Investigando as fontes

O Evangelho Segundo S. Mateus foi escrito por S. Mateus?

Na semana passada falámos das três formas básicas pelas quais adquirimos conhecimento – através dos sentidos, pela razão e pela .

A segunda forma (razão) necessita da primeira (os sentidos). Por seu lado a terceira (fé) necessita tanto dos sentidos (audição, leitura, e testemunho presencial) como da razão. Para além disso, a fé religiosa, tal como a fé humana, necessita de uma testemunha e esta testemunha é Jesus Cristo. E aqui põe-se a questão: qual a fiabilidade desta testemunha?

No entanto, esta pergunta conduz-nos a outra questão, que deverá ser verificada primeiro. É a veracidade das nossas fontes de informação. Nós católicos acreditamos que Jesus está verdadeiramente, real e substancialmente, presente com o seu Sangue, Corpo e Alma de uma forma Sacramental, na Eucaristia. Mas a sua presença entre nós não é uma presença física – nós não o vemos nem o ouvimos directamente, como os apóstolos fizeram. Assim temos que descobrir se os registos que temos Dele são fiáveis. Se não pudermos confiar no Evangelho, então como poderemos acreditar nas palavras que foram registadas sobre Jesus? (Vamos ter de fazer exercício mental, por isso tomem uma chávena de café.)

Quão credíveis são os Evangelhos? É esta a questão principal. E podemos dividi-la em três perguntas diferentes.

1ª – Os Evangelhos dos nossos dias são os mesmos do início da Igreja? Como poderemos saber? Esta é chamada a questão da integridade.

2ª – Os Evangelhos foram realmente escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João? Esta é a questão da autenticidade.

3ª – Poderiam os quatro autores dos Evangelhos ter registado os acontecimentos, como na realidade aconteceram? Como poderemos saber? Esta é a questão histórica.

Com respeito à primeira questão, há duas áreas a aprofundar. Uma, é verificar se outros autores, nos primórdios da Cristandade, utilizaram os Evangelhos nos seus textos, e então comparar os textos actuais com esses. O que poderemos encontrar? Por razão de falta de espaço não irei citar textos, mas poder-se-ão encontrar centenas de citações dos Evangelhos se se procurar, na Internet, pelos seguintes nomes ou documentos: Didache, Primeira Epístola de Clemente (Clemente foi o 4º Papa), Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Pastor de Hermas, Papias, Ireneus de Lyon, Clemente de Alexandria, Tatiano. Estes são trabalhos ou autores, no decurso dos três primeiros Séculos da Era Cristã, e eles contêm ou usaram os textos que utilizamos hoje.

A outra área a verificar são os manuscritos dos textos em si. Naquele tempo não havia nem “scanners”, nem fotocópias. As cópias eram feitas à mão. E interessamo-nos por três diferentes vertentes. Quantos Manuscritos existiam, se são idênticos uns aos outros, e quais as datas em que foram escritos. (Ainda não bebeu o seu cafézinho?).

Se procurarmos na Internet por “Manuscritos do Novo Testamento” verificaremos que existe um número abundante de manuscritos, os quais comparados entre si contêm apenas pequenas diferenças. Para além disso os manuscritos existentes estão datados a partir do 3º século da Era Cristã. Isso coloca-os muito perto da data dos originais.

Agora comparemos os dados dos manuscritos existentes de outros autores clássicos, como Homero – a Ilíada ou a Odisseia – (século 9º antes de Cristo), Platão – República – (428-374 Antes de Cristo), Cesar – As Guerras da Gália – (100-44 Antes de Cristo). Não são tantos como os manuscritos do Evangelho. E o manuscrito mais antigo dessas obras está datado do Século 5º da Era Cristã. Tem um grande desfazamento temporal entre o original e a cópia. Esse facto torna o Evangelho mais fiável em comparação com os outros clássicos.

Quanto à segunda questão, podemos pesquisar novamente na Internet o que os autores desses tempos ancestrais dizem sobre quem escreveu os Evangelhos. Tente ver os seguintes trabalhos sobre os quatro Evangelhos e os seus respectivos autores nos primeiros três Séculos da Cristandade: Adversus Marcionem (“Contra Marcion”) de Tertuliano, Adversus Haereses (“Contra os Heréticos”) de Ireneus de Lyon (Bispo de Lugdunum, discípulo de Policarpo de Esmirna, por sua vez discípulo do Apóstolo S. João), e Comentário sobre Mateus de Origen.

A obra Adversos Marcionem é interessante porque Tertuliano escreve sobre uma Evangelho espúrio, escrito por um tal de Marcion. Realmente existiram outras obras que pretendiam ser Evangelhos (talvez tenha ouvido falar, há pouco tempo, sobre um “Evangelho de Judas”, “recentemente” descoberto, por exemplo). Mas os primeiros Cristãos, que foram testemunhas oculares da vida, ensinamentos, sofrimento, morte, ressurreição e ascenção de Jesus, sabiam quais as histórias que eram verdadeiras e desfaziam-se das narrativas que não se baseavam nos factos.

E quanto à 3ª questão, a maioria dos trabalhos citados anteriormente e a Historia Ecclesiastica (História da Igreja) de Eusébio da Cesareia, no 3º Século da Era Cristã, autentica os acontecimentos registados pelos quatro autores dos Evangelhos, que foram testemunhados por eles, ou recolhidos de testemunhas presenciais.

O que acabei de dizer aqui é apenas um breve resumo das provas que existem. Mas não confiem na minha palavra. Procurem os dados por vós próprios. Assim que se sentirem seguros de que os Evangelhos podem ser de confiança como um registo histórico, então poderão continuar, e ler o próximo capítulo, na semana que vem.

Pe. JOSÉ MARIO MANDÍA

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