Padre Ramon Manalo, superior-delegado em Macau da Sociedade de São Paulo

«Abertura religiosa levará o seu tempo»

A congregação paulista, prestes a comemorar cem anos de existência, não desistiu do sonho de evangelizar na China continental. A «abertura religiosa levará o seu tempo», referiu a’O CLARIM o padre Ramon Manalo, acrescentando que vê a presença em Macau como «uma espera activa». O superior-delegado da Sociedade de São Paulo na RAEM elogiou o papel da Comunicação Social, ao realçar a sua importância para a missão da Igreja Católica.

O CLARIMA 20 de Agosto de 1914, poucas semanas após eclodir a Primeira Guerra Mundial, o padre italiano Giacomo Alberione fundou a obra que viria a ser o gérmen da Sociedade de São Paulo e dos dez institutos da Família Paulista. O seu objectivo era evangelizar através dos meios de Comunicação Social. Como vê o movimento?

RAMON MANALO – Vejo-o com mais visibilidade do que se previa há cem anos, porque actualmente há uma Comunicação Social próspera. Na verdade, é um grande poder. Mas antes não era! A Comunicação Social é hoje, mais ou menos, o palco central do progresso da humanidade. Sem ela penso que até o foco da Igreja – levar a palavra de Cristo a unir as pessoas – passaria por dificuldades.

CLEstará a Família Paulista no bom caminho?

R.M. – Estamos no caminho ideal, e a abrir novas casas em várias partes do mundo, inclusivamente em África.

CLA Sociedade de São Paulo está em Macau desde 1987. A principal ideia era utilizar o território como ponte para a entrada no continente chinês. Foi um sucesso?

R.M. – Sim e não, porque presentemente estamos na República Popular da China. Já estivemos em Nanjing… De alguma forma, o nosso sonho era voltar a ter uma presença no continente, mas a nossa realidade agora é aqui, em Macau.

CLDepreendo que o sonho ficou aquém das expectativas…

R.M. – Não necessariamente. O sonho existe, mas de alguma forma foi desviado. Há uma realidade concreta: Estamos na China, porque Macau é parte integrante da República Popular da China.

CLNão serão 27 anos muito tempo?

R.M. – Consideramos toda e qualquer aprendizagem como um processo para toda a vida. Estamos a intensificar a nossa presença ao termos em Macau clérigos da Sociedade de São Paulo, das Filhas de São Paulo (gerem a Livraria de São Paulo) e do Instituto de Nossa Senhora da Anunciação, enquanto em Hong Kong estão membros das Pias Discípulas do Divino Mestre, das Filhas de São Paulo, do Instituto de Nossa Senhora da Anunciação e do instituto dos Colaboradores Paulistas.

CLQue futuro?

R.M. – A missão está viva e a reentrada é um grande desafio. Tenho esperança que a República Popular da China possa vir a receber os missionários católicos no continente. Tem havido alguma abertura, mas penso que o problema é que se o Governo chinês abrir as portas apenas aos católicos, ou cristãos, e não deixar as outras religiões entrar…. Há que entender esta importante questão, porque a China é um enorme e vasto país. A abertura religiosa poderá acontecer, mas levará o seu tempo. Para nós, a presença em Macau é uma espera activa.

CLUma espera activa…

R.M. – Sim! Estamos focados na aprendizagem da língua, dos costumes e da cultura do povo chinês. Por vezes, as pessoas chinesas têm uma concepção errada sobre os religiosos [católicos], por isso também nos damos a conhecer. Respeitamos as pessoas de diferentes culturas e mentalidades.

CLAlém de superior-delegado da Sociedade de São Paulo, é também o “pároco” da Quase-Paróquia de São Francisco de Xavier, em Coloane. Como está o trabalho pastoral?

R.M. – Está cada vez com mais vida. A população é pequena, mas a nossa igreja recebe muitas pessoas da Taipa, da Península de Macau e turistas, uns crentes, outros não, de Taiwan, de Hong Kong e da China continental, entre outras partes do mundo. Por isso, a missa também é celebrada, simultaneamente, em Cantonense e Inglês.

CLTuristas?

R.M. – Sim. Estes turistas, tal como qualquer outra pessoa, vêm aqui há procura de algo e, para nós, foi o Senhor quem os enviou cá. Talvez encontrem algo. Poderá não ser muito, mas trabalhamos com a psicologia e com a memória das pessoas, porque tenho esperança que depois recordem algo, nem que seja um bocado do que viram. Se assim for, já estamos a ajudar-lhes a descobrir o caminho do Senhor. Acolhemos todos.

CLComo vão comemorar o centenário da Sociedade de São Paulo?

R.M. – No sábado, 23 de Agosto, vai ser concelebrada, pelas 15 horas, uma missa na Sé Catedral, presidida por D. José Lai, Bispo da Diocese. Vamos ter entre nós vários membros da comunidade paulista de Hong Kong.

 

Ao serviço de Deus (Caixa)

O padre Ramon Manalo, natural de Bicol (Filipinas), recebeu o chamamento de Deus aos treze anos (idade da sua entrada no Seminário). Queria ser missionário e foi estudar para Roma, onde recebeu, em 1970, a ordenação sacerdotal do Papa Paulo VI. Esteve algum tempo em Paris, onde estudou a língua francesa, e após regressar às Filipinas foi editor da revista “Youngster”, para jovens. Aceitando o convite para ajudar a estabelecer a presença paulista em Macau, aqui chegou em Março de 1987, sendo um dos três fundadores da comunidade local da Sociedade de São Paulo, juntamente com os sacerdotes Albino Bento Pais (o antigo director d’O CLARIM chegara em 1985) e Edgar Pasaporte (está em Coloane). Nos primeiros anos foi padre-assistente da Paróquia de Fátima, sendo colocado, em 1996, na igreja de São Francisco Xavier, em Coloane. Quanto ao futuro, foi peremptório: «Está tudo nas mãos de Deus. É bom deixá-lo com Ele».

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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