Queridíssimos: que Jesus me guarde as minhas filhas e os meus filhos!

A 25 de Junho celebraram-se os setenta anos da ordenação sacerdotal de D. Álvaro. E dentro de poucos dias comemoraremos o aniversário do seu pedido de admissão na Obra, a 7 de Julho de 1935. Estas efemérides ajudam-me a recordar o exemplo do meu amadíssimo predecessor, com o seu interesse atento, constante em se ocupar das necessidades espirituais e materiais das almas.

Desde a sua primeira juventude, D. Álvaro levou muito a sério umas palavras do Mestre, que S. Mateus cita quando fala do juízo final. Refere como o Senhor convida os justos a fazer parte da Sua felicidade, e fundamenta a Sua decisão no facto de terem ajudado na Terra os mais necessitados: tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber (…). Em verdade vos digo, que tudo quanto fizestes a um só destes meus irmãos mais pequeninos foi a Mim que o fizestes.

Sabemos que a chamada de D. Álvaro ao Opus Dei, naquele dia 7 de Julho de 1935, vinha a ser preparada pela acção da graça no seu coração e pela sua caridade fraterna com todos, concretamente também com os necessitados. Desde 1934, ia com frequência, acompanhado por outros amigos que já conheciam o Opus Dei, a um bairro da periferia de Madrid, onde dava catequese e visitava pobres e doentes. Parece-me que podemos afirmar que o seu primeiro contacto com S. Josemaria foi uma consequência directa dessas actividades, em que não faltava o ingrediente do sacrifício. Já sabeis como, um dia, depois de ter dado catequese a crianças de uma paróquia com esses amigos, foi assaltado por um grupo de anti-católicos, que lhe deram um golpe forte na cabeça com uma chave inglesa. Isso provocou-lhe graves ferimentos e uma infecção muito dolorosa, que se prolongou por vários meses e lhe deixou como sequela uma forte dor nevrálgica, que por vezes lhe aparecia de novo. Jamais se queixou desse problema, nem guardou o mais pequeno rancor aos que o tinham provocado. E mais, raramente se referiu em público a este episódio da sua vida.

Bem sabeis como o nosso Padre impulsionou sempre em todo o mundo numerosas iniciativas em favor dos mais desfavorecidos, e D. Álvaro seguiu o mesmo caminho. Quando se reunia com grupos de adultos ou de gente nova, animava-os a ocupar-se dos mais necessitados, promovendo projectos para ajudar a satisfazer as necessidades educativas, sanitárias, laborais, etc. e, de forma concreta, para aproximar as pessoas de Deus e que elas se aproximassem d’Ele. Fomentou também esta responsabilidade entre empresários, industriais, banqueiros e, em geral, entre homens e mulheres que dispunham de meios económicos. Falava-lhes da necessidade de iniciarem ou de ampliarem esse tipo de iniciativas, que deviam considerar como um dever, consequência da justiça e da caridade que há-de fazer parte de toda a actuação cristã, e de um amor sincero a todos os nossos irmãos e irmãs da humanidade.

Nas suas viagens pastorais, não era raro que, animado pelo desejo de melhorar as condições materiais ou profissionais dos sítios que visitava, estimulasse os fiéis e cooperadores da Obra a perspectivar novas ideias nessa linha de acção. Assim aconteceu, entre outros casos, em 1987, durante a sua estadia nas Filipinas, ao presenciar as necessidades de inúmeros desfavorecidos. Sugeriu aos que o ouviam que promovessem centros de formação profissional e de assistência social em Cebu e Manila, os quais agora funcionam como uma realidade admirável. Noutras ocasiões, sabia acolher os pedidos da hierarquia eclesiástica, que conhecia o coração sacerdotal de D. Álvaro. Aconteceu no Congo, durante a viagem pastoral a esse país em 1989. A instâncias do Presidente e do Secretário da Conferência episcopal, animou alguns fiéis e cooperadores da Obra – que já impulsionavam um dispensário médico – a pensar, com responsabilidade pessoal e profissionalismo, na possibilidade de o transformarem num centro hospitalar, do qual pudessem beneficiar, além das populações locais, os sacerdotes, religiosos e religiosas, também de outros países, que trabalhavam nessa zona. Este projecto está a funcionar com grande eficácia, e oferece assistência especializada no âmbito hospitalar e em regime de ambulatório a milhares de pessoas.

Animado pela vibração apostólica de difundir a prática da doutrina social da Igreja, D. Álvaro recomendou a organização de escolas com sentido cristão, para a formação de empresários e dirigentes, como já S. Josemaria tinha feito. Mas não se conformou com a sua implementação apenas em países desenvolvidos, insistindo em que esses projectos se promovessem também nos países em vias de desenvolvimento, consciente da sua importância para a resolução dos problemas originados pelas excessivas desigualdades sociais.

Na sua constante atenção aos pobres e marginalizados, o Romano Pontífice reafirmou que se refere a todos os necessitados, próximos e distantes. O Evangelho é para todos! Este ir ao encontro dos pobres não significa que devemos tornar-nos “pauperistas”, ou uma espécie de «mendigos espirituais»! Não, não, não significa isto! Significa que devemos caminhar em direcção à carne de Jesus que sofre, mas a carne de Jesus também sofre naqueles que não O conhecem com os seus estudos, com a sua inteligência, com a sua cultura. É lá que devemos ir! Por isso, gosto de usar a expressão «ir às periferias», às periferias existenciais. Todas, da pobreza física e real à pobreza intelectual, que é também real. Todas as periferias, todas as encruzilhadas: ir lá. E aí, lançar a semente do Evangelho, com a palavra e com o testemunho.

Com todo o afecto, abençoa-vos

o vosso Padre

+ Javier

Pamplona, 1 de Julho de 2014

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