boa nova (At., 13, 32-33) contida no emblemático hino que era comummente recitado pelas primeiras comunidades cristãs: “Entreguei-vos antes de mais nada o que por minha vez recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, conforme as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, e que apareceu a Cefas, depois aos doze” (cf. 1 ou 15, 3-5; 2 Tm., 2, 8).
Na Sua vida terrena, Jesus trouxe de volta à vida (ressuscitação) a filha de Jairo (Mc., 5, 34-43), o filho da viúva de Naim (Lc., 7, 11-15), e Lázaro, irmão de Maria e Marta (Jo., 11, 38-44). Os três morreram duas vezes: ressuscitados por Jesus desde a primeira morte, os três morreram uma segunda e última morte inevitável.
A Ressurreição de Cristo é muito diferente! Jesus voltou à vida: não para uma vida terrena, mas para uma vida incorruptível e gloriosa, “além do tempo e do espaço”. Escreve o Papa Bento XVI: “Ele era bem diferente, não um mero cadáver ressuscitado, mas um vivo novo e para sempre no poder de Deus… Jesus é o mesmo homem encarnado, e é o novo homem, tendo entrado num modo diferente de existência. Jesus não voltou simplesmente à vida biológica normal: Jesus não é um fantasma, e os encontros com o Ressuscitado não são o mesmo que experiências místicas, que são uma questão de momentos” (Bento XVI).
Segundo Guardini, há duas diferenças principais entre o Senhor antes da Ressurreição e o Senhor depois da Ressurreição. Um: Ele não vem mais e vai; e “aparece” e “desaparece” com rapidez perturbadora, sem mais barreiras de tempo e espaço. Dois: os Evangelistas sublinham que “é o mesmo Jesus de Nazaré: não mero espírito, mas o Senhor corporal que viveu entre eles”. Os Apóstolos vêem as Suas “feridas”. Os discípulos no barco dizem, erroneamente, que ele é um fantasma, e o discípulo amado, com razão, que «Ele é o Senhor» (cf. Jo., 21, 1-14). Além disso, sublinha Guardini, “Deus se fez homem e permanece homem por toda a eternidade”: “o Senhor eterno, entronizado à direita do Pai, é o mesmo Jesus de Nazaré, o Jesus terreno, humano” (Romano Guardini, In “O Senhor”).
Graças ao dom imerecido da fé em Deus, cremos na Ressurreição de Cristo. Nós professamos: “Ele ressuscitou dos mortos ao terceiro dia” (Credo; cf. Mt., 17, 22). E porque cremos na Ressurreição de Jesus, também cremos na nossa ressurreição pessoal: Cristo é “o primogénito de entre os mortos” (Cl., 1, 18-19); a Sua ressurreição é a garantia da nossa própria ressurreição (1 Cor., 15, 20-21). Com efeito, “a Sua ressurreição é a nossa ressurreição para a vida” (Prefácio Pascal II). Palavras para reflexão: “Se não experimentamos ‘dentro de nós’ a paz e a alegria que Jesus dá, é difícil encontrar ‘fora de nós’ provas da Ressurreição” (J. A. Pagola). A nossa ressurreição “consiste na transformação da totalidade do nosso ser, espírito e carne, pelo poder recriador do amor de Deus” (Guardini).
Não vimos o Senhor Ressuscitado como os Apóstolos. Somos gratos a Tomé por duvidar e, assim, incitar as palavras de Jesus: «Bem-aventurados os que não viram e acreditaram» (Jo., 20, 29). Estas palavras foram-nos dirigidas. Elas representam – para alguns – a nona bem-aventurança.
TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO DE JESUS
O tempo de transição entre a Ressurreição de Jesus e a Ascensão ao Céu não foi longo. como proclamam os quatro Evangelhos e São Paulo. “Acima de tudo, tratava-se de reunir um círculo de discípulos que pudessem testemunhar que Jesus não ficou na sepultura, mas que continua vivo. O seu testemunho é uma missão essencial: devem anunciar ao mundo que Jesus está vivo – que é a própria Vida” (Papa Bento XVI).
O Ressuscitado disse aos Apóstolos: «Contudo, recebereis poder quando o Espírito Santo descer sobre vós, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra!» (At., 1, 8).
Para fortalecer a nossa fé na Ressurreição de Jesus, temos as testemunhas mais credíveis: os Apóstolos. E como a experiência da Ressurreição os impactou! Antes da Páscoa, estavam com medo e tristes. Depois da Páscoa, depois do Pentecostes, proclamaram com coragem e alegria, a morte e a Ressurreição de Cristo; sofreram terrivelmente e pagaram o prémio final: o martírio.
Como é que as primeiras comunidades cristãs demonstraram ter experienciado a presença transformadora de Cristo? Como? Simplesmente por serem fiéis a Jesus e ao Seu Evangelho: “Permaneceram fiéis à doutrina dos apóstolos, à fraternidade, ao partir do pão e às orações…” (Actos, 2, 42, 46-47). Os incrédulos daquela época costumavam dizer dos seguidores de Jesus: “Vejam como eles se amam”.
Com os primeiros discípulos, os cristãos ao longo dos séculos proclamaram em palavras e acções que o Senhor ressuscitou! Como Pedro e João, discípulos de hoje não podem ser silenciados: «Não podemos deixar de falar de tudo quanto vimos e ouvimos!» (Actos 4, 20).
Palavras para reflexão: Uma testemunha é uma pessoa “que primeiro vê e depois mostra” (W. Barclay, Mc., 9, 2-8); “Somente testemunhas autênticas podem falar, com credibilidade, a palavra salvadora” (São João Paulo II). Temos visto o Senhor? O povo da Páscoa viu o Senhor.
Que incrível! Somos pessoas da Páscoa e o Aleluia é a nossa canção! Aleluia, isto é, Louvai ao Senhor: “Louvai a Deus com todo o vosso coração, não é só a vossa língua e a vossa voz que o deve louvar, mas a vossa consciência, a vossa vida, as vossas obras” (Santo Agostinho, “Comentários aos Salmos”).
Pe. Fausto Gomez, OP